A Escritura mostra
claramente que nem todas as operações do Espírito santo são parte integrante da
obra salvadora de Jesus Cristo. Exatamente como o Filho de Deus não é somente o
Mediador da redenção, mas também é o Mediador da criação, assim o Espírito
Santo, como nos é apresentado na Escritura, opera não somente na obra da
redenção, mas também na obra da criação. Naturalmente, a soteriologia está
interessada unicamente na Sua obra redentora, mas, para compreende-la bem, é
altamente desejável dar alguma atenção às Suas operações mais gerais.
1. OPERAÇÕES GERAIS DO ESPÍRITO SANTO. É
bem sabido o fato de que as distinções trinitárias não estão reveladas tão
claramente no Velho Testamento, nem sempre denota uma pessoa, e mesmo nos casos
em que a idéia da pessoa está claramente presente, nem sempre indica a terceira
pessoa da Trindade Santa. Às vezes é empregada figuradamente para denotar o
sopro de Deus, Jó 32.8; Sl 33.6, e, nalguns casos, é simplesmente um sinônimo
de “Deus”, Sl 139.7, 8; Is 40.13. É muito comum servir a ela para designar a
força da vida, o princípio que faz viver as criaturas, e isso de maneira única,
peculiar a Deus. O espírito que permanece nas criaturas e do qual a sua própria
existência depende, provém de Deus e as liga a Deus, Jó 32.8; 33.4; 34.14, 15;
Sl 104.29; Is 42.5. Deus é chamado “Deus (ou “Pai”) dos espíritos de toda
carne”, Nm 16.22; 27.16; Hb 12.9. Nalguns casos destes é evidente que o
Espírito de Deus não é um simples poder, mas uma pessoa. Já a primeira passagem
em que o Espírito é mencionado, Gn 1.2, chama a atenção para esta função de
comunicar vida, e este fato é particularizado com relação à criação do homem,
Gn 2.7. O Espírito de Deus gera vida e leva a completar-se a obra criadora de
Deus, Jó 33.4; 34.14, 45; Sl 104.29, 30; Is 42.5. No Velho Testamento é
evidente que a origem da vida, sua manutenção e seu desenvolvimento dependem da
operação do Espírito Santo. A retirada do Espírito significa morte.
Extraordinárias
demonstrações de poder, proezas de força e audácia, também são reportadas ao
Espírito de Deus. Os juízes que Deus levantava para a libertação de Israel eram
evidentemente, homens de considerável capacidade e de coragem e força
extraordinárias, mas o verdadeiro segredo das sua realizações estava, não neles,
mas no poder sobrenatural que lhes sobrevinha. A Escritura diz repetidamente
que “o Espírito do Senhor veio (poderosamente) sobre” eles, Jz 3.10; 6.34;
11.20; 13.25; 14.6, 19; 15.14. Foi o Espírito de Deus que os capacitou a
acionar a libertação do povo. Há também claro reconhecimento da operação do
Espírito Santo na esfera intelectual. Eliú fala disto quando diz: “Na verdade,
há um espírito no homem, e o sopro do Todo-poderoso o faz entendido”, Jó 32.8.
O discernimento intelectual, ou a capacidade de compreender os problemas da
vida, atribui-se a uma influência iluminadora do Espírito Santo. O
aprimoramento da habilidade artística também é atribuída ao Espírito do Senhor,
Êx 28.3; 31.3; 35.30 e segtes. Certos homens, caracterizados pelos
revestimentos de dotes especiais, foram qualificados para a obra mais fina que
devia ser realizada quanto à construção do tabernáculo e aos adornos das vestes
sacerdotais; cf. também Ne 9.20. O Espírito do Senhor é igualmente descrito
como qualificando homens para diversos ofícios. O Espírito foi posto, e
repousou, sobre os setenta que foram nomeados para assistir Moisés no trabalho
de governar e julgar o povo de Israel, Nm 11.17, 25, 26. Estes também receberam
temporariamente o Espírito de profecia, como atestado da sua vocação. Josué foi
escolhido como sucessor de Moisés porque tinha o Espírito do Senhor, Nm 27.18.
Quando Saul e Davi foram ungidos reis, o Espírito do Senhor veio sobre eles
para qualifica-los para a sua importante missão, 1 Sm 10.6, 10; 16.13, 14.
Finalmente, vê-se claramente que o Espírito de Deus também operou nos profetas
como Espírito de revelação. Diz Davi: “O Espírito do Senhor fala por meu
intermédio, e a sua palavra está na minha língua”, 2 Sm 23.2. Em Ne 9.30,
Neemias testifica: “No entanto os aturaste por muitos anos, e testemunhaste
contra eles pelo teu Espírito, por intermédio dos teus profetas; porém eles não
deram ouvidos”. Ezequiel fala de uma visão concedida pelo Espírito de Jeová,
11.24, e em Zc 7.12 lemos: “Sim, fizeram os seus corações duros como diamante,
para que não ouvissem a lei nem as palavras que o Senhor dos Exércitos enviara
pelo seu Espírito mediante os profetas que nos precederam”. Cf. também 1 Rs
22.24; 1 Pe 1.11; 2 Pe 1.21.
(Tologia Sistemática –
Louis Berkhof. 421)