quarta-feira, 23 de julho de 2014

Objetividade

A tua palavra é a verdade. (Jo 17 .17)

O Cristianismo autêntico começa com a premissa de que

existe uma fonte de verdade fora de nós. Especificamente a

Palavra de Deus é verdade (Sl 19.151; Jo 17.17). Ela é

objetivamente verdade — quer dizer, ela é verdade quer fale

subjetivamente a um dado indivíduo ou não; é verdade

independente de como alguém se sente sobre ela; é verdade

para todos universalmente e sem exceções; é absolutamente

verdade.

Isso, é claro, contradiz a pressuposição básica que

governa o pensamento da maioria das pessoas atualmente. A

filosofia pós-moderna diz que não existe tal coisa como

verdade absoluta ou, se houver, será impossível de ser

conhecida. Segundo o pós-modernismo, verdade nada mais é

do que uma criação da mente humana; as pessoas

determinam sua própria realidade; e portanto, ninguém tem

a verdade. Acima de tudo, o pós-modernista está convencido

de que nenhuma religião é superior a outra. Nós não

devemos pensar que nossas crenças são necessariamente válidas

para mais ninguém. Nem tampouco qualquer posição

teológica será, em tempo algum, tida como certa ou errada. O

que eu acredito é válido para mim; e seja lá o que for que

você crê é igualmente válido para você. E desta forma nós

podemos aceitar a religião um do outro, mesmo se nossas

crenças totalmente contradizem uma a outra. Esse é o credo

do pós-modernista.

“Você pode não se dar conta de quão profundamente

esse tipo de pensamento penetrou na consciência

contemporânea, mas ele já tomou conta do mundo

acadêmico e secular Dois meses após o dia 11 de setembro

de 2001, do dia que ocorreu o ataque terrorista ao World

Trade Center [Centro Mundial de Comércio] e ao Pentágono, o

ex-presidente dos Estados Unidos da América, EUA, Bill

Clinton, proferiu um discurso na Universidade de

Georgetown, no qual ele sugeriu que o senso "arrogante de

justiça" dos norte-americanos era em parte responsável por

ter feito a nação um alvo do terrorismo.

Aparentemente, para Clinton, toda a confusão poderia

ter sido evitada se todas as pessoas de ambos os lados

tivessem simplesmente se dado conta de que não existe tal

coisa como uma verdade absoluta ou universal e que,

portanto, nenhuma ideologia merece briga.

"Ninguém tem a verdade," disse ele aos estudantes.

"Vocês estão numa universidade que basicamente crê que

ninguém nunca tem a verdade toda, nunca Nós somos

incapazes de alguma vez ter a verdade completa." Os

terroristas”, sugeriu Clinton, estão sendo brutais e

intolerantes apenas porque acreditam serem donos da

verdade, enquanto que as atitudes mais tolerantes de nossa

sociedade são enraizados na compreensão de que a verdade

absoluta é impossível de ser conhecida. "Eles acreditam tê-la,

mas nós, porque acreditamos que ninguém pode ser dono de

toda a verdade, nós pensamos que todos são importantes."1

Essas observações praticamente resumem a atitude da

sociedade atualmente. O ceticismo foi entronizado e

consagrado, enquanto que a fé confiante foi banida e

exorcizada. A única coisa de que podemos estar certos é que

nós não podemos estar certos de coisa alguma. Ter

convicções fortes sobre qualquer coisa (outra que não seja

nossa própria inabilidade de descobrir a verdade), é tido

como inerentemente intolerante até mesmo perverso. Além

disso, de acordo com o modo de pensar pós-moderno, pouco

adianta tentar combater as falsas idéias com as verdadeiras.

Afinal de contas, eles dizem se alegarmos que temos a

verdade, nós nos tornamos exatamente tão maus quanto os

terroristas. Então, em vez disso, a inteligência pós-moderna

está fazendo o que pode para tirar de todo mundo a noção

arcaica de que verdade absoluta e objetiva é passível de ser

conhecida de alguma forma.

Este ponto de vista está moldando o mundo em que

vivemos. Multidões literalmente e de todo coração acreditam

que podem construir sua própria realidade e definir sua

própria verdade. A popularidade de tal filosofia é responsável

pelo crescimento da religião e ideologia da Nova Era. Explica

também porque as pessoas de hoje em dia são mais voltadas

para si mesmas e mais narcisistas do que praticamente as de

qualquer outra geração na História.

O ex-presidente Clinton estava sugerindo que é

arrogância alguém pensar que conhece a verdade absoluta,

mas arrogância de fato é aquela da pessoa que pensa que

pode inventar sua própria verdade para a ocasião.

Quando tudo depende de sua definição de o que é —

quando os indivíduos podem re-imaginar e re-interpretar

tudo subjetivamente de modo que cada pessoa determina o

que é certo a seus próprios olhos — a civilização encontra-se

em sérias dificuldades. Essa é a direção na qual caminha

nossa sociedade. Tendo acatado a noção de que verdade

absoluta é impossível de ser conhecida, as pessoas se dispõe

a aceitar quase qualquer coisa em lugar da verdade.

Mesmo na igreja tem havido uma erosão séria de

confiança na verdade objetiva das Escrituras. Dogmatismo

sobre qualquer ponto da doutrina é geralmente considerado

fora de moda; incerteza e abertura a múltiplos pontos de

vista é o estilo próprio entre os pregadores e professores

nestes dias. Os movimentos de massa mais populares no

meio evangélico atual são ecumênicos em sua confiança,

insistindo para que coloquemos de lado a doutrina por amor

à harmonia. Tais tendências refletem uma capitulação diante

da idéia pós-moderna de que verdade absoluta é impossível

de ser conhecida e, portanto, ela não importa muito, afinal de

contas.

O desprezo do pós-modernismo pela verdade objetiva

está se infiltrando na igreja de formas sutis, também. É só

participar de um típico encontro evangélico para estudo da

Bíblia no lar e você verá que, com grande probabilidade, será

convidado a compartilhar sua opinião sobre "o que este

versículo significa para mim," como se a mensagem das

Escrituras fosse diferente para cada indivíduo. É raro o

professor estar preocupado com o que as Escrituras

significam para Deus.

Se realmente cremos que as Escrituras são a Palavra de

Deus, por que nós hesitamos em dizer que ela tem um

significado objetivo; é absolutamente verdade; e todas as

outras interpretações são falsas? Os evangélicos sempre

acreditaram que as Escrituras são claras — seu significado

essencial é evidente de imediato. Não é um segredo ou um

mistério para ser solucionado. A Bíblia é a revelação de Deus

para nós. É uma revelação da verdade; não é um enigma. E

em todos os assuntos essenciais ela fala com perfeita clareza.

Certamente que nas Escrituras " ... há certas coisas

difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam

... para a própria destruição deles" (2Pe 3.16). Existem

também muitos assuntos de importância secundária sobre os

quais nós não precisamos discutir muito. Em tais assuntos

indiferentes a regra é clara: "Cada um tenha opinião bem

definida em sua própria mente" (Rm 14.5), mas a mensagem

principal das Escrituras e a mensagem do evangelho em

particular é clara e sem ambigüidade. Não "provém de

particular elucidação," e seu significado não está sujeito a

preferências individuais. "Porque nunca jamais qualquer

profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens

santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito

Santo" (2Pe 1.20,21).

Repetidas vezes a Escritura faz esse tipo de alegação

sobre si mesma: "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil

para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a

educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja

perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra"

(2Tm3.16,17). Em outras palavras, a Escritura não apenas é

inspirada por Deus, mas é também suficiente para nos

equipar totalmente com toda a verdade espiritual de que

precisamos. É mais segura do que os nossos próprios

sentidos (2Pe 1.19, KN). Ela "permanece eternamente" (1Pe

1.25). É garantida até cada til e i (Mt 5.18). É imutável e

"permanece eternamente" (Is 40.8). Jesus mesmo disse,

"Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não

passarão" (Mt 24.35).

O Cristianismo autêntico sempre sustentou que as

Escrituras são a verdade absoluta, objetiva. É tão verdade

para uma pessoa quanto o é para outra, independente da

opinião seja lá de quem for sobre ela. Ela tem um significado

verdadeiro que se aplica a todo mundo. É a Palavra de Deus

para a humanidade e seu verdadeiro significado é

determinado por Deus; não é alguma coisa que possa ser

formatada para encaixar nas preferências de ouvintes

individuais.

As Escrituras são absolutamente verdadeiras, quer

afetem você e eu, quer não. As Escrituras seriam verdadeiras

mesmo que não existíssemos. De nenhuma maneira a

verdade das Escrituras é decidida pela experiência de

alguém. Se ela nos afeta ou não subjetivamente nada tem a

ver com seu significado de fato ou veracidade. A mensagem

das Escrituras não é maleável. Não é singular para cada

pessoa. Não é determinada pela experiência pessoal ou

opinião pessoal.

Isso significa um forte golpe para um grande segmento

dos que professam o Cristianismo atualmente. Multidões

estão procurando ouvir a voz de Deus em suas cabeças ou

buscando algum tipo de epifania intuitiva na qual a verdade

lhe será revelada subjetivamente, mas a única verdade final e

absoluta para o cristão — a verdade que supera todas as

opiniões particulares, sentimentos pessoais e experiências

subjetivas é a verdade objetiva de Deus como revelada nas

Escrituras quando corretamente interpretada.

A verdade bíblica é objetiva. É verdadeira em si mesma.

É verdadeira se sentimos ou deixamos de sentir que é

verdadeira. É verdadeira se foi ou não validada pela

experiência de alguém. É verdadeira porque Deus disse que é

verdadeira. É verdadeira por completo e é verdadeira até o

menor til ou i. O Salmo 119. 160 diz, "As tuas palavras são

em tudo verdade desde o princípio, e cada um dos teus justos

juízos dura para sempre" (Sl 119.160).

Esse é exatamente o ponto de partida e o alicerce

necessário para uma cosmovisão cristã verdadeira. Abra mão

do fundamento da verdade bíblica e seja qual for o sistema de

crença que reste não vale a pena ser chamado cristão,

mesmo se ele retiver vestígios do simbolismo e da

terminologia cristãos.

Muitos que se intitulam cristãos atualmente estão

precisamente nessa situação. Eles usam linguagem e

simbolismo cristãos, mas a fonte real da autoridade deles é

algo além das Escrituras. Alguns simplesmente vivem pelo

que sentem e moldam suas crenças segundo suas

preferências pessoais. Outros alegam que Deus lhes fala

diretamente por meio de vozes, impressões fortes, ou

sentimentos vagos que eles interpretam como revelações

diretas do Espírito Santo. Outros ainda pensam que as

Escrituras são escritos improvisados que eles podem

modificar ou interpretar da maneira que desejarem. De

qualquer modo, a vida e crença deles são comandadas pelas

suas preferências pessoais. As crenças deles não são

realmente diferentes daquelas dos seguidores da Nova Era

que acreditam que a verdade é encontrada dentro deles

mesmos.

Mas o Cristianismo histórico é baseado na revelação

objetiva das Escrituras. Essa é a razão pela qual nossa

primeira palavra-chave para descrever a cosmovisão cristã é

objetividade. Nossa fé está firmada na convicção de que Deus

falou e a sua Palavra é a verdade objetiva. O que ele nos deu

é absoluto e inabalável. É a verdade pelas quais todas as

outras alegações de verdade são medidas.

(Princípios para uma cosmovisão bíblica – John MacArthur. Pg. 17)

Racionalidade

Não vos escrevi porque não saibais a

verdade; antes, porque a sabeis, e porque

mentira alguma jamais procede da verdade.

(Jo 2.21)

Uma segunda palavra-chave que ajuda a definir uma

cosmovisão autenticamente cristã é a racionalidade. Nós

acreditamos que a revelação objetiva das Escrituras é

racional. A Bíblia faz sentido perfeitamente. Ela não contém

contradições, nem erros nem princípios mal fundamentados.

Qualquer coisa que contradiga as Escrituras é falso.

Esse tipo de racionalidade é oposto a todo o conteúdo do

pensamento pós-moderno As pessoas da atualidade são

ensinadas a glorificar a contradição, a abraçar o que é

absurdo, a preferir o que é subjetivo e a permitir que os

sentimentos (em vez do intelecto) determinem o que eles

crêem. Elas são ensinadas a não rejeitar idéias apenas

porque contradizem o que nós aceitamos ser verdadeiro. E

elas são até mesmo encorajadas a abraçar conceitos

contraditórios e mostrar-lhes o mesmo respeito como se

fossem verdadeiros. Tal irracionalidade não é nada menos do

que rejeitar o conceito da verdade.

Como cristãos nós sabemos que Deus não pode mentir

(Tt 12). Ele não "pode negar-se a si mesmo" (2Tm 2.13); e,

portanto, ele não se contradiz. Ele não é Deus de confusão

(1Co 14.33). Sua verdade é perfeitamente coerente.

Isso significa primeiro de tudo, que a Palavra de Deus é

um registro preciso e incontestável da verdade. A Bíblia não é

cheia de absurdos, contradições ou fantasias. Ela é

perfeitamente consistente com tudo o que é verdadeiro. Os

fatos colocados pelas Escrituras são fidedignos.

Os eventos históricos descritos na Bíblia são história

verdadeira, não alegorias míticas ou exóticas. A doutrina

ensinada nela é sem erro. Os detalhes das Escrituras são

preciosos, desde o dia da Criação até o dia final da

consumação, da volta de Cristo. As Escrituras em si são

completamente livres de todos os erros e deficiências.

" ... é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til

sequer da Lei" (Lc 16.17). É desse modo que Cristo via as

Escrituras, e qualquer pessoa que adote um ponto de vista

diferente não será, nesse aspecto, um seguidor genuíno de

Cristo.

Mas existe uma segunda, igualmente importante,

implicação de nossa confiança na veracidade absoluta de

Deus: Visto que sua Palavra é verdade objetiva e

perfeitamente fidedigna em tudo que ensina, as Escrituras

deveriam ser tanto o ponto de partida como o de chegada do

teste da verdade em todo nosso pensamento. Se as

Escrituras são totalmente verdadeiras, então qualquer coisa

que as contradiga é simplesmente falsa, mesmo se estivermos

falando de crenças fundamentais sobre as quais as ideologias

mais populares do mundo são baseadas.

Esse tipo de racionalidade em branco e preto é uma das

principais razões do Cristianismo bíblico ser intolerável

numa geração que despreza a simples idéia de verdade

absoluta.

A fim de que ninguém entenda mal, nós não estamos

defendendo o racionalismo — a noção de que a razão humana

sozinha, independente de qualquer revelação sobrenatural,

possa descobrir a verdade. Um racionalista imagina que a

razão humana é tanto a fonte como o teste final de toda

verdade. O fato é que o racionalismo exalta a razão humana

acima das Escrituras.

Como cristãos nós nos opomos ao racionalismo, mas o

Cristianismo não de modo algum hostil a racionalidade. Nós

cremos que a verdade é lógica; é coerente; é inteligível. Não

apenas a verdade pode ser conhecida racionalmente; ela não

pode ser conhecida de modo algum se nós abandonarmos a

racionalidade.

Irracionalidade é uma agressão às Escrituras e aos

intentos de Deus. Quando Deus deu a Bíblia, era para que

ela fosse entendida, mas ela só pode ser entendida por

aqueles que aplicam sua mente a ela racionalmente.

Contrário ao que muitos podem pensar o significado das

Escrituras não é algo que nos vem através de meios místicos.

Não é segredo espiritual que tem de ser descoberto por algum

método enigmático ou arbitrário. Seu significado verdadeiro

pode ser entendido apenas por aqueles que a abordam

racionalmente e sensivelmente.

Neemias 8 descreve o re-avivamento que se passou

naquele tempo, motivado pela leitura pública das Escrituras.

Neemias descreve a cena:

Em chegando o sétimo mês, e estando os

filhos de Israel nas suas cidades, todo o

povo se ajuntou como um só homem, na

praça, diante da Porta das Águas; e

disseram a Esdras, o escriba, que trouxesse

o livro da lei de Moisés, que o SENHOR

tinha prescrito a Israel. Esdras, o sacerdote,

trouxe a lei perante a congregação, tanto de

homens como de mulheres e de todos os

que eram capazes de entender o que

ouviam. Era o primeiro dia do sétimo mês. E

leu no livro, diante da praça, que está

fronteira à Porta das Águas, desde a alva até

ao meio-dia, perante homens e mulheres e

os que podiam entender; e todo o povo tinha

os ouvidos atentos ao livro da lei (Ne 8.1-3).

Observe-se a ênfase na atenção do povo.

A leitura era em beneficio" ... de todos os que eram

capazes de entender o que ouviam ... os que podiam

entender." O versículo 8 descreve como Esdras e os escribas

fizeram a leitura: "Leram no livro, na lei de Deus, claramente,

dando explicações, de maneira que entendessem o que se lia"

(Ne 8.8).

A leitura não foi um exercício ritualista, como um canto

ou a entoação cerimonial de alguma liturgia. Era dirigido às

faculdades cognitivas das pessoas — suas mentes racionais.

O poder da Palavra de Deus reside em seu significado,

não meramente no som das palavras. Não era um

encantamento mágico em que seu poder pode ser liberado

meramente recitando sílabas, mas o poder inerente nas

Escrituras é o poder da verdade. Eu gosto de dizer que o

significado das Escrituras é as Escrituras. Se você não

interpretar a passagem corretamente, então você não tem a

Palavra de Deus, porque apenas o significado verdadeiro é a

Palavra de Deus.

Não é como se nós pudéssemos fazer as palavras

significarem qualquer coisa que queiramos que elas

signifiquem, de forma que, seja qual for a conotação que

impusermos às palavras, elas se tornam a Palavra de Deus.

Somente a interpretação verdadeira do texto é a autêntica

Palavra de Deus e qualquer outra interpretação

simplesmente não é o que Deus está dizendo.

Lembre-se, a Palavra de Deus é a verdade objetiva

revelada e, portanto, tem um significado racional. Esse

significado, e esse significado apenas, é a verdade. Entendêla

corretamente é de suprema importância.

Por essa razão é que é tão importante interpretarmos as

Escrituras cuidadosamente a fim de entendê-la corretamente.

É um processo racional, não um processo místico ou

estranho.

É um processo espiritual? Certamente. Eu nunca início

meu estudo da Palavra de Deus sem orar: "Senhor, abre meu

entendimento para ver a verdade." Mas eu não fico sentado

esperando que alguma coisa caia do céu; eu abro meus livros

e busco o entendimento racional do texto.

Isso começa com a compreensão de que as Escrituras

são internamente coerentes. Portanto, enquanto nós

comparamos as Escrituras com as Escrituras, as partes mais

claras explicam as partes mais difíceis. Quanto mais

estudamos mais luz é lançada no nosso entendimento. É

trabalho mental duro, mas é também trabalho espiritual da

mesma forma.

De fato, nós somos totalmente dependentes do Espírito

Santo para nos ensinar a verdade, porque " ... o homem

natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe

são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se

discernem espiritualmente" (1Co 2.14).

Mas a maneira como o Espírito Santo nos dá

entendimento é através de nossas mentes — empregando

nossas faculdades racionais (v. 16; Ef 1.18; 4.23; 2Tm 1.7).

A teologia neo-ortodoxa, que encontrou destaque na

primeira metade do século 20, causou tremenda confusão

sobre a racionalidade da verdade. Os teólogos neo-ortodoxos

insistiam que o Cristianismo é um sistema de crença

irracional — uma religião de "paradoxo". O que eles estavam

realmente dizendo é que o Cristianismo é cheio de

contradições. Paradoxo é uma designação errônea no sentido

em que eles o usavam. “Um verdadeiro paradoxo é um jogo

de palavras, tal como "Porém, muitos primeiros serão

últimos; e os últimos, primeiros" (Mt 19.30), e ''Não é assim

entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre

vós, será esse o que vos sirva" (Mt 20.26).

Mas quando os neo-ortodoxos usam o termo paradoxo

eles estão falando de uma contradição real. Eles consideram

toda verdade como irracional, contraditória e absurda à

mente lógica. No sistema deles, fé implica no abandono da lógica.

É um pulo cego no abismo do irracionalismo. Eles

emprestaram seu irracionalismo da filosofia existencial e

fizeram dele uma marca registrada de sua teologia.

Ao fazer isto, eles lançaram fundamentos para uma

versão pós-moderna do Cristianismo.1 Mas esse não é o

Cristianismo verdadeiro porque ele abandonou a

racionalidade, que é essencial à verdade propriamente dita.

O problema com tal irracionalismo é que ele anula a lei

da não-contradição, o fundamento essencial de todo

pensamento racional. Se duas proposições contraditórias

pudessem ser ambas verdadeiras ao mesmo tempo, então

uma idéia que se opõe à verdade não poderia necessariamente

ser considerada errada. A antítese de uma afirmação

verdadeira não poderia automaticamente ser julgada falsa.

Este é o mesmo tipo de pensamento que reside no coração da

tolerância pós-modernista. Não é uma visão cristã da

verdade. É irracionalismo.

O apóstolo Paulo escreveu, "Se alguém ensina outra

doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso

Senhor Jesus Cristo e com o ensino segundo a piedade, é

enfatuado, nada entende, mas tem mania por questões e

contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação,

difamações, suspeitas malignas" (1 Tm 6.3,4). A afirmação de

Paulo assume que a verdade é racional e seja o que for que

contradiga a verdade está errado. Este é o entendimento

cristão correto da verdade bíblica.

É a antítese do pensamento pós-modernista.

Existem algumas partes difíceis de entender na doutrina

cristã. Por exemplo, nós acreditamos que Deus é soberano

sobre a vontade humana "Como ribeiros de águas assim é o

coração do rei na mão do SENHOR; este, segundo o seu

querer, o inclina" (Pv 21.1). Não obstante, cremos que a

pessoa escolhe livremente de acordo com seus desejos de

modo que cada um é moralmente responsável por suas ações

"Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a

Deus" (Rm 14.12). Muitos acham essas verdades difíceis de

reconciliar; contudo não existe de fato nenhuma contradição

entre elas. A soberania de Deus não se encontra em conflito

com a responsabilidade humana. Os dois princípios

trabalham em perfeita harmonia, mesmo embora não seja

imediatamente óbvio para nós o como eles funcionam. Nós

também acreditamos na Trindade — que Deus é um em

essência, mas subsiste em três pessoas. Alguns tentam

caracterizar esta doutrina como contraditória, mas ela não é.

Nós não cremos que Deus é três no mesmo sentido em

que ele é um. Tais verdades não são contraditórias; elas não

são nem ao menos paradoxos no sentido em que os neoortodoxos

usam os termos. Elas são verdades difíceis que, no

máximo, requerem que exercitemos cuidado extra na

aplicação da lógica com rigor, mas nós não devemos pensar

que são irracionais. Elas não são.

Irracionalidade é equivalente à negação da verdade.

Precisamente porque acreditamos que a Bíblia é

objetivamente verdadeira, nós insistimos que ela deve ser

compreendida e interpretada racionalmente.

(Princípios para uma cosmovisão bíblica – John MacArthur. Pg. 23)