POR: Dr. David Murray
João 4. 21-24
Muitos crentes e igrejas, em todo mundo, estão
redescobrindo a verdade a respeito da adoração reformada. Isso é uma
providência maravilhosa da parte de Deus, mas na maioria das vezes essa verdade
reformada se limita apenas à doutrina da salvação. Em outras palavras a reforma
estancou no ponto referente às doutrinas da graça e não foi além, não progrediu
para outras áreas, como por exemplo, a vida cristã e o culto cristão. Isto na
verdade não é uma reforma plena porque a reforma verdadeira e plena atinge
todas as áreas da plenitude e da vida dos cristãos e da Igreja. Quero falar
sobre o tópico da necessidade de se trazer reforma para toda a área que diz
respeito à adoração. Gostaria de tratar de três áreas deste tema. Na primeira
gostaria de tratar da história da reforma da adoração. Em segundo
lugar, do regulamento da adoração bíblica, e em terceiro lugar
tratar das razões para termos uma adoração bíblica.
Quando os reformadores redescobriram o evangelho
bíblico, eles também perceberam a necessidade da redescoberta da adoração
bíblica. Quando perceberam a salvação em termos de glorificar a Deus, nos
termos da centralidade de Deus, então perceberam que a adoração resultante
disso também deve ser uma adoração centrada em Deus e que glorifique a Deus.
Eles viam tantas coisas e acréscimos humanos colocados na adoração a Deus como
os altares, vestimentas, velas, outros sacramentos, incensos, etc. e para
retornar a uma adoração centrada em Deus eles tinham de jogar fora todos
aqueles acréscimos humanos. Martinho Lutero iniciou este processo.
Zuínglio, Martin Bucer e Calvino continuaram depois dele. Cada um deles ia jogando
fora mais e mais aquilo que pertencia à imaginação humana e trazendo mais e
mais aquilo que era centrado em Deus. Eles entenderam que nesta área da
adoração, a melhor forma de se centralizar em Deus era se centrando na Palavra.
Quando eles jogaram fora tudo que era feito pelo homem, isso deixou um vácuo a
ser preenchido. Dentro deste vácuo eles tinham de colocar a adoração centrada
na Palavra de Deus.
Vamos inicialmente focalizar esta área dos cânticos
de louvor. A Reforma passou por dois estágios na reforma dos cânticos na
Igreja. Em primeiro lugar, Lutero foi o pai do cântico congregacional. Ele viu
que por mais de mil anos na Igreja os cânticos estavam nas mãos dos corais, dos
monges e das freiras e não nas mãos do povo de Deus. Uma das primeiras coisas
que Martinho Lutero fez em 1524 foi introduzir na Igreja o uso do hinário.
Lutero deu de volta ao povo de Deus o cântico congregacional. Eles não
precisavam mais vir ao culto vendo-o apenas como uma forma de performance, mas
eles vinham para participar. A segunda etapa foi com Calvino. Lutero restaurou
o louvor congregacional, mas Calvino restaurou a cântico bíblico. Calvino via
que na igreja primitiva, início do Novo Testamento, a igreja cantava os salmos.
Ele percebeu que o coração não apenas deve ser guiado pela Bíblia, mas que a
adoração deve ser repleta de Bíblia e que o cântico na adoração bíblica não
precisa apenas ser guiado pelos princípios bíblicos, mas deveria ser cheio de
conteúdo bíblico. Então, Calvino reintroduziu o saltério na igreja de Cristo.
Para Calvino a adoração a Deus deveria ser o encontro com a Palavra, a leitura
da Palavra, a pregação da Palavra, o cântico da Palavra. Tudo tinha de ser
centralizado na Palavra de Deus. Esta é uma breve história da reforma do culto
bíblico.
II) A Regulamentação da Adoração Bíblica
Todo cristão tem alguma regulamentação acerca da
adoração. Todo crente coloca uma “linha” (limite) em algum lugar no culto. De
um lado da linha há uma adoração aceitável e do outro lado da linha uma que é inaceitável.
Todos nós estamos de acordo que existem algumas coisas que são boas para o
culto e outras que não devem existir no culto. A única questão é: Como e onde
vamos colocar esta “linha” demarcatória? Qual a regra que vamos seguir para
saber qual é o aceitável e o inaceitável? Deixe-me dar algumas regras que são
usadas em nossos dias. Todos nós temos alguma destas regras.
a) O Passado. “Sempre foi assim!”. E se foi
suficiente para as pessoas do passado, será bom para nós também hoje. Nossos
pais adoraram assim então nós adoraremos assim. Dessa forma o passado é a regra
para o presente.
b) A Preferência. É a regra do que eu gosto,
do que eu quero e do que eu acho agradável. Eu gosto assim; eu me sinto bem com
isso; isso está de acordo com minha personalidade. É a minha preferência.
c) Pragmatismo. Funciona, atrai pessoas e é
popular? Então, vamos fazer assim! Não fazer de outra forma porque isso não
seria popular e não atrairia as pessoas. Assim, nossa regra é o pragmatismo: o
que funciona.
d) Proibição. Tudo é permitido desde que não
seja explicitamente proibido na Palavra de Deus. Esse foi o princípio que
Lutero usou. Ele basicamente disse: Se a Bíblia não proíbe as velas, então
podemos usá-las e assim por diante. Então, se não houver uma clara proibição,
podemos fazer. A Bíblia não proíbe em nenhum lugar a dramatização no culto,
então pode-se usar o drama, o teatro e assim por diante.
Eu diria que estas são as quatro regras mais usadas
hoje pelas pessoas para saber o que devem fazer no culto. Mas a pergunta a ser
feita é: isso é Bíblico? A resposta é: Não! Então, qual é a regra bíblica? É a
regra usada por Calvino que a descobriu na Palavra de Deus: Somente aquilo que
é ordenado na Bíblia deve ser permitido no culto a Deus. Verdadeira adoração é
adoração ordenada nas Escrituras conforme a vontade de Deus. Se não for
ordenado, não é autorizado. A Bíblia ordena dramatização, teatro, no culto?
Não. A Bíblia ordena o uso de velas? Não. A Bíblia ordena o uso de vestimentas
clericais? Não. Então, temos aqui a regra mais radical de todas. É o Princípio
Regulador. Mas, de certa forma nós podemos dizer que todas aquelas regras são
“princípios reguladores”. Todas elas regras regulam o culto. Então, todos nós
temos algum tipo de princípio regulador. Então a pergunta é: Será que este
nosso princípio regulador é o Princípio Regulador da Bíblia? O Princípio
Regulador bíblico, como podemos demonstrar, é a prescrição. Somente
aquilo que foi ordenado é permitido. Quando estamos considerando nossa
adoração, é esta a pergunta que devemos fazer: Deus ordenou isso? Não devemos
perguntar: Ele proibiu isso? Isso foi sempre feito assim? Gostamos disso?
Também não devemos perguntar, “isso funciona?”. E assim por diante.
Por que Deus fez assim com o culto? Em parte é porque
temos corações pecaminosos e corruptos. Nossos corações não são confiáveis! E
não podemos confiar em nossos corações para acharmos a forma correta de adorar
a Deus. Por isso Deus nos deu direcionamento suficiente para que sigamos. E
este direcionamento é uma direção externa a nós. Deus tem o direito de decidir
como Ele mesmo quer que seja adorado. Pense no presidente do Brasil. É ele que
decide como funciona seu governo, como as pessoas devem se aproximar dele. Ele
decide o cerimonial para receber as pessoas. Se nós desejamos agradá-lo, então
vamos seguir tudo aquilo que ele determinou. E se os governadores humanos fazem
assim, quanto mais o Rei dos Reis e o Senhor dos Senhores. De onde tiramos isso
na Bíblia?
Vejamos em Levítico 10.1-3:
“Nadabe e Abiú, filhos de Arão, tomaram
cada um o seu incensário, e puseram neles fogo, e sobre este, incenso, e
trouxeram fogo estranho perante a face do SENHOR, o que lhes não ordenara.
Então, saiu fogo de diante do SENHOR e os consumiu; e morreram perante o
SENHOR. E falou Moisés a Arão: Isto é o que o SENHOR disse: Mostrarei a minha
santidade naqueles que se cheguem a mim e serei glorificado diante de todo o
povo. Porém Arão se calou” (Lv 10.1-3).
Vejamos aqui a frase-chave, no final do v. 1: “o
que lhes não ordenara”.
Estes homens eram religiosos e adoradores; tinham
boas intenções e provavelmente eram sinceros, mas fizeram o que não havia sido
ordenado por Deus.
E também em 1 Crônicas 15.13:
“Pois, visto que não a levastes na primeira vez,
o SENHOR, nosso Deus, irrompeu contra nós, porque, então, não o buscamos,
segundo nos fora ordenado”.
Lembramos que aqui Davi e o povo de Israel tentaram
levar a arca da aliança e isto era uma coisa boa; estavam com muita
sinceridade, tinham boa motivação. Mas eles não fizeram segundo as ordenanças
de Deus. Por isso, quando Uzá tentou tocar na arca, Deus o matou. Assim eles
disseram: “não o buscamos, segundo nos fora ordenado”. Podemos ver a
mesma coisa com o Rei Jeroboão e o Rei Uzias que foram castigados por terem
adorado a Deus de uma forma que Ele não tinha ordenado. Deus tem nos dado
muitas advertências sobre o que Deus nos fará se não respeitamos aquilo que Ele
tem definido. Quando nós realmente abraçamos este princípio de que somente
aquilo que Deus tem ordenado é legítimo no culto, o que sobra?
A Confissão de Fé de Westminster inclui estes dois
versículos citados, no 2º Mandamento da Lei e no Capítulo XXI, I (Do Culto e do
Dia de Repouso) afirma:
“Mas a forma aceitável de cultuar o Deus
verdadeiro é instituída por sua própria vontade revelada, de modo que ele não
pode ser cultuado segundo as imaginações e invenções humanas, nem segundo as
sugestões de Satanás, sob alguma representação visível, ou por qualquer outra
forma não prescrita na Sagrada Escritura” (CFW).
Veja o que lemos aqui. Nós não podemos adorar a
Deus usando ídolos ou qualquer outra forma não ordenada na Palavra. Mas alguém
poderia dizer; “Eu nunca iria adorar a Deus com ídolos”, mas aqui a Confissão
de Fé de Westminster reúne o ensino bíblico sobre este assunto e diz que
qualquer adoração que não encontra prescrição ordenada por Deus na Palavra, é
idolatria. Não é que você está adorando ao Deus errado, mas a questão é
que você está adorando a Deus de forma errada; de uma forma não ordenada nas
Sagradas Escrituras. Então, podemos usar isso também na área do louvor, nos
cânticos, porque podemos aplicar este princípio a todas as áreas do culto. Do
início até o fim, Deus tem ordenado esta área ou aquela; Ele ordena isto e
aquilo. E nos cânticos de louvor, o que Deus nos ordenou a usar? Segundo o
pensamento dos reformadores, Deus nos ordenou o cântico dos Salmos. No Velho
Testamento temos exemplos dos Salmos sendo cantados, mas também no Novo
Testamento. Por exemplo, Colossenses 3.16 ― “Habite, ricamente, em vós a
palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria,
louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em
vosso coração”e Efésios 5.19. À primeira vista, vendo estes versículos você
pode dizer: “Então eu posso cantar não apenas Salmos, mas outros cânticos
também”. Temos duas coisas a dizer em resposta a esta afirmação:
1) Os títulos dos Salmos do Velho Testamento
Primeiro, vejamos os títulos dos Salmos do VT. Eles
são traduzidos em grego (na Septuaginta) usando estes três títulos colocados
nestes versículos citados. Quando Paulo está falando deste cantar os “salmos,
cânticos e hinos espirituais”, ele está se referindo ao livro de Salmos que
contém “salmos, hinos e cânticos espirituais”. Esta expressão, “cânticos
espirituais”, significa cânticos do Espírito Santo ― Cânticos inspirados pelo
Espírito Santo. Pelos títulos dos Salmos, nós entendemos que Paulo está
dizendo: “Salmos, Salmos e mais Salmos”.
2) Exemplo do Novo Testamento
A segunda coisa é o exemplo que temos no NT. Por
exemplo, Mateus 26.30: “E, tendo cantado um hino, saíram para o monte das
Oliveiras”. Veja: “... tendo cantado um hino”. Aqui Jesus
estava sentado com seus discípulos na última Ceia Pascal e na primeira mesa da
Santa Ceia.
Mais uma vez hino, no grego,
significa Salmo. Naquela época, esta era uma prática bem conhecida na igreja
judaica. Quando os judeus estavam celebrando a páscoa, eles cantavam os hinos
pascais. Esses hinos pascais nós os encontramos dos Salmos 113 ao 118. Jesus
cantou com seus discípulos estes hinos. Um comentarista disse que o canto
destes Salmos de Hallel, por Cristo e seus discípulos na noite da Sua traição,
marca o momento no qual o saltério passa da antiga dispensação para a nova
dispensação, porque acompanhou a última celebração da páscoa e a primeira
celebração da Santa Ceia do Senhor. Neste versículo Jesus está dizendo que
estes mesmos Salmos do Antigo Testamento são adequados e suficientes no Novo
Testamento.
Então, como vimos antes, no Velho Testamento nós
temos prescrição e exemplo. Mas também no Novo Testamento nós temos prescrição
e exemplo. Vemos, portanto, como os reformadores restauraram o Princípio
Regulador do culto. Sendo assim, o culto precisa ser algo ordenado hoje.
Recentemente li uma citação de Ray Lanning que é um
perito reformado neste assunto de culto e ele dizia: “Das muitas mudanças
implementadas pelos reformadores, nenhuma foi mais dramática do que a mudança
do culto público”. Calvino disse: “Todo serviço a Deus que é inventado pelo
cérebro do homem na religião de Deus sem o Seu expresso mandamento é
idolatria”. Estas palavras são bem sérias.
III) As Razões do Culto Bíblico
Por que tudo isso é importante? Por que estamos
enfatizando estas coisas? Por que Deus deseja assim?
1º) Primeiro, porque seguindo este padrão bíblico,
conseguiremos ter simplicidade. Todas as decisões sobre o que deve
existir no culto se tornam tão simples. Não importa quantas pessoas, sejam elas
jovens ou velhas, cheguem dizendo: “Esta é uma idéia ótima para o culto”. Nós
não precisamos consultar o passado, não precisamos perguntar se isso vai ser
popular, não precisamos perguntar se isso vai funcionar, não é necessário
procurar na Bíblia para ver se há uma provisão, mas simplesmente perguntar:
“Isso foi ordenado? Isso é requerido?”. Simplicidade! Realmente isso iria
simplificar de forma impressionante os cultos de adoração nas igrejas.
2º) Um segunda razão é a espiritualidade.
A igreja Católica Romana chegou a ter um sistema de culto tão complexo que o
povo ficava vendo apenas aquilo que é externo na adoração. Eles esqueceram que
Deus quer ver nosso coração e que é necessário que o culto seja espiritual.
Quanto mais tornamos complexo nosso culto, mais externo, mais exterior ele se
torna. Mas se tiramos tudo que apela aos nossos olhos e nossos sentidos, nossa
visão, nosso tato, então chegarem a ter algo bem simples. Assim podemos no
focar no coração e não naquilo que está lá fora. Por isso os reformadores
pintaram de cal todas as igrejas, por dentro e por fora. Tiraram todas as
janelas com seus vitrais coloridos; aboliram todas as vestimentas clericais;
todos os incensos e sinos; tudo que impressionava os olhos. “Vamos simplificar”,
eles disseram “para que o povo possa novamente adorar de coração. Isso melhora
a espiritualidade”. Já participei de reuniões onde a adoração foi tão
extravagante, impressionante aos olhos e aos ouvidos. De fato isso tem sido
demasiado para ser provado, vivenciado. Nestas adorações os sentidos têm sido
tão estimulados que nos faz perguntar se aqui está sendo realizado um culto que
parte do coração.
3º) A terceira razão é a unidade. Qual
é a conseqüência quando as pessoas estão seguindo várias regras quanto ao
culto? A consequência é a divisão da igreja de Cristo! Cada
igreja faz aquilo que agrada aos seus próprios olhos. Um dia você entra em uma
igreja, outro dia em outra igreja, e percebe uma diferença enorme entre elas.
Uma diferença tão grande que estas igrejas nunca chegarão a se reunir para
adorar juntas. Todas aquelas regras não bíblicas têm levado a Igreja às
chamadas guerras litúrgicas. Imaginemos se todas as igrejas no Brasil fechassem
as suas portas e tivessem uma reunião a portas fechadas. Dissessem: “Vamos
abrir a Bíblia e, baseados na Palavra de Deus, vamos decidir o que Deus ordena
para estar presente em nossos cultos; se acharmos alguma coisa que é ordenada
na Bíblia, isso estará presente; se não acharmos uma ordenança para determinada
coisa, isso fica fora”. Não temos dúvida de que muitas coisas seriam colocadas
fora. Mas, imaginemos se depois dessa decisão as portas fossem abertas e todos
se reunissem para adoração uma conjunta. Todos eles estariam na “mesma página”.
Talvez isso requeresse algum tempo, mas todos chegariam ao mesmo ponto. Isso
uniria as igrejas de forma extraordinária e impressionante. Impressionaria o
mundo, também. Isso impactaria o mundo mais do que nossas divisões estão
fazendo.
4º) Uma quarta razão é a glória de Deus.
Se nós dissermos: “Nós não somos confiáveis para dizer o que é apropriado para
o culto; só Deus tem o direito de dizer o que é legítimo na adoração e eu me
submeto a tudo aquilo que Ele ordena”. O que isso diz? Diz que Deus esteja em
seu trono e eu esteja no pó! Isso dá a Deus o seu direito e nos torna seus
servos. Assim Deus é glorificado.
Mais uma vez vamos nos focar apenas nos Salmos.
1) Podemos cantar os Salmos a Cristo.
Quando lemos a palavra “Deus” ou “Senhor” ou “Rei”, nos Salmos, podemos cantar
estas coisas a Cristo o Senhor, Cristo o Rei. Seus títulos e seus nomes se
acham em todos os Salmos. Cristo o Criador, Cristo o Provedor, Cristo o Guia,
Cristo o Defensor, e assim por diante... Então cantaremos estes Salmos de uma
forma trinitariana.
2) Em segundo lugar podemos catar os
Salmos de Cristo (acerca de Cristo). Quantos salmos estão
profetizando sobre a vinda de Cristo a este mundo? Fiz uma lista rápida. Veja o
Salmo 45:6 que fala da divindade de Cristo; Salmo 2:7 que diz que Ele é o Filho
eterno; Salmo 8:5 que fala da encarnação de Cristo; os ofícios de Cristo como
mediador, Salmo 40:9-10 e Salmo 110:4; Salmo 41:9, que fala da traição do
Senhor; o julgamento de Cristo, Salmo 35:11; a rejeição de Cristo, Salmo
22:6; o sepultamento e rejeição de Cristo, Salmo 16: 9-11; a ascensão de
Cristo, Salmo 47:5; a segunda vinda de Cristo, Salmo 50:3-4. Mas de fato Cristo
não está nos Salmos, não é? Está ou não está? Muitos têm a vista curta. Todos
os Salmos que estamos entoando, cantam Cristo. Nós cantamos a Cristo e nós
cantamos de Cristo.
3) Em terceiro lugar cantamos por meio de
Cristo. Quando estamos oferecendo um culto a nosso Deus, devemos oferecê-lo
pela mediação de Cristo.
4) Em quarto lugar cantamos com Cristo.
Que hinário Cristo usava quando neste mundo? Ele usava o livro de Salmos. Isso
era o maná da Sua alma. Esses foram os salmos, os cânticos que sua mãe o
ensinou a cantar. Foram os cânticos que Ele tinha na memória quando estava na
Sinagoga; foram estes os cânticos que gradativamente lhe revelavam todas as
implicações do seu trabalho como Mediador. Portanto, vemos que em momentos
críticos e importantes de sua vida, estes Salmos surgem em seu coração. Estes
Salmos edificavam sua própria alma. O primeiro Salmo que uma mãe judaica
ensinava a seu filho era aquele que dizia: “Em tuas mãos entrego o meu
espírito”. Quais fora as últimas palavras que saíram da boca de Jesus? Veja
o salmo 22 e o 69. Eles nos revelam tudo que estava se passando na mente e no
coração de Jesus quando ele estava morrendo. Os Evangelhos nos revelam e
relatam muitas coisas dos sofrimentos externos de Cristo, mas não chegam a nos
informar aquilo que estava se passando no seu coração. Mas os Salmos nos
informam disso. Mil anos antes do evento da morte de Jesus estes Salmos profetizam
e nos predizem os pensamentos, temores e desejos que encheram o coração de
Jesus. Então, quando estamos cantando os Salmos guardemos em nossas mentes o
fato de que Cristo cantava estes Salmos, meditava neles. Onde e quando Cristo
cantou estes Salmos? Como Ele cantou estes Salmos? Você não teria muito prazer
e gozo em ouvir o próprio Cristo cantando estes Salmos? Por exemplo, não seria
prazeroso ouvi-lo cantando as palavras do Salmo 118.17-19?
“Não morrerei, mas viverei; e contarei as obras
do SENHOR. O SENHOR me castigou muito, mas não me entregou à morte. Abri-me as
portas da justiça; entrarei por elas, e louvarei ao SENHOR”.
Veja o Salmo 69. 19-21:
“Tu conheces a minha afronta, a minha vergonha e
o meu vexame; todos os meus adversários estão à tua vista. O opróbrio partiu-me
o coração, e desfaleci; esperei por piedade, mas debalde; por consoladores, e
não os achei. Por alimento me deram fel e na minha sede me deram a beber
vinagre”.
São palavras muitíssimo emocionantes. Procure
pensar em Cristo cantando estes cânticos no culto doméstico e em particular.
Lemos de Cristo saindo à noite para o deserto para orar e clamar a seu Pai. Não
teria Ele usado destas palavras em seus lábios santos? Não teria cantados todos
estes cânticos com todo sentimento e paixão? Jesus cantava aquilo que Ele mesmo
iria experimentar. Como Ele os cantou? Quando Ele os cantou? Ele era o salvador
dos Salmos. Que privilégio podermos tomar estes mesmos cânticos em nossos
lábios e podermos cantar com Cristo como Ele cantou. Ele cantou assim e nós
cantamos também. Nós cantamos a Ele, nós cantamos Dele,
cantamos por meio Dele e com Ele.
Deixe-me encerrar com algumas colocações finais:
1) Por que fazemos o que fazemos? Qualquer que seja
o modo de nosso culto é preciso que entendamos o porquê estamos fazendo assim.
Não é suficiente dizermos que sempre foi feito assim ou que todo mundo faz
assim ou que nos agrada fazer assim, porque isso não é uma defesa contra a
corrupção do nosso coração. A única defesa contra a corrupção do nosso culto é
o seguinte: Isto Deus tem nos ORDENADO! Segure, entenda, examine e aplique este
princípio e seja capaz de defender toda a parte da sua adoração à luz deste
princípio.
2) Adore de verdade. Uma coisa é dar uma palestra
sobre adoração. Uma coisa é lermos muitos livros sobre adoração, e pode se
tornar até um perito no assunto de adoração. Mas você sabe adorar? Você se
dobra a Deus? Em sua vida há uma adoração real, de coração a coração, ao seu
amado Salvador?
3) Vamos ter a coragem de fazer uma reforma em
nosso culto se assim for necessário. Lembram-se do que Jesus disse em Mateus
15.8-9: “Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios,
mas o seu coração está longe de mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas
que são preceitos dos homens”. Notem que não são os preceitos de Deus, mas
de homens. Ele diz: “em vão me adoram”. Então, vamos ter a coragem de
fazer uma reforma na adoração.
4) Vamos tentar persuadir outras pessoas. É esta a
palavra correta: PERSUADIR. Mas não vamos agir de forma a destruir igrejas, mas
vamos usar de gentileza, de forma sábia, gradativa, tentando ganhar as pessoas,
tendo paciência com elas porque por muitas vezes elas foram abençoadas com
outros hinos e corinhos em suas vidas. Você não deve esperar que de uma forma
súbita elas entendam tudo isso, mas de uma forma gradativa, introduzindo mais e
mais um culto bíblico. Um puritano, William Romaine, disse: “Eu sei que esta
adoração é um ponto que dói, por isso eu vou tocar nele de uma forma muito
delicada, com a maior gentileza que eu posso, na esperança de fazer algum bem”.
Ninguém se achega a um ferimento para traumatizá-la no intuito de curar. Mas
vai como uma mãe ou uma amável enfermeira, com muita habilidade e cuidado
limpando e cuidando lentamente. Mantenha sempre na mente o grande propósito:
Não apenas uma igreja pura e purificada, mas uma igreja unida e cheia de amor.
Existem duas formas eficazes para se persuadir e
que são muito melhor do que todas as palestras que você possa dar: (1) Cante os
Salmos com alegria no coração. (2) Se você é pastor pregue os Salmos. Se olhar
para trás, para a história do culto bíblico, a época quando os Salmos caíram em
desuso, essas épocas também coincidiram com o momento quando não se tinha a
pregação de Cristo nos Salmos. Quando você estiver pregando Cristo nos Salmos
será muito mais fácil persuadir o povo a cantar os Salmos para Cristo.
5) Em último lugar. Toda nossa adoração deve ser
uma antecipação do céu. Deve ter um sabor do céu vindouro. Esse é o grande fim
da adoração, nos levar ao céu e até trazer o céu até nós. Naquele dia quando
não haverá mais nenhuma divisão e nenhum argumento restará e todo propósito da
adoração aqui na terra deve ser para nos dá um pequeno sabor do céu vindouro.
Esperamos e oramos que esta seja nossa experiência.
Transcrição da palestra proferida por Dr. David
Murray na Sala de Leitura da CLIRE e do Projeto Os Puritanos em Recife e repetida
no Simpósio Os Puritanos em Maragogi/AL/2009
Perguntas e respostas feitas após a palestra em
Recife
1ª Pergunta:
Na Bíblia existem outros cânticos. O de Maria, o de
Ana, o de Simeão, nas cartas de Paulo, em Apocalipse e outros locais. Muitos
argumentam contra Salmodia exclusiva afirmando que estes hinos eram cantados, e
não eram Salmos. O que dizer deste argumento?
Resposta: É sempre bom, em todas as áreas da vida,
começar com um princípio e depois tratar dos casos mais difíceis. Por exemplo,
o caso do aborto. Muitas pessoas começam este tema com os casos mais difíceis
como incesto e estupro e concluem que devemos praticar aborto livre. Eles não
começam com o princípio e, à luz do princípio, olhar para os casos mais
difíceis. Então, a primeira pergunta é: Isto é um princípio bíblico? Se for,
então devemos começar por isto e depois olhar tudo à luz deste princípio, olhar
os casos mais difíceis à luz deste princípio. Não devemos olhar para os casos
difíceis e jogar fora o princípio. Como nós devemos ver estes cânticos que as
pessoas alegam serem cânticos das Escrituras e que não são Salmos? Primeiro, eu
acho que muitos dos cânticos que as pessoas alegam serem cânticos nem são
cânticos. Por exemplo, em Filipenses 2, nada indica que seja um cântico, apenas
os comentaristas dizem que é um cântico. Em segundo lugar, o cântico de Maria e
o cântico de Simeão, foram realmente cânticos de louvor inspirados, mas nunca
foram usados no louvor público a Deus. O princípio do qual estamos mencionando
fala do culto público, onde Deus é adorado de uma forma organizada e formal.
Este princípio não diz que as pessoas, em seus momentos devocionais
particulares, não possam cantar cânticos de louvor a Deus que surgem de seus
próprios corações. Não há evidência de que os cânticos de Maria e Simeão tenham
sido usados de uma forma geral na igreja primitiva. Há uma ou duas evidências
do uso do cântico de Maria na literatura da igreja primitiva, mas considerando
a grande quantidade de literatura existente, isso não é considerado como
menção.
2ª Pergunta:
O que dizer de pastores que usam o livro de
Apocalipse e o louvor no céu como modelo de louvor para nós hoje na igreja?
Apocalipse é um princípio que devemos usar?
Resposta: Aqui há uma diferença grande. Há uma
diferença entre o céu e nós. Isso é um pecado. O que é seguro para ser
permitido no céu, talvez não seja seguro para ser permitido aqui na terra. Se
no céu só existe santos perfeitos e glorificados, é muito mais seguro dar a
eles liberdade para cantar o que eles desejam. É muito mais seguro dar
liberdade a eles no céu do que a nós na terra. Se nos for dada esta liberdade a
nós que temos corações pecaminosos, veremos exatamente o que é evidente no
mundo inteiro. Esta é uma diferença muito grande e sem paralelo.
3ª Pergunta:
Qual o princípio que está por trás do uso de
trechos da Escritura para fazer cânticos de louvor? Devemos ver isso como fogo
estranho?
Resposta: Tenho duas respostas que desejo dar a este
tipo de pergunta. Em primeiro lugar, a Bíblia contém cânticos que Deus nos deu
para que cantemos. E todo o resto está lá para lermos e pregarmos. Mas o
preceito, tanto no VT como NT, é o cântico dos salmos. Então, se apenas algumas
partes das sagradas Escrituras nos foram dadas para cantarmos, isso não
significa que todas as partes das sagradas Escrituras nos foram para cantarmos.
Então, é fogo estranho cantarmos o cântico de Maria no culto público? Acho que
devemos ver as coisas de uma forma escalonada (gradação). Por exemplo. Vejamos
o caso do homicídio. Matar alguém é errado. Mas se você mata cem pessoas, isso
é bem pior e matar mil pessoas é mais grave ainda. Aos olhos de Deus algumas
coisas são vistas de forma mais grave do que outras. Vejamos nossas roupas. Umas
das recomendações da Bíblia é a modéstia no trajar. Vejamos uma escala. De um
lado da escala há uma pessoa que se veste perfeitamente modesta, e do outro
lado da escala há alguém que nem vestiu qualquer roupa, mas entre estas duas
pessoas há alguém que está no meio. Vendo isso, vamos considerar a questão do
culto. De um lado há um culto perfeito e nenhum de nós chegou a este ponto
nesta terra. Então, vamos na direção da escala da perfeição. Mas do outro lado
temos o bezerro de ouro ou o lado de Nadabe e Abiú: fogo estranho.
Há um espectro muito grande entre os dois extremos.
Todos nós estamos em algum lugar nesta escala e estamos tentando nos aproximar
mais e mais do culto perfeito. O fato de você não chegar do lado perfeito da
escala, isso não significa que seja fogo estranho. Eu teria muita relutância em
usar esta terminologia. Mas onde eu teria uma preocupação a enfatizar é que se
você realmente souber o que é errado e mesmo assim faz e continua a fazer, isso
é muito grave. Muitas pessoas estão, por ignorância, não tão adiantadas nesta
escala e eu não devo me aproximar destas pessoas e dizer: é fogo estranho.
Devemos de uma forma gentil, sábia, num primeiro tempo, tentar empurrar no
sentido da perfeição e chamar outros a fazer o mesmo. Há casos difíceis. Se eu
tivesse dado esta palestra na Escócia ou nos Estados Unidos eu teria recebido
as mesmas perguntas.
Todos nós sabemos quais os casos difíceis. Mas não
devemos deixar estes casos difíceis nos desviar a atenção da necessidade maior
de aplicar os princípios bíblicos.
4ª Pergunta:
Quando nos convidam a visitar uma igreja que tem um
culto que não é bíblico, do que devemos participar? Como participar dos hinos,
das orações e leitura da Palavra? Resumido, quando nos convidam a visitar uma
igreja e esta é uma chance que temos de levá-las à nossa igreja como
retribuição à nossa visita, como devemos participar deste culto não bíblico?
Resposta: Esta é uma pergunta difícil. Depende
de onde estamos e onde eles estão na escala. Vinte anos atrás eu passei um período
de um ano no leste europeu. Eu estava ajudando o pastor numa congregação bem
remota na Hungria. Um grupo de garotas estava chegando para um retiro em um
convento católico romano, perto dali. Estas jovens disseram que poderiam
participar do nosso culto naquele dia se no outro dia nós participássemos na
adoração com elas. Nossos jovens e eu pensamos: “Isso parece ser muito bom”. À
noite elas participaram conosco no culto e durante todo o culto pregamos a
graça de Deus. Nenhuma obra, nenhuma obra, nenhuma obra...! Somente Cristo...
Somente Cristo...! Estávamos ali martelando estas verdades. Mas no outro dia,
ao amanhecer, logo pensamos: “Puxa, temos hoje de ir à capela católica romana”.
Então, todos nós fomos lá e nunca vou me esquecer da sensação que tive logo ao
entrar, porque eu tinha de pregar debaixo de um enorme crucifixo dourado. Havia
imagem de Maria, de José e, em todo lugar, havia uma imagem de um santo.
Percebi que havia tomado a decisão errada, pois a Bíblia nos diz que devemos
fugir da idolatria. Então todos devemos nos perguntar: Será que podemos chegar
a este nível de ser assim tão ofensivo a Deus?
Há um versículo que acredito ser relevante aqui:
Mateus 15:8-9 – “Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com
os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas, em vão me adoram,
ensinando doutrinas que são preceitos dos homens”. Veja que há duas coisas
erradas com este culto. Um culto que não tem coração e não tem ordenanças
(prescrições) divinas. Eles tinham adoração somada às ordenanças dos homens.
Deus está dizendo aqui: “Era melhor fecharem suas bíblias e voltarem para casa
porque sua adoração é vã”. Esta pergunta deve estar sempre em nossas mentes:
“Como isto pode parecer a mim algo muito bom ou lindo?”. Esta não é a pergunta
correta e sim: “Isto é bom aos olhos de Deus?”
FONTE: http://ospuritanos.blogspot.com.br/2011/02/adoracao-reformada-dr.html