A veneração da
tolerância pelo pós-modernista é uma característica óbvia, mas essa versão
da "tolerância" é, na verdade, uma distorção perigosa da
verdadeira virtude. Aliás, tolerância nunca é mencionada na Bíblia como
uma virtude, exceto no sentido de paciência, longanimidade e
mansidão (ver Ef 4.2). De fato, a noção contemporânea de tolerância
é um conceito pateticamente fraco comparado ao amor que as Escrituras
ordenam aos cristãos que mostrem aos seus inimigos. Jesus disse,
"amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; bendizei
aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam" (Lc 6.27,28;
confira os versículos 29-36).
Quando nossos avós
falaram de tolerância como uma virtude, eles tinham isso em mente. A
palavra então significava respeitar as pessoas e tratá-las com
bondade mesmo quando acreditamos que elas estão erradas, mas a noção
pós moderna de tolerância significa que nós nunca devemos considerar a
opinião de ninguém como errada. A tolerância bíblica é para as pessoas; a
tolerância pósmoderna é para ideias.
Aceitar toda
crença como igualmente válida dificilmente é uma virtude real, mas é
praticamente o único tipo de virtude que o pós-modernismo conhece. As
virtudes tradicionais (incluindo humildade, domínio próprio
e castidade) são abertamente zombadas e até mesmo consideradas como
transgressões, no mundo do pósmodernismo.
Previsivelmente a
beatificação da tolerância pósmoderna tem tido seus efeitos desastrosos
sobre a verdadeira virtude em nossa sociedade. Nestes tempos de
tolerância, o que era proibido passou a ser encorajado. O que era
tido como imoral é agora festejado. Infidelidade marital e
divórcio foram normalizados. Impureza é o lugar comum.
Aborto, homossexualidade e perversões morais de todos os tipos
são aclamados por grandes grupos e entusiasticamente promovidos pela
mídia popular. A noção pós-moderna de tolerância está
sistematicamente virando virtude genuína na cabeça deles.
Praticamente a
única coisa a ser rejeitada pela sociedade como maligna é a noção
simplória e politicamente incorreta que o estilo de vida, religião, ou
perspectiva diferente de outra pessoa é incorreto. Uma exceção
notável àquela regra se destaca claramente: os pós-modernistas aceitam a
intolerância se for contra aqueles que alegam conhecer a verdade, particularmente
os cristãos bíblicos. De fato, aqueles que se proclamam os advogados
líderes de tolerância atualmente são frequentemente os oponentes mais
declarados do Cristianismo evangélico. Basta dar uma olhada na Internet, por
exemplo, e veja o que está sendo dito pelos autoestilizados campeões
de tolerância religiosa. O que você vai encontrar é uma
grande quantidade de intolerância pelo Cristianismo bíblico.
Na verdade, alguns dos materiais mais amargos anticristãos na Internet podem
ser encontrados em sites supostamente promovendo a tolerância
religiosa.!
Por que isso? Por
que o Cristianismo bíblico autêntico depara com tal feroz oposição de
pessoas que pensam ser modelos de tolerância? É porque as alegações de
verdade das
Escrituras e
particularmente as alegações de Jesus de ser o único caminho para Deus —
são diametralmente opostos às pressuposições fundamentais da mente
pós-moderna. A mensagem cristã representa um golpe fatal à
cosmovisão pós-modernista.
Mas se os cristãos
se deixam enganar ou são intimidados a suavizar as alegações diretas de
Cristo e a alargar o caminho estreito, a igreja não fará
qualquer progresso contra o pós-modernismo. Nós precisamos recuperar
a distinção do evangelho. Precisamos reconquistar nossa confiança no poder
da verdade de Deus. E nós precisamos proclamar com ousadia que Cristo é a única verdadeira
esperança para o povo deste mundo. Isso pode não ser o que o povo quer
ouvir neste tempo pseudo-tolerante do pós-modernismo, mas é verdade
assim mesmo. E precisamente porque é verdade e o evangelho de Cristo
é a única esperança para um mundo perdido é que é ainda mais urgente
levantarmos acima de todas as vozes de confusão no mundo e dizer desta
forma.
O restante deste
livro irá examinar seis conceitos chaves que explicam a distinção do
Cristianismo. São princípios que totalmente contradizem a sabedoria
convencional do pósmodernismo, mas eles são componentes essenciais de
uma cosmovisão bíblica. Esses seis princípios, definidos por
seis palavras-chave, se elevam uns sobre os outros e se interligam de
tal modo que permanecem em pé ou caem juntos. Eles nos dão a estrutura
necessária para o pensamento, para entendermos o mundo à nossa volta e
para ministrarmos neste tempo pós-moderno.
(Princípios para uma cosmovisão bíblica – John
MacArthur. Pg. 07)