domingo, 10 de janeiro de 2016

TOLERÂNCIA INTOLERANTE

A veneração da tolerância pelo pós-modernista é uma característica óbvia, mas essa versão da "tolerância" é, na verdade, uma distorção perigosa da verdadeira virtude. Aliás, tolerância nunca é mencionada na Bíblia como uma virtude, exceto no sentido de paciência, longanimidade e mansidão (ver Ef 4.2). De fato, a noção contemporânea de tolerância é um conceito pateticamente fraco comparado ao amor que as Escrituras ordenam aos cristãos que mostrem aos seus inimigos. Jesus disse, "amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam" (Lc 6.27,28; confira os versículos 29-36).
Quando nossos avós falaram de tolerância como uma virtude, eles tinham isso em mente. A palavra então significava respeitar as pessoas e tratá-las com bondade mesmo quando acreditamos que elas estão erradas, mas a noção pós moderna de tolerância significa que nós nunca devemos considerar a opinião de ninguém como errada. A tolerância bíblica é para as pessoas; a tolerância pósmoderna é para ideias.
Aceitar toda crença como igualmente válida dificilmente é uma virtude real, mas é praticamente o único tipo de virtude que o pós-modernismo conhece. As virtudes tradicionais (incluindo humildade, domínio próprio e castidade) são abertamente zombadas e até mesmo consideradas como transgressões, no mundo do pósmodernismo.
Previsivelmente a beatificação da tolerância pósmoderna tem tido seus efeitos desastrosos sobre a verdadeira virtude em nossa sociedade. Nestes tempos de tolerância, o que era proibido passou a ser encorajado. O que era tido como imoral é agora festejado. Infidelidade marital e divórcio foram normalizados. Impureza é o lugar comum. Aborto, homossexualidade e perversões morais de todos os tipos são aclamados por grandes grupos e entusiasticamente promovidos pela mídia popular. A noção pós-moderna de tolerância está sistematicamente virando virtude genuína na cabeça deles.
Praticamente a única coisa a ser rejeitada pela sociedade como maligna é a noção simplória e politicamente incorreta que o estilo de vida, religião, ou perspectiva diferente de outra pessoa é incorreto. Uma exceção notável àquela regra se destaca claramente: os pós-modernistas aceitam a intolerância se for contra aqueles que alegam conhecer a verdade, particularmente os cristãos bíblicos. De fato, aqueles que se proclamam os advogados líderes de tolerância atualmente são frequentemente os oponentes mais declarados do Cristianismo evangélico. Basta dar uma olhada na Internet, por exemplo, e veja o que está sendo dito pelos autoestilizados campeões de tolerância religiosa. O que você vai encontrar é uma grande quantidade de intolerância pelo Cristianismo bíblico. Na verdade, alguns dos materiais mais amargos anticristãos na Internet podem ser encontrados em sites supostamente promovendo a tolerância religiosa.!
Por que isso? Por que o Cristianismo bíblico autêntico depara com tal feroz oposição de pessoas que pensam ser modelos de tolerância? É porque as alegações de verdade das
Escrituras e particularmente as alegações de Jesus de ser o único caminho para Deus — são diametralmente opostos às pressuposições fundamentais da mente pós-moderna. A mensagem cristã representa um golpe fatal à cosmovisão pós-modernista.
Mas se os cristãos se deixam enganar ou são intimidados a suavizar as alegações diretas de Cristo e a alargar o caminho estreito, a igreja não fará qualquer progresso contra o pós-modernismo. Nós precisamos recuperar a distinção do evangelho. Precisamos reconquistar nossa confiança no poder da verdade de Deus. E nós precisamos proclamar com ousadia que Cristo é a única verdadeira esperança para o povo deste mundo. Isso pode não ser o que o povo quer ouvir neste tempo pseudo-tolerante do pós-modernismo, mas é verdade assim mesmo. E precisamente porque é verdade e o evangelho de Cristo é a única esperança para um mundo perdido é que é ainda mais urgente levantarmos acima de todas as vozes de confusão no mundo e dizer desta forma.
O restante deste livro irá examinar seis conceitos chaves que explicam a distinção do Cristianismo. São princípios que totalmente contradizem a sabedoria convencional do pósmodernismo, mas eles são componentes essenciais de uma cosmovisão bíblica. Esses seis princípios, definidos por seis palavras-chave, se elevam uns sobre os outros e se interligam de tal modo que permanecem em pé ou caem juntos. Eles nos dão a estrutura necessária para o pensamento, para entendermos o mundo à nossa volta e para ministrarmos neste tempo pós-moderno.

(Princípios para uma cosmovisão bíblica – John MacArthur. Pg. 07)