segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Batismo: A Circuncisão Cristã


(Gn 17:1-14; Cl 2:8-15; Mt 28:-18-20; Tt 3:5)

por

Rev. Paulo R. B. Anglada


I. INTRODUÇÃO

O batismo e a ceia do Senhor são os dois sacramentos ordenados por Jesus para serem observados na dispensação da graça. A ceia foi instituída quando da última participação de Cristo na páscoa (Mt 26:26-30) [1]. O batismo está incluído na grande comissão, mencionada em Mateus 28:18-20 e Marcos 16:15-16). Na concepção reformada, “os sacramentos são santos sinais e selos do pacto da graça, imediatamente instituídos por Deus para representar Cristo e seus benefícios, e confirmar o nosso interesse nele, bem como para fazer uma diferença visível entre os que pertencem à Igreja e o restante do mundo, e solenemente comprometê-los no serviço de Deus em Cristo, segundo a sua Palavra. [2]

1. Importância do Assunto

Há algumas questões controvertidas relacionadas ao batismo, especialmente no que diz respeito ao batismo de crianças e ao modo do batismo. Nossos irmãos batistas e pentecostais (a maioria em nosso contexto) não batizam crianças e só reconhecem o batismo por imersão. As outras denominações protestantes históricas (luterana, reformada, anglicana, presbiteriana, metodista, etc.), diferentemente, batizam crianças e reconhecem a legitimidade de ambos os métodos (imersão e aspersão), preferindo o segundo.

Isto, além da prática católica de batizar, indiscriminadamente, qualquer criança, torna necessário que forneçamos as razões das nossas práticas concernentes ao assunto. Este artigo tem como propósito apresentar um resumo da teologia reformada concernente ao batismo, especialmente no que concerne a estas questões controvertidas.

2. O Problema Básico

Do ponto de vista reformado, o erro básico daqueles que não batizam crianças e exigem a imersão consiste em perderem de vista a continuidade da revelação da obra da redenção. A progressividade da revelação da obra da redenção, planejada por Deus na eternidade, não deve eclipsar a sua continuidade.

Antes de mais nada, é preciso compreender que o Antigo e o Novo Testamento não ensinam duas religiões diferentes. A Igreja Cristã não é uma outra igreja. O Apóstolo Paulo revela claramente que a Igreja Cristã não é uma nova árvore, mas apenas um galho enxertado na mesma árvore cuja raiz é Abraão (Rm 11:13-24), o ‘‘pai de todos os crentes’’ (Rm 4:11). Abraão é o pai tanto de incircuncisos como de circuncisos, ‘‘que andam nas pisadas da fé que teve nosso pai Abraão antes de ser circuncidado’’ (Rm 4:11-12).


II. O SIGNIFICADO DO BATISMO

 

1. Não É um Atestado de Salvação

Não é necessariamente o sinal visível de que a pessoa está salva. Não se trata de um rito de admissão pública na igreja invisível, mas na igreja visível — e esta inclui salvos e não salvos:

Nem todos os de Israel são de fato israelitas; nem por serem descendência de Abraão são todos seus filhos; mas em Isaque será chamada a sua descendência. Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa (Rm 9:6-8)

Há diversos exemplos de membros professos da igreja tanto no AT como no NT, os quais foram circuncidados/batizados, mas que nunca experimentaram o lavar regenerador do Espírito Santo. Auxiliares diretos do Apóstolo Paulo, como Demas, abandonaram a fé cristã por amarem o presente século (2 Tm 4:10). Referindo-se a essa classe de pessoas, o Apóstolo João explica que ‘‘Eles saíram do nosso meio (da igreja visível), porque não eram dos nossos (membros da igreja invisível); porque se tivessem sido dos nossos (da igreja invisível), teriam permanecido conosco (na igreja visível); todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos (da igreja invisível)’’ (1 Jo 2:19).

Parece desnecessário provar o que a História da Igreja e a experiência tornam mais do que evidente.


2. Não é Meio de Salvação

O batismo não tem poder divino inerente. Em si mesmo ele não pode regenerar ninguém. Esta doutrina (da regeneração batismal) é ensinada pela Igreja Católica. Para eles, o batismo confere os mérito de Cristo e o poder do Espírito Santo, purificando da corrupção interna, garantido remissão da culpa do pecado e infusão da graça santificadora, unindo o batizado com Cristo, abrindo-lhe as portas dos céus. Na teologia Católico-romana, a eficácia do batismo não depende nem dos méritos do oficiante nem dos méritos do batizado, mas da própria ação sacramental.

Para nós, reformados, entretanto, o batismo não é eficaz em si mesmo; ele não opera uma nova vida; ele a pressupõe e a fortalece, mas não a opera nem garante. Eis o que diz a Confissão de Fé de Westminster:

Posto (ainda) que seja grande pecado desprezar ou negligenciar esta ordenança, contudo a graça e a salvação não se acham tão inseparavelmente ligadas com ela, que sem ela ninguém possa ser regenerado e salvo ou que sejam indubitavelmente regenerados todos os que são batizados.


3. Não é Essencial à Salvação

A Igreja Católica pensa assim, mas nós, protestantes, não. O batismo é obrigatório, por obediência aos preceitos de Deus. E a nossa desobediência a este preceito, naturalmente resultará em empobrecimento espiritual, como acontece com a desobediência a qualquer outro preceito do Senhor.

Entretanto esta concepção do batismo como essencial à salvação é contrária ao caráter espiritual do Evangelho, que não condiciona a salvação à formas externas (Jo 4:21-24). O ladrão arrependido na cruz é evidência incontestável disso. Jesus afirmou que naquele mesmo dia ele estaria consigo no paraíso, sem batismo algum.


4. É a Continuação da Circuncisão

Os dois sacramentos do Antigo Testamento não foram abolidos, mas substituídos.

A páscoa (o sacramento comemorativo da igreja visível) transformou-se na santa ceia, quando Jesus dela participou pela última vez (Mt 26:26-30).

A circuncisão (sacramento de admissão na igreja visível) transformou-se no batismo cristão, visto que não mais havia necessidade de derramamento de sangue, pois o Cordeiro Pascal estava preste a ser imolado. Em Colossenses 2:11-12, o batismo cristão é chamado explicitamente de ‘‘circuncisão de Cristo’’ (o mesmo que circuncisão cristã) :

Nele também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne que é a circuncisão de Cristo; tendo sido sepultados juntamente com ele no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados, mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos.

O argumento do Apóstolo Paulo é evidente: nós cristãos também fomos circuncidados, não com o corte do prepúcio, mas com o batismo cristão que tem a mesma função da circuncisão judaica, podendo portanto até mesmo ser chamado de circuncisão cristã.


5. É o Selo do Pacto da Graça

Já que o batismo cristão corresponde à circuncisão judaica, o batismo é, para a Igreja visível no Novo Testamento, o que foi para a Igreja visível no Antigo Testamento: a confirmação (o sinal visível) da aliança que Deus fez com Abraão, o “pai de todos os crentes.” É exatamente este o papel da circuncisão, conforme as palavras do próprio Senhor a Abraão, quando da instituição desta ordenança em Gênesis 17:1-13:

Quando atingiu Abraão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o Senhor e disse-lhe: Eu sou o Deus todo-poderoso: anda na minha presença e sê perfeito. Farei uma aliança (um pacto) entre mim e ti, e te multiplicarei extraordinariamente... será contigo a minha aliança; serás pai de numerosas nações... estabelecerei a minha aliança (pacto) entre mim e ti e a tua descendência no curso das gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus, e da tua descendência. Disse mais Deus a Abraão: Guardareis a minha aliança, tu e a tua descendência no decurso das suas gerações... Circundareis a carne do vosso prepúcio; será isso por sinal de aliança entre mim e vós. O que tem oito dias será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações, tanto o escravo nascido em casa, como o comprado a qualquer estrangeiro, que não for da tua estirpe. Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa, e o comprado por teu dinheiro; a minha aliança estará na vossa carne e será aliança perpétua.

A circuncisão dos Israelitas e dos prosélitos do judaísmo era, portanto, um sinal externo da aliança de Deus com Abraão, segundo a qual ele (Abraão) e seus descendentes constituiriam a igreja visível de Deus na terra. O batismo cristão, assim como a circuncisão judaica, é, portanto, o sinal externo solene de admissão na igreja visível.

Isto não implica necessariamente em que todos os de Israel (da igreja visível no AT) fossem ou seriam verdadeiros israelitas (membros da igreja invisível), ou seja: que necessariamente fossem ou seriam objeto da graça salvadora. Nem implicava em que aqueles que não fossem de Israel (judeus), não pudessem vir a ser verdadeiros israelitas (membros da igreja invisível).

A circuncisão implicava, sim, em que seriam considerados povo de Deus, e seriam objeto do seu especial cuidado, da sua bênção e da sua revelação. De fato, os compatriotas de Paulo segundo a carne desfrutaram de privilégios especiais, tais como ‘‘a adoção, e também a glória, as alianças (os pactos da graça e da lei), a legislação, o culto e as promessas; deles são os patriarcas e também deles descende o Cristo, segundo a carne...’’ (Rm 9:3-4). Depois de demonstrar a culpabilidade universal (de gentios e judeus), o Apóstolo Paulo pergunta: ‘‘Qual pois a vantagem do judeus? ou qual a vantagem da circuncisão?’’ Ele mesmo responde: ‘‘Muitas, sob todos os aspectos. Principalmente porque aos judeus foram confiados os oráculos de Deus.’’ (Rm 3:1-2).

Conclusão: O batismo, assim como a circuncisão, é o rito ou forma externa determinada por Deus para simbolizar e selar a admissão de pessoas na igreja visível, como beneficiários do pacto da graça e objeto do seu cuidado especial. É verdade que o símbolo pressupõe, em geral, o gracioso lavar regenerador do Espírito Santo pela Palavra (Tt 3:5), por meio do arrependimento e da fé; mas não o opera nem garante.


III. AS CRIANÇAS NO PACTO DA GRAÇA NO ANTIGO TESTAMENTO

A questão realmente importante com relação ao batismo infantil como “a circuncisão cristã” é a seguinte: as crianças foram incluídas como beneficiárias do pacto da graça que Deus fez com Abraão? E a resposta é evidentemente positiva. Na instituição da circuncisão as crianças foram explicitamente incluídas como beneficiárias do pacto da graça, como membros da igreja visível no AT. Por isso deveriam ser circuncidadas: ‘‘O que tem oito dias será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações.’’ (Gn 17:9-12). Não haveria nenhum impedimento em instituir a circuncisão apenas para os adultos! Mas isso não ocorreu. As crianças também foram incluídas, porque era o propósito do Senhor que sua aliança fosse com Abraão e com a sua descendência.

O que precisa ser entendido é que esta aliança que Deus fez com Abraão, chamada pelos reformados de pacto da graça, é a implementação histórica de uma aliança eterna, e nunca foi ab-rogada (anulada). Esta aliança, cujo selo era a circuncisão e agora é o batismo (a circuncisão de Cristo) é anterior à lei de Moisés e portanto continua vigorando. O pacto da lei passou (um adendo), é verdade, bem como suas leis cerimoniais. Mas não a aliança da graça com Abraão, a qual foi instituída cerca de quatrocentos anos antes da lei de Moisés. A aliança com Abraão não passou, é ‘‘aliança eterna’’. As ordenanças, os símbolos dessa aliança, mudaram: primeiro só a circuncisão; depois foi acrescentado a páscoa, e depois ambas foram substituídas pelo batismo e pela ceia do Senhor. Mas a aliança é a mesma.

É isto o que o Apóstolo Paulo afirma em Gálatas 3:17. Demonstrando que a lei de Moisés não pode invalidar a aliança com Abraão, ele diz: ‘‘Uma aliança já anteriormente confirmada por Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois não a pode ab-rogar, de forma que venha a desfazer a promessa.’’

Logo, a aliança mencionada no Novo Testamento não é uma outra aliança, uma aliança recentemente estabelecida, que ab-rogou a aliança feita com Abraão; mas a mesma aliança renovada, por Aquele que é o Mediador da aliança: Jesus (cf. Gl 3:27,29). A palavra usada não é “nevo”, mas “kainov” como em novos céus e nova terra (não outros céus e outra terra, mas estes céus e esta terra renovados).

O fato é que a igreja é a mesma. Somos membros de um mesmo corpo. Somos a ‘‘comunidade de pacto’’. Somos os verdadeiros descendentes de Abraão. ‘‘Os da fé é que são filhos de Abraão’’(Gl 3:7). Somos (a igreja cristã) os ramos que foram enxertados; nos tornamos participantes da mesma raiz e da mesma seiva da oliveira (Rm 11:17). O meio de salvação também não mudou. Somos salvos hoje do mesmo modo como foram os crentes na época do Antigo Testamento; isto é, pela graça soberana de Deus mediante o arrependimento e a fé nas Suas promessas, entre as quais a principal era a vinda do Messias, o Redentor de Israel (Rm 4:1-17). Logo, por que razão os filhos dos membros da nova aliança deveriam ser excluídos da comunidade do pacto, da igreja visível? Por que negar-lhes o selo da pacto: o batismo?


IV. AS CRIANÇAS E O PACTO DA GRAÇA NO NOVO TESTAMENTO

O Novo Testamento exclui as crianças da condição de beneficiárias do pacto da graça? Não, em nenhum lugar do Novo Testamento os filhos dos que pertenciam a aliança — os quais tão enfática e explicitamente nela foram incluídos em Gênesis 17 — foram excluídos. Pelo contrário, há afirmações também explícitas de que continuam incluídos.

1. O próprio Senhor Jesus afirmou que eles pertencem ao seu reino: ‘‘Deixai vir a mim os pequeninos e não os embaraceis, porque dos tais é o reino dos céus’’ (Lc 18:16).

2. Pedro confirma que a promessa os inclui: ‘‘Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos, e para todos os que ainda estão longe’’ (At 2:39)

3. O Apóstolo Paulo reconhece a posição dos filhos como ‘‘santos’’, quando pelo menos um dos pais é crente. Escrevendo aos Coríntios, Paulo orienta os cônjuges que haviam se convertido a não se separarem pelo fato do outro cônjuge continuar descrente dizendo: ‘‘o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, vossos filhos seriam impuros; porém, agora são santos’’ (I Co 7:14)

4. Há ainda exemplos implícitos de sua prática nas páginas do Novo Testamento:

Lídia: o Senhor abriu o seu coração para crer, e logo foi batizada, ela e toda a sua casa (At 16:14,15).

O carcereiro de Filipos: Tendo perguntado a Paulo e Silas o que deveria fazer para ser salvo, eles responderam-lhe: ‘‘Crê no Senhor Jesus, e serás salvo, tu e a tua casa. E lhe pregaram a palavra de Deus e a todos os de sua casa... A seguir foi ele batizado, e todos os seus’’ (At 16:30-33)

Estéfanas: Dentre as poucas pessoas que o apóstolo Paulo havia batizado estava a ‘‘casa de Estéfanas’’ (I Co 1:16)

5. Os Pais da Igreja, de um modo geral, reconhecem e mencionam a prática do batismo infantil. Nove, dentre doze Pais que viveram nos dois primeiros séculos, referem-se à prática do batismo infantil; ex: Justino Mártir (130), Irineu (180), Orígenes (230). Posteriormente, Agostinho afirmou que ‘‘nenhum concílio jamais ordenara o batismo infantil por ser este uma prática que vinha desde os tempos apostólicos; e que nunca ouvira ou lera de alguém na igreja que sustentasse o contrário’’. O Concílio de Cartago recebeu consulta se era lícito batizar crianças antes de oito dias. O que significa que a prática do batismo infantil após o oitavo dia de vida era comum.

6. Deve-se se observar que, se não há exemplo explícito de batismo infantil no Novo Testamento, também não há a menor referência a batismos de adultos nascidos e criados em lares cristãos!


V. OBJEÇÕES


1. Não existe mandamento para batizar crianças

E nem era necessário, pois as crianças (filhos da aliança) sempre foram reconhecidas como membros da igreja visível do Antigo Testamento. Seria de se esperar o contrário: um mandamento para não mais incluí-las na igreja do Novo Testamento. Também não existe mandamento explícito instituindo o domingo como o dia do descanso cristão, nem mandamento explícito incluindo as mulheres na Ceia do Senhor!


2. As crianças não preenchem as condições necessárias: arrependimento e fé

O mesmo argumento as excluiria do céu! “Se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis” (Lc 13:3). “Quem nele crê não é condenado; o que não crê já está condenado” (Jo 3:18). Mas Jesus não as excluiu, e mesmo os que fazem essa objeção não as excluem.

O argumento é válido apenas para os adultos que podem exercer a fé, mas não para as crianças. A Bíblia também diz: ‘‘Quem não trabalha não coma’’. E as crianças! Devemos deixá-las com fome, porque não podem trabalhar?!

No AT as crianças (filhos da aliança) também não poderiam se arrepender e ter fé nas promessas (condição para a salvação também no AT), mas mesmo assim eram circuncidadas e consideradas membros do povo de Deus (da igreja visível) e beneficiárias da aliança.


3. Que benefícios pede produzir na criança?

Que benefício poderia produzir na criança a circuncisão? Muitos, não apenas para a criança, como também para a igreja e para os pais, como veremos a seguir.

 

VI. IMPORTÂNCIA DO BATISMO INFANTIL


Para a Igreja


1) Edificação dos membros.
2) Responsabilidade da igreja na orientação dos pais e dos filhos.

Para os Pais

1) Conforto no sentido de que os filhos pertencem ao pacto. A não ser que rejeitem quando adultos, essa é a condição deles.
2) Responsabilidades: fazer os filhos conhecerem a sua condição de pertencentes ao pacto. Serem fiéis (dando-lhes bom testemunho). Educá-los no temor do Senhor.

Para as Crianças


1) Quando chegarem à idade da razão, saberão que pertencem à aliança e se perguntarão: O que isto significa? E serão tão beneficiadas com o batismo quanto aqueles que são batizados quando adultos.
2) Gozam de todos os privilégios da Igreja Visível: oração, conselhos, disciplina, ensino da Palavra, exemplo dos outros fiéis, e principalmente das promessas referentes ao pacto.


VII. O SIMBOLISMO E MODO DO BATISMO

 

1. A Prática Batista e Pentecostal

Os nossos irmão batistas e pentecostais (estes historicamente procedentes dos primeiros), insistem na imersão como sendo a única forma legítima do batismo.

A primeira razão que apresentam está relacionada ao simbolismo do batismo. Para eles, baseados em Romanos 6:3ss e Colossenses 3:12, o batismo é uma prescrição para imergir, como símbolo da morte, sepultamento e ressurreição de Cristo. Eis os textos:

Ou, porventura, ignorais que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. Porque se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente o seremos também na semelhança da sua ressurreição (Rm 6:3-5).

Tendo sido sepultados juntamente com ele no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados, mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos (Cl 2:12).

A segunda razão diz respeito à inexistência, segundo eles, de exemplos de batismos por imersão no Novo Testamento.



2. A Prática Reformada e Protestante

A prática reformada não insiste na necessidade de imersão (nem de aspersão). As razões são as seguintes:

1) O simbolismo do batismo não está na imersão, mas na purificação, no lavar purificador. Assim como a circuncisão simbolizava a remoção da impureza, o batismo com água (que é a circuncisão cristã) simboliza o lavar purificador do Espírito Santo em virtude da obra de Cristo (por meio de Cristo): “ele [Deus] nos salvou mediante o lavar regenerador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso salvador” (Tt 3:5).

Este simbolismo do batismo é exemplificado no relado do apóstolo Paulo das palavras de Ananias no seu próprio batismo: “levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados...” (At 22:16). Isto é, o batismo não purifica do pecado, ele simboliza a purificação do pecado.

Eis o que diz o Catecismo de Heidelberg sobre o batismo:

Cristo instituiu este lavar externo com água e por ele prometeu que me encontro tão seguramente lavado com o seu sangue e com o seu Espírito das impurezas de minha alma e de todos os meus pecados, como lavado externamente com água que é usada para remover a sujeira do meu corpo (resposta 69).

É claro que num sentido mais amplo, todas as bênçãos espirituais decorrentes da salvação estão implícitas no símbolo: a morte para o pecado, o novo nascimento, o ingresso no corpo de Cristo por meio da nossa união com ele, etc. E muitas figuras são empregadas neste sentido: morrer com Cristo, ser sepultados com Cristo, ressuscitar com Cristo, viver em Cristo, andar em Cristo, revestir-se de Cristo (Gl 3:27), ser plantados com Cristo, etc. Mas isso não significa que alguma dessas figuras seja a única simbologia indicada no batismo.

A simbologia do batismo está no lavar, na purificação pela lavagem de água, na ação purificadora do Espírito Santo, o qual nos separa do uso comum (impuro) e nos une a Cristo; e não no modo como essa lavagem é efetuada. Convém observar que, mesmo em Romanos 6, o contexto geral é a purificação do pecado:

Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum. Como viveremos ainda no pecado, nós que para ele morremos?... Sabendo, isto, que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído e não sirvamos o pecado como escravos... Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões... (vs. 1-2, 6, 12).

O essencial no batismo, é explicitamente ensinado na sua instituição e nos demais textos do Novo Testamento: que seja feito com água (At 10:47) e em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28:19).


2)
 Do uso da palavra batizar (baptivzw) na Septuaginta. Nas quatro vezes que o verbo aparece, todas podem ser traduzidas por lavar, mas nem todas podem ser traduzidas por imergir. Exemplos: Daniel 4:33, onde lemos que o corpo de Nabucodonosor “...foi molhado do orvalho do céu...” Conferir Levítico 6:28: “e o vaso de barro em que for cozida [a carne da oferta pelo pecado] será quebrado; porém se for cozida num vaso de bronze, esfregar-se á na água.” Mesmo em 2 Reis 5:14, onde a imersão é provável, o propósito é claramente de lavagem como símbolo de purificação, conforme indicam os versos 10, 12 e 13.

3) Dos ritos de purificação no Antigo Testamento: frequentemente por meio de aspersões de sangue ou de água. Conferir números 19:9, 13 e 20. Estes ritos de purificação de utensílios, etc., são chamados de batismos no Novo Testamento:

E vendo que alguns dos discípulos dele comiam o pão com as mãos impuras, isto é, por lavar [ajnivpta] (pois os fariseus e todos os judeus, observando a tradição dos anciãos, não comem sem lavar [niywntai] cuidadosamente as mãos; quando voltam da praça não comem sem se aspergirem [baptivswntai]; e há muitas outras coisas que observam, como a lavragem [baptismonv] de copos, jarros e vasos de metal e camas), interpelaram-no os fariseus e os escribas: Por que não andam os teus discípulos de conformidade com a tradição dos anciãos, mas comem com as mãos por lavar [koinai - impuras]? (Mc 7:2-5).

Hebreus 9:10, 13, 19 e 21, fala da prática de abluções (baptismoi), de aspergir cinzas e sangue (rJantivzonsa), o povo, o tabernáculo e os utensílios sagrados com vistas à purificação religiosa.


4)
 Do uso da palavra no Novo Testamento:

a) Intercambiável com nivptw (lavar): maços 7:3-4 (já citado); Lucas 11:38; Mateus 15;2 e 20. Observação: o modo comum de lavar as mãos no oriente era pelo derramamento de água, como hoje.

b) A contenda dos discípulos de João sobre o batismo (Jo 3:22-30) é reconhecidamente uma contenda sobre purificação (v. 25).


5)
 Do caráter espiritual do culto no Novo Testamento, que não enfatiza a forma mas o espírito. A ênfase do culto no Novo Testamento não está na roupa dos oficiantes, no templo, no rito, mas na sua natureza espiritual e verdadeira. Em conformidade com isso, em nenhum lugar no Novo Testamento é especificada a forma do batismo (imersão ou aspersão). Logo, por que enfatizaríamos nós?

6) É interessante observar também que não há um só exemplo de batismo no Novo Testamento que especifique de modo explícito e inequívoco a forma de batismo (imersão ou aspersão) praticada. Na verdade, o contexto e alguns desses exemplos de batismos torna até improvável a imersão. É o caso do batismo das grandes multidões na cidade de Jerusalém, onde a água era escassa (at 2:37-41); do eunuco no deserto (); de Paulo na casa de Judas, por Ananias (nada no relato indica que saíram da casa, At 9:17-19); e do carcereiro de Filipos (At 16:30-33).

7) Os desenhos, gravuras e pinturas mais antigos (do segundo e terceiro séculos) de cenas de batismos cristãos retratam o derramamento de água sobre o batizado.

CONCLUSÃO


1) O batismo com água foi instituído como substituto da circuncisão, como sacramento de inciação na igreja visível de Cristo na nova aliança, visto não ser mais necessário o derramamento de sangue. É, portanto, “a circuncisão de Cristo” (cristã).

2) O batismo não é um atestado de salvação (nem todos os batizados são necessariamente salvos). Não é meio de salvação (não opera a salvação). Não é essencial à salvação (mas deve ser praticado em obediência à ordem de Cristo).

3) O batismo é o sinal visível e selo do pacto da graça, de ingresso na igreja visível, do nosso compromisso público solene com Cristo e com a sua obra. Por meio dele os membros da igreja são visivelmente distinguidos das demais pessoas como povo de Cristo e beneficiários da aliança.

4) O simbolismo do batismo consiste não apenas ou especificamente na imersão (ou morte e ressurreição), mas no lavar purificador regenerador operado pelo Espírito Santo no coração daquele que se arrepende dos seus pecados e crê na eficácia e suficiência da obra de Cristo; e na sua conseqüência união com Cristo e com o seu corpo. O batismo não é símbolo de uma figura, mas de uma transformação interna espiritual.

5) O modo do batismo não é relevante. Pode ser tanto por imersão como por aspersão. Sendo que a aspersão (ou ablução) é preferível, na concepção reformada, à luz das práticas (batismos, lavagens) purificadoras do Antigo Testamento e mesmo dos exemplos do Novo Testamento e do testemunho da história da igreja.

NOTAS:

[1] - Conferir também Marcos 14:22-26; Lc 22:14-20; e 1 Coríntios 11:23-26.

[2] - Confissão de Fé de Westminster 27.1.

[3] - Newman, Lectures on Justification, 257. Citado por Alexander Hodge, Outlines of Theology (Edinburgh: Banner of Truth, 1972), 625.

[4] - Capítulo XXIII, parágrafo V.

[5] - Trata-se do uso comum do genitivo (o genitivo descritivo), usado como um adjetivo. Ex: toswmath aJmartiva - o corpo do pecado/pecaminoso (Rm 6:6); ejn tw/swvm ati th sarkov - no corpo da carne/carnal (Cl 1:22). Assim também: to bavptisma jIwavnnou - o batismo de João/Joanino (Mt 21:25).

[6] - É esta a simbologia do batismo: o lavar regenerado do crente pelo Espírito Santo.

[7] - Conferir Confissão de Fé de Westminster, 27.3.

[8] - ejbavfh (no verso 30 na LXX).

fonte: http://www.monergismo.com/textos/batismo/batismo_anglada.htm

 

Batismo

por

Rev. Nelson Gonçalves de Abreu

 

Antes de prosseguirmos nossa abordagem a respeito do batismo, é necessário que entendamos o significado do nome. Calvino define batismo da seguinte forma: “Batismo é uma marca do nosso cristianismo e o sinal pelo qual somos recebidos na sociedade da igreja, para que enxertados em Cristo sejamos contados entre seus filhos”. [1]

O grande teólogo de Princeton, Charles Hodge, por sua vez, define batismo da seguinte forma: “Batismo é um sacramento no qual o lavar com água em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo significa e sela nossa união com Cristo, a participação das bênçãos do pacto da graça e a promessa de pertencermos ao Senhor”. [2]

A meu ver essas definições se completam e nos dão um entendimento mais amplo do conceito de batismo que precisamos ter tanto como sinal e selo, do nosso ingresso no reino de Deus, como também de uma vida de testemunho a Cristo que necessitamos constantemente demonstrar por termos sido alcançados, pelo amor de Deus.


O Batismo testifica a remissão dos pecados.


O texto de Mc16.16 nos deixa claro esse ensino. O batismo serve de sinal e documento de nossa purificação, ele testifica que fomos redimidos pelo poder de Deus. A ideia não é a de que o batismo salva, mas que todos os que são salvos, são confirmados pelo batismo. Calvino a respeito disso diz o seguinte: “Porque Deus quer que todos os que creem sejam batizados para a remissão de pecados”. [3]

Essa afirmação nos ajuda a entendermos que devemos receber o batismo como uma promessa de que todo o que crer e for batizado será salvo.


Testemunho Bíblico.

Vejamos o que Paulo diz em Ef5.26, e também em Tt3.5 e também o que Pedro ensina sobre isso em 1Pe3.21. Entendamos o seguinte: Paulo não quis dizer que nossa purificação e salvação acontecem com água e que a água em si mesma tenha capacidade para nos salvar.

O que Paulo está dizendo é que neste sacramento se recebe o conhecimento e a certeza do dom da salvação como claramente demonstram essas palavras. Paulo aqui em efeito une a Palavra de vida com o batismo da água, como se disse-se que por meio do Evangelho as boas novas nos são dadas, as boas novas da purificação e da santificação sendo essa boa nova selada pelo batismo.

O que Pedro faz, é demonstrar figuradamente que a água no texto referida, é uma representação do sangue de Cristo, que o efeito mesmo da purificação é o sangue de Cristo que foi derramado sobre o seu povo, sendo que o mesmo sangue, serve de juízo de Deus contra os descrentes que se insubordinaram.

Percebam que quando Pedro usa o acontecimento do dilúvio para fazer um paralelo com o sangue de Cristo vs18, ele nos deixa claro que as águas que figuravam ou prefiguravam o juízo de Deus sobre os homens, foram às mesmas águas que salvaram o seu povo escolhido.

Calvino esclarece interessantemente isso dizendo: “O batismo não nos promete mais purificação que se fez pelo derramamento do sangue de Cristo, o qual está figurado na água, pela semelhança que ele tem com ela de limpar e lavar”. [4]


O Batismo testifica a remissão dos pecados passados e futuros.

Com essa proposição o que queremos dizer é que em qualquer tempo em que sejamos batizados, somos lavados e purificados de uma vez por todas. Portanto precisamos ser confortados pelo seguinte; quantas vezes cairmos, devemos refrescar de novo a memória com o batismo, e nos assegurarmos na alma, de que nossos pecados de fato foram perdoados.

Isso não significa que devemos pecar licenciosamente, não ganhamos licença para pecar o que seria um terrível atrevimento contra o nosso Senhor Jesus Cristo. Essa doutrina nos dá segurança nos momentos de canseira e opressão por causa do peso dos pecados para levantarmos nossa cabeça e prosseguirmos com Cristo na fé cristã, mesmo nas situações de confusão. Cristo é a remissão dos pecados passados também Rm3.25.


O Batismo nos mostra a nossa mortificação e nova vida em Cristo.

É importante o texto de Rm6.4. Com essas palavras não só nos exorta a que lhe imitemos, como se dissesse que pelo batismo, somos admoestados a que seguindo o exemplo de Cristo, morramos para as concupiscência da nossa carne e a exemplo da justiça de Cristo, de sua ressurreição, vivamos em justiça e retidão na maneira de procedermos.

Argumentos parecidos com esse e com a mesma ideia de morte e vida deve ser visto em Cl2.12, Tt3.5


O Batismo atesta nossa união com Cristo.


O batismo nos dá a garantia e nos certifica de que não somente somos enxertado na morte e na vida de Cristo, mas também unidos a Ele de tal forma que nos tornamos participante de todos os seus benefícios e de todos os seus bens. Deus consagrou e santificou o batismo no corpo de Cristo Mt3.13, a fim de que nos sejamos comum com Deus através de um vínculo inquebrantável de união que Ele estabeleceu conosco por meio de Jesus. Gl3.27.

Calvino colabora conosco dizendo a partir de Gl3.27 o seguinte: “E assim vemos que o cumprimento do batismo está em Cristo, o qual por causa disto chamamos objeto do batismo. Não há pois motivo para estranharmos quando ouvimos que os apóstolos batizavam em nome Dele At8.16; 19.5, ainda que haviam sido enviados a batizar em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo. Porque todos os dons de Deus que se oferece no batismo se encontram em Cristo somente”. [5]

Todas as bênçãos da regeneração e o cancelamento dos nossos pecados e o ingresso na família de Deus são nos dados por intermédio de Cristo.


O Batismo de João e o Batismo cristão.

Para esclarecer alguma possível dúvida que possa surgir em nós quanto algumas ambiguidades presentes nesses batismos, quero afirmar que não há nada de dessemelhante neles. Todos batizam em nome de Cristo de quem procede a remissão dos pecados. João disse que Cristo era o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo Jo1.28-29; através de seu sacrifício, Deus aceitou Sua justiça, ou melhor a propiciação de justiça sendo Cristo o autor da nossa salvação.

Não há diferenciação de significado entre o batismo de João e o de Cristo. Como disse J. Calvino: “Se alguém busca na Palavra de Deus uma diferença entre o batismo de um e o de outro, a única que encontrará é que João batizava em nome de alguém que viria, e os apóstolos, em alguém que já veio”. [6] Lc3.16; At19.4.


O Batismo não restaura a justiça e a pureza originais.


A importância disso é fundamental para uma melhor compreensão do que o batismo é, pois o batismo não mexe com a nossa natureza pecaminosa. Aquilo que herdamos de Adão nosso pai, que é o pecado original que é perda da justiça original, não pode ser restaurado por intermédio do batismo.

O pecado original, que é a corrupção e a culpa, estão instalados em nossa natureza, o que nos faz réus da ira e do juízo de Deus e que produz em nós aquilo que as Escrituras chamam de obras da carne Gl5.19. O que devemos reter deste tema, é que somos batizados para a mortificação de nossa carne; mortificação que começou em nós desde o batismo, e que temos de prosseguir cada dia; e que será perfeita somente quando passarmos ao Senhor.

Enquanto vivermos em nosso corpo mortal nossos pecados estarão conosco mas se tivermos fé na promessa que nos foi dada no batismo, nossos pecados não serão nossos donos, nem reinarão em nós.

O apóstolo Paulo falando a respeito disso em Rm6.3, exorta-nos a permanecermos fieis a Deus e que não deixemos o pecado dominar sobre nós. Sabendo porém Paulo que somos pecadores e que podemos fraquejar, o que ele diz é que estamos debaixo da graça e não da lei 6.14.

Portanto ainda que pequemos não devemos abandonar a fé em Cristo, em quem fomos batizados e ressuscitamos Ef2.5. E para que ficássemos consolados definitivamente da grandeza do Senhor e da não condenação dos que são de Cristo, ele diz e Rm8.1, que para nós não há condenação.


Rápida abordagem sobre o batismo infantil.


Sei que este assunto é um dos mais polêmicos e mal explicados assuntos que vemos constantemente surgir dentro da igreja evangélica de todos os tempo e nações, até mesmo entre os evangélicos de linha reformada, chamados de evangélicos históricos há divergências sobre isso.

Portanto aqui tentarei pela graça de Deus fazer uma abordagem simples e ao mesmo tempo teológica, para tentar dissipar algumas dúvidas que porventura surjam ou já tenham se alojado no coração de vocês.

É fácil de observar hoje dentro da igreja, muitos pais que não tem convicções a respeito do por quê deveriam batizar seu filhos, e outros por sua vez, não o fazem por uma questão de tradição familiar e não de certeza sobre o que fala a bíblia, o que torna o batismo infantil algo sem sentido e vazio para ambos posicionamentos.

O sacramento batismal, tem cada dia se tornado algo sem nexo no meio evangélico porque poucos tem sabido ensinar seu propósito, o que acarreta numa terrível discussão sem relevância tanto para os que batizam seus filhos e não sabem explicar porque batizaram, quanto os que não batizam e também não sabem explicar porque não batizaram. Longe de ser alguma coisa esgotada nesse sentido, isso é apenas um ensaio sobre o respectivo tema, com a finalidade de trazer um pouco mais de clareza e fazer o ato sacramental do batismo, se tornar relevante e inteligível para nós e para a igreja de Cristo.


A herança da circuncisão.

Não devemos fechar nossos olhos para o seguinte: Cada doutrina ensinada no NT, tem suas origens, suas raízes no AT. Se você deseja conhecer melhor a respeito da doutrina do pecado, é necessário ir até o Gn3, se quiser entender mais abrangentemente a beleza da cruz, outro referencial são os livros do Pentateuco e os profetas e da mesma maneira é necessário conhecermos um pouco sobre a circuncisão para podermos falar do batismo infantil.

Deus salvou a Abraão e em Rm4, Paulo nos explica ali, que Abraão foi salvo pela graça, mediante a fé, tanto no AT, quanto no NT, podemos ler que Abraão foi salvo por que creu e isso lhe foi imputado como justiça Gn15.6; Rm4.9.

Em Gn17.7, Deus chama esta relação de salvação de pacto eterno. Um pacto de salvação que se realiza de geração em geração. Nesse pacto eterno feito através de Deus com Abraão e nunca o contrário, Deus deu um símbolo que foi a circuncisão como marca nessa relação de pacto Gn17.11.

O símbolo então da relação de pacto entre Deus e Abraão, foi a circuncisão. Esse símbolo é um símbolo diferente, se tentarmos entender isso por esse prisma, podemos ver que esse símbolo é um tanto estranho, mas absolutamente correspondente com aquilo que Deus queria ensinar por meio dele que é o significado da limpeza que ele nos passa. Is52.1 tanto incircunciso quanto imundo são sinônimos o que nos ajuda a afirmar que Deus utilizou um símbolo externo de limpeza para poder representar uma limpeza espiritual interior no homem Dt30.6

A idéia de limpeza, purificação era tão forte, que Deus chega a usar a palavra circuncisão ao invés de salvação em alguns lugares da bíblia e de não salvação aos incircuncisos Ez44.9; 1Sm14.6. O fato de isso acontecer não significa que a circuncisão é quem salva o indivíduo. Porém ela era vista como um sinal da salvação de Deus aplicada corretamente na vida de um filho de crente Gn17.12.


O novo símbolo; O Batismo.

Assim como a circuncisão no AT, o batismo, é o símbolo que Cristo usa para demonstrar essa marca de mudança e limpeza na vida dos cristãos em o NT, Mt28.19

John Sartelle, nos dá uma ajuda muito útil para entendermos porque Deus usou a água como símbolo de limpeza: “Podemos entender facilmente por que Deus escolheu a água como símbolo. Porque é um agente universal de limpeza. Ninguém esperaria que o pó, as folhas, ou o suco de frutas significasse limpeza. Assim, Deus escolheu este agente de limpeza universal como um símbolo de pureza espiritual”. [7]

Podemos com toda a certeza dizer que as manchas do pecado foram removidas do nosso coração interiormente pelo batismo, e que o batismo com água deixa claro essa certeza. A importância do batismo é fundamental não somente no seu sentido simbólico, mas também, em seu sentido realístico. O batismo significa ter sido separado para viver uma vida santa, da mesma maneira que as pessoas e os utensílios eram ungidos com água e óleo e separados para o uso sagrado no AT, assim também a pessoa é ungida e separada para a santidade Gl3.27.


Circuncisão e Batismo: Promessas, figuras e fundamento sãos os mesmos.

A partir desse subtópico, quero poder tentar esclarecer mais dilatadamente a idéia que trata de dois símbolos que tem o mesmo significado para tanto é necessário que prestemos a atenção às diferenças e conveniências existentes entre os dois sinais e o que podemos aplicar um do outro.

Quando o Senhor ordenou a circuncisão a Abraão Ele disse que seria o Deus dele e de sua descendência declarando-se o Senhor Todo Poderoso e mostrando também a abundância de todas as suas bênçãos procedentes dele e que seriam dadas também aos seus descendentes Gn17.7-10.

Nas palavras de Deus a Abraão, se contém a promessa da vida eterna, que deveria ser confirmada pela circuncisão, que marcaria, selaria a remissão de nossos pecados também com o simbolismo de mortificação e início de uma nova caminhada com Deus.

Quando olhamos para o batismo no NT, um símbolo que como vimos anteriormente é purificador, vemos a promessa de vida eterna, que deveria ser confirmada pela obediência ao realizar o ato simbólico, que marcaria e selaria a remissão dos pecados com o simbolismo de mortificação e início de uma nova caminhada com Deus, e mais com a explicita verdade de santificação presente nos dois atos Mc16.16.

O Reformador de Genebra nos presta um esclarecimento que considero de suma importância ao que está sendo dito: “A promessa no qual temos dito consiste a virtude dos sinais, é a mesma em ambos: eles falam; da misericórdia de Deus, da remissão dos pecados e da vida eterna. A coisa significada é sempre a mesma: A nossa purificação e mortificação. O fundamento em que essas coisas se apóiam e o cumprimento dessas coisas também são os mesmos.

Por conseguinte, se segue que não há diferença alguma entre o batismo e a circuncisão em quanto mistério interior, no qual consiste toda a essência dos sacramentos... A única diferença se refere às cerimônias externas que é o menos importante nos sacramentos posto que a consideração principal depende da Palavra e da coisa significada e representada.

Podemos então concluir que tudo quanto pertence a circuncisão, pertence ao batismo exceto a cerimônia externa e visível. A esta dedução nos encaminha toda a Escritura a qual se deve medir e pesar conforme a analogia e proporção da fé Rm12.3,6”. [8]

Com isso podemos afirmar que a idéia de pacto é a idéia que permeia toda a Escritura Sagrada, sendo que Deus fez um pacto com Adão e sua família, pois Adão como representante do povo, agia em nosso lugar e também no lugar de seus familiares mais próximos. Quando Adão pecou Deus confirmou seu pacto com Noé, e depois com Abraão, sendo que com este Deus instituiu a circuncisão como sinal deste pacto feito com ele e sua família, seus filhos, o que é chamado de pacto da graça pelos reformadores, esse pacto não muda, o que muda são os simbolismos dele, mas não ele.

Isso ressalta a profundidade com que Deus trata seus filhos e os filhos de seus filhos com quem Ele estabelece relações e as ratifica com o sinal do pacto.


Crianças no Pacto da Graça no AT

Quando Deus instituiu a circuncisão como sinal do pacto da graça feito com Abraão no AT, eles foram todas circuncidadas, fato que se não fosse realizado, estaria demonstrando que elas não faziam parte do povo de Deus.

É preciso entender que esta aliança que Deus fez com Abraão, chamada de pacto da graça é a implementação histórica de uma aliança eterna que nunca é destruída e nem desfeita. Obs: A aliança com Abraão não passou é aliança eterna. Paulo Anglada diz o seguinte a respeito disso: “As ordenanças, os símbolos dessa aliança, mudaram: primeiro só a circuncisão; depois foi acrescentada a páscoa, e depois ambas foram substituídas pelo batismo e pela ceia do Senhor. Mas a aliança é a mesma”. [9]

A perspectiva de Paulo em Gl3.17,demonstra que a lei de Moisés não pode invalidar a aliança com Abraão ou seja; uma aliança já anteriormente confirmada por Deus, a lei que veio quatrocentos e trinta anos depois não a pode ab-rogar, de forma que venha desfazer a promessa. A aliança em o NT, não é uma outra aliança recentemente estabelecida que anulou a aliança feita com Abraão; mas a mesma aliança renovada por aquele que é o Mediador da aliança, que é o Senhor Jesus. Gl3.27,29. A palavra usada não é neuoa, mas kainoua, como em novos céus e nova terra, não outros céus e outra terra, mas céus e terras renovados.

O fato é que a igreja é a mesma. Somos membros de um mesmo corpo. Somos a comunidade do pacto, somos os verdadeiros filhos de Abraão, descendentes dele por fé. A salvação não mudou, a salvação é pela fé, o mesmo modo da salvação que alcançou os crentes em o AT.

As promessas também não mudaram, a crença é no Messias desde os tempos do AT, Rm4.1-17, porque então os filhos dos membros da nova aliança deveriam ser excluídos da comunidade do pacto, da igreja visível? Por que lhes negar o selo do pacto, que é o batismo?


Crianças e o pacto da graça no NT.

O NT exclui as crianças da condição de beneficiárias do pacto da graça? Não, em nenhum lugar do NT os filhos dos que pertenciam à aliança foram excluídos. Ao contrário, o que há são, afirmações explicitas de que continuam incluídos.

Vejamos o que o Senhor Jesus fala a esse respeito em Lc18.16. Pedro também tem opinião clara sobre isso, o apóstolo Paulo reconhece a posição dos filhos de crentes como Santos quando um dos pais é crente ao menos 1Co7.14.

Há alguns exemplos implícitos de sua prática em vários lugares de o NT. AT16.14,15; At16.30-33; 1Co1.16.

Os pais da igreja de um modo geral sempre aceitaram o batismo infantil como uma prática vinda desde os tempos apostólicos e pelo menos 9 dentre 12 pais da igreja, o aceitaram foram eles: Justino Mártir 130, Irineu 180, Orígenes 230 e posteriormente Agostinho.

A argumentação é muito maior e forte para quem aceita essa prática do que para aqueles que não a veem com bons olhos. Se por um lado os opositores a essa doutrina dizem não haver exemplos explícitos disso em o NT, também não há a menor referência a batismos de adultos nascidos e criados em lares cristãos.

Calvino usa o seguinte argumento: “O Senhor disse expressamente que a circuncisão que se administra às crianças lhe servirá de confirmação do pacto que temos exposto. Se pois, o pacto permanece sempre o mesmo, é de todo certo que os filhos dos cristãos não são menos participantes dele do que foram os judeus do AT. E se participam da realidade significada, por que não lhes a de ser comunicado também o sinal”. [10]

Portanto o batismo infantil é bíblico e não podemos negar ou passar desapercebidos a esse fato que é tão importante para a edificação dos membros, para o conforto de saber que nossos filhos pertencem ao pacto e traz sobre nós pais, a responsabilidade de ensinarmos os nossos filhos no caminho do Senhor.

Quero encerrar este assunto contra argumentando uma pergunta que parece ser o forte dos que não aceitam o batismo infantil. Eles dizem o seguinte: As crianças não preenchem as condições necessárias para serem batizadas que é; o arrependimento e fé.

O terrível desse argumento é que se usado dessa forma, ele não somente exclui as crianças do batismo, como também do céu. Observemos o texto de Lc13.3 e também o de Jo3.18. Mas Cristo não os excluiu e nem mesmo os que fazem essa objeção os excluem.

Sobre isso Paulo Anglada diz o seguinte: “O argumento é valido apenas para os adultos que podem exercer fé, mas não para crianças. A bíblia também diz: ‘Quem não trabalha não coma’. E as crianças? Devemos deixa-las com fome, porque não podem trabalhar”. [11]

Esse argumento é válido também ao AT, onde as crianças não podiam nem se arrepender ou exercer fé, mas não foram excluídas de receberem o sinal do pacto nelas mesmas.


O Modo do Batismo e seu Simbolismo.

Os nossos irmãos tanto os batistas quanto os pentecostais, insistem na imersão como a forma legítima do batismo, tentaremos rapidamente compreender algumas coisas que nos esclareça melhor esse posicionamento.

A argumentação deles é baseada em Rm6.3, e também em Cl2.12, no entanto esses textos não estão aqui para argumentar favoravelmente de como devemos realizar o batismo, mas que nós estamos tão indestrutivelmente unidos a Cristo, que a morte de Cristo pelo pecado dos homens, deve ser a nossa própria morte para uma vida de pecados, que o ressuscitar de Cristo para uma vida incorruptível, deve ser o marco do nosso ressuscitar para uma vida pura e santa diante de Deus.

Mesmo porque, se assim não fosse e o texto estivesse se referindo a uma forma batismal, deveríamos para que ela tivesse validade, ficar 3 dias embaixo d’água o que jamais suportaríamos, pois foi esse o tempo em que Cristo ficou sepultado.

O texto não está falando de modo como se deve batizar, e sim da simbologia do batismo, que está no lavar, na purificação pela lavagem de água, na ação purificadora do Espírito Santo, o qual nos separada da impureza e nos une a Cristo e não no modo como essa lavagem é efetuada.


Usos da palavra batizar.


Nas quatro vezes em que a palavra batizar, baptiuzis, aparece na Septuaginta em todas às vezes, o verbo pode ser traduzido por lavar, mas nem todas pode ser traduzida por imergir. EX: Dn4.33, Lv6.28, 2Rs5.14, e neste último texto onde a imersão parece ser provável, o propósito é claramente a lavagem como símbolo de purificação como os vs 10,12,13, indicam.

No AT, frequentemente os ritos de purificação eram por meio da aspersão do sangue ou da água e nunca por imersão no sangue e na água. Textos como Nm19.9, 13 e 20 nos ajudam nessa compreensão.

Observemos agora alguns textos no NT, que poderão nos ajudar a esclarecer ainda mais essa perspectiva. Mc7.2-5.

E vendo que alguns dos discípulos dele comiam o pão com as mãos impuras, isto é, por lavar (acsniuptoia) pois os fariseus e todos os judeus, observando a tradição dos anciãos, não comem sem lavar (niutsntai) cuidadosamente as mãos; quando voltam da praça não comem sem se aspergirem (baptiuszntai); e há muitas outras coisa que observam, como a lavagem (baptsmonua) de copos, jarros e vasos de metal e camas, interpelaram-no os fariseus e os escribas: Por que não andam os teus discípulos de conformidade com a tradição dos anciãos, mas comem com as mãos por lavar (koinaiãã-impuras)?

Em Hb9.10,13,19 e 21 fala de abluções (baptismoiãã) de aspergir cinzas e sangue com vistas a purificação religiosa. Há muitos outros textos que serviriam mais para fortalecer a ideia de aspersão pela bíblia toda do que como querem afirmar os batistas e os pentecostais de que seria por imersão. Ver At2.37-41, At8.26-40, At9.17-19, At16.30-33.

Charles Hodge diz o seguinte a esse respeito: “E assim, no que diz respeito ao Novo Testamento, não há um só caso em que o batismo implique necessariamente a imersão; há muitos casos nos quais este sentido é totalmente inadmissível, e muitos outros nos quais é improvável no grau máximo”. [12]


NOTAS:

1 - João Calvino, Instituición, Livro IV, cap XV, p1028.

2 - C. Hodge, Teologia Sistemática, ed Hagnos, São Paulo, 1a ed 2001.

3 - João Calvino, Instituición, Livro IV, cap XV, p1028.

4 - Ibidem, p1029.

5 - Ibidem, p1031.

6 - Ibidem, p1032.

7 - John P. Satelle, O Batismo Infantil, ed Puritanos, 1a 2000, p13.

8 - Instituición, Livro VI, capXVI pp1045e1046

9 - Paulo Anglada, O Batismo Infantil, ed puritanos, p43.

10 - Intituición, LivroVI, cap XVI, p1046.

11 - Paulo Anglada, O Batismo Infantil, p46.

12 - Charles Hodge, Teologia Sistemática, p1417.


fonte: http://www.monergismo.com/textos/batismo/batismo_nelson.htm

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