A analogia do batismo cristão
1. NO MUNDO GENTÍLICO. O batismo não era uma coisa inteiramente nova nos dias de Jesus. Os egípcios, os persas e os hindus tinham todos as suas purificações religiosas. Estas eram mais proeminentes ainda nas religiões gregas e romanas. Às vezes ela tomavam a forma de banhos no mar, e às vezes eram efetuadas por aspersão. Diz Tertuliano que, nalguns casos, a idéia de um novo nascimento estava ligada a estas ilustrações. Muitos eruditos dos dias atuais afirmam que o batismo cristão, especialmente como ensinado por Paulo, deve sua origem a ritos similares das religiões de mistério, mas essa derivação não tem nem as aparências a seu favor. Enquanto que o rito de iniciação nas religiões de mistério envolve um reconhecimento da divindade em questão, não há vestígio de um batismo em nome de algum deus. Tampouco há qualquer evidência de que a influência do pneuma divino, deveras proeminente nas religiões de mistério, fosse alguma vez relacionado com o rito de lustração. Além disso, as idéias de morte e ressurreição, que Paulo associava ao batismo, não se ajustam de modo algum ao ritual de mistério. E, finalmente, a forma do taurobolium (taurobóleo),** que se supõe ser a mais notável analogia que se pode citar, é tão estranha ao rito do Novo testamento, que faz com que a idéia de que este é derivado daquele pareça completamente ridícula. Estas purificações pagãs, mesmo em sua forma externa, têm muito pouco em comum com o nosso batismo cristão. Ademais, é um fato bem estabelecido que as religiões de mistério não apareceram no Império Romano antes dos dias de Paulo.
1. NO MUNDO GENTÍLICO. O batismo não era uma coisa inteiramente nova nos dias de Jesus. Os egípcios, os persas e os hindus tinham todos as suas purificações religiosas. Estas eram mais proeminentes ainda nas religiões gregas e romanas. Às vezes ela tomavam a forma de banhos no mar, e às vezes eram efetuadas por aspersão. Diz Tertuliano que, nalguns casos, a idéia de um novo nascimento estava ligada a estas ilustrações. Muitos eruditos dos dias atuais afirmam que o batismo cristão, especialmente como ensinado por Paulo, deve sua origem a ritos similares das religiões de mistério, mas essa derivação não tem nem as aparências a seu favor. Enquanto que o rito de iniciação nas religiões de mistério envolve um reconhecimento da divindade em questão, não há vestígio de um batismo em nome de algum deus. Tampouco há qualquer evidência de que a influência do pneuma divino, deveras proeminente nas religiões de mistério, fosse alguma vez relacionado com o rito de lustração. Além disso, as idéias de morte e ressurreição, que Paulo associava ao batismo, não se ajustam de modo algum ao ritual de mistério. E, finalmente, a forma do taurobolium (taurobóleo),** que se supõe ser a mais notável analogia que se pode citar, é tão estranha ao rito do Novo testamento, que faz com que a idéia de que este é derivado daquele pareça completamente ridícula. Estas purificações pagãs, mesmo em sua forma externa, têm muito pouco em comum com o nosso batismo cristão. Ademais, é um fato bem estabelecido que as religiões de mistério não apareceram no Império Romano antes dos dias de Paulo.
2.
ENTRE OS JUDEUS. Os judeus tinham muitas purificações e abluções, mas estas não
tinham caráter sacramental e, portanto, não eram sinais e selos da aliança. O
chamado batismo dos prosélitos tinha maior semelhança com o batismo cristão.
Quando gentios eram incorporados em Israel, eles eram circuncidados e, pelo
menos em tempos mais tardios, também eram batizados. De há muito se tem
debatido a questão sobre se este costume estava em voga antes da destruição de
Jerusalém, mas Schuerer demonstrou cabalmente, com citações da Mishna*** que estava. De acordo com as autoridades
judaicas citadas por Wall em
sua História do Batismo Infantil (History of Infant
Baptism), esse batismo tinha que ser ministrado na presença de duas ou três
testemunhas. As crianças cujos pais recebiam esse batismo, desde que nascidas
antes da administração do rito, também eram batizadas, à solicitação do pai,
contanto que não fossem de idade (os meninos, treze anos e as meninas doze),
mas se fossem de idade, somente à solicitação delas próprias. As crianças
nascidas após o batismo do pai ou dos pais, eram tidas por limpas e, daí, não
necessitavam do batismo. Contudo, parece que esse batismo também era apenas uma
espécie de lavamento cerimonial, um tanto semelhante a outras purificações. Às
vezes se diz que o batismo de João foi derivado desse batismo de prosélito, mas
é mais que evidente que não foi este o caso. Seja qual for a relação histórica
que possa ter existido entre os dois, é evidente que o batismo de João estava
prenhe de significações novas e mais espirituais. Lambert está muito certo quando,
ao falar das lustrações judaicas, diz: “Seu propósito era, pela remoção de uma
contaminação cerimonial, restaurar o homem à sua posição normal dentro das
fileiras da comunidade judaica: de outro lado, o batismo de João tinha por
objetivo transferir os que se lhe submetiam a uma esfera totalmente nova – a
esfera da definida preparação para o reino de Deus, que se aproximava. Mas,
acima de tudo, a diferença está nisto – que o batismo de João nunca poderia ser
considerado uma simples cerimônia; todo ele fremia sempre de significação
ética. Uma purificação do coração, do pecado, era não somente sua condição
preliminar, mas seu constante objetivo e propósito. E pela penetrante e
incisiva pregação com o que ele o acompanhava, João livrou-o de baixar, como doutro
modo teria tendido a fazer, ao nível de um mero opus operatum”.[1]
Outra questão que requer consideração é a de relação entre o batismo de João e
o de Jesus. Nos Cânones de Trento,[2]
a igreja Católica Romana anatemiza os que dizem que o batismo de João se
igualava ao de Jesus em eficácia, e o considera, juntamente com os sacramentos
do Velho Testamento, como puramente típico. Ela pretende que os que foram
batizados por João não receberam verdadeira graça batismal nesse batismo, e
mais tarde foram rebatizados, ou, expressando-o mais corretamente, foram
batizados pela primeira vez à maneira cristã. Os teólogos luteranos mais
antigos afirmavam que os dois eram idênticos no que se refere ao propósito
e à eficácia, ao passo que alguns dos mais recentes rejeitaram o que
eles achavam que era uma identidade completa e essencial de ambos. Algo similar
se pode dizer dos teólogos reformados. Os teólogos mais antigos identificavam
os dois batismos, enquanto que os de uma época mais recente dão atenção a
certas diferenças. Vê-se que João mesmo chamou a atenção para um ponto de
diferença em Mt 3.11. Alguns também acham uma prova da diferença essencial
entre os dois em At 19.1-6, que, segundo eles, registra um caso em que alguns
que tinham sido batizados por João, foram rebatizados. Mas esta interpretação
está sujeita a dúvida. O que parece correto é dizer que os dois são essencialmente
idênticos, embora diferindo nalguns pontos. O batismo de João, como o batismo
cristão. (a) foi instituído pelo próprio Deus, Mt 21.25; Jo 1.33; (b) estava
relacionado com uma radical mudança de vida, Lc 1.1-17; Jo 1.20-30; (c) estava
numa relação sacramental com o perdão dos pecados, Mt 3.7, 8; Mc 1.4; Lc 3.3
(comp. At 2.28) e (d) empregava o mesmo elemento material, qual seja, água. Ao
mesmo tempo, havia diversos pontos de diferença: (a) o batismo de João ainda
pertencia à antiga dispensação e, como tal, apontava para Cristo, no futuro;
(b) em harmonia com a dispensação da lei em geral, acentuava a necessidade de
arrependimento, embora sem excluir inteiramente a fé; (c) foi planejado somente
para os judeus e, portanto, representava mais o particularismo do Velho
Testamento que o universalismo do Novo; e (d) visto que o Espírito Santo ainda
não fora derramado na plenitude do Pentecostes, o batismo de João ainda não era
acompanhado por tão grande porção de dons espirituais como o ulterior batismo
cristão.
(Berkhof,
L. – Teologia Sistemática Pg626)
** Sacrifício de um
touro em honra de Cibele, praticado entre os antigos gregos e romanos.
Consistia num batismo de sangue aplicado ao ofertante. Este, descendo ao fundo
de um fosso, recebia sobre si o sangue do animal imolado. O sacerdote que
executava o sacrifício era denominado tauróbolo. Nota do tradutor.
*** A Misná, forma aportuguesada de Mishnah, é a obra de
unificação, interpretação e ensino da lei judaica escrita. Nota do tradutor.
[1] The Sacraments in the New
Testament, p. 57.
[2] Sess.
VII, De Baptismo.