quarta-feira, 23 de julho de 2014

Incompatibilidade

À lei e ao testemunho! Se eles não falarem

desta maneira, jamais verão a alva. (Is 8.20)

As Escrituras dizem que "mentira alguma jamais

procede da verdade" (1Jo 2.21). Como cristãos nós sabemos

que seja o que for que contradiga a verdade bíblica é, por

definição, falso. Em outras palavras, a verdade é

incompatível com o erro. Incompatibilidade é, portanto, uma

quinta palavra essencial para descrever uma cosmovisão

bíblica.

Claramente e sem rodeios, Jesus afirmou a total

exclusividade do Cristianismo. Ele disse, "Eu sou o caminho,

e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim" (Jo

14.6). ". não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do

céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens,

pelo qual importa que sejamos salvos" (At 4.12).

Obviamente este tipo de exclusividade é

fundamentalmente incompatível com a tolerância pósmoderna.

Como cristãos nós devemos entender que seja o que for

que se oponha à Palavra de Deus ou de alguma maneira se

afaste dela é um perigo à causa da verdade. Passividade em

relação ao erro conhecido não é uma opção para o cristão. A

intolerância para com o erro encontra-se permeada nas

próprias Escrituras. E tolerância para com o erro conhecido é

tudo menos uma virtude.

Verdade e erro não podem ser combinadas para produzir

algo bom. Elas são incompatíveis da mesma forma que a luz

e as trevas. "Não vos ponhais em jugo desigual com os

incrédulos; porquanto, que sociedade pode haver entre a

justiça e a iniqüidade? Ou que comunhão, da luz com as

trevas? Que harmonia, entre Cristo e o Maligno? Ou que

união, do crente com o incrédulo? Que ligação há entre o

santuário de Deus e os ídolos?" (2Co 6.14-16).

Nós não podemos dizer ao mundo, "Isto é verdade, mas,

seja lá o que for que você quiser acreditar, também está

bem." Não está bem. As Escrituras nos ordenam a ser

intolerantes para com qualquer idéia que negue a verdade.

Para que ninguém entenda mal, eu não estou

defendendo dogmatismo em nenhum tema teológico.

Algumas coisas nas Escrituras não são perfeitamente claras.

Nas palavras da Confissão de Fé de Westminster, "Todas as

coisas, por si mesmas, não são igualmente claras nas

Escrituras, nem igualmente evidentes a todos" (1.7).

Algumas vezes nós não podemos reconstruir o contexto

histórico para entender uma dada passagem. Um exemplo

notável é a menção dos que "se batizam por causa dos

mortos" em 1Coríntios 15.29. Existem pelo menos quarenta

idéias diferentes sobre o que este versículo significa. Nós não

podemos ser dogmáticos sobre tais coisas, mas essas são

raridades nas Escrituras.

O ensinamento central das Escrituras é simples e tão

claro que até mesmo uma criança pode entendê-la O

caminho da salvação em particular é tão claro que "quem

quer que por ele caminhe não errará, nem mesmo o louco" (Is

35.8). E nas palavras da Confissão de Fé de Westminster

novamente, "não obstante, aquelas coisas que precisam ser

conhecidas, cridas e observadas para a salvação são tão

claramente expostas e visíveis, em um ou outro lugar da

Escritura, que não só os doutos, mas ainda os indoutos, no

devido uso dos meios ordinários, podem alcançar um

suficiente entendimento delas" (1.7).

Toda a verdade que é necessária para a salvação é

facilmente entendida de um modo verdadeiro por qualquer

pessoa que aplica o bom senso e devida diligência em buscar

entender o que a Bíblia ensina. E essa verdade — o cerne da

mensagem das Escrituras — é incompatível com qualquer

outro sistema de crença. Sobre isso nós temos de ser

dogmáticos.

Não é de se admirar que o pós-modernismo, que se

orgulha de ser tolerante com todo ponto de vista oposto, seja

contudo hostil ao Cristianismo bíblico. Até o mais

determinado pós-modernista reconhece que o Cristianismo

bíblico é por sua natureza totalmente incompatível com uma

posição de abertura mental indiscriminada. Se aceitarmos o

fato de que a Escritura é a verdade objetiva com a autoridade

de Deus, nós seremos obrigados a ver que todo outro ponto

de vista não é igualmente ou potencialmente válido.

Não há necessidade de buscar um terreno comum

através de diálogo com proponentes de pontos de vista

anticristãos, como se a verdade pudesse ser refinada pelo

método dialético. É loucura pensar que a verdade dada por

revelação divina precisa de qualquer refino ou atualização.

Nem tampouco devemos imaginar que nós podemos

encontrar os pontos de vista opositores em algum terreno

neutro filosófico. O terreno entre nós não é neutro. Se nós

realmente acreditamos que a Palavra de Deus é verdadeira,

nós sabemos que toda oposição é um erro. E somos

instruídos a não ceder qualquer espaço ao erro.

Em 2João 1.9-11 o apóstolo João escreveu, "Todo aquele

que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece

não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto

o Pai como o Filho”. Se alguém vem ter convosco e não traz

esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boasvindas.

“Porquanto aquele que lhe dá boas-vindas faz-se

cúmplice das suas obras más." Isso é que é

incompatibilidade' Nosso amor pela verdade demanda uma

intolerância do erro. Para ser claro, o apóstolo não estava

advogando rudeza nem falta de hospitalidade para com os

descrentes em geral (Novamente, a Escritura claramente nos

ordena a mostrar amor e bondade mesmo para com nossos

inimigos), mas João estava tratando com o problema dos

falsos mestres itinerantes na igreja primitiva. Tipicamente,

aqueles qualificados para ensinar a doutrina naquele tempo

viajavam de cidade em cidade e buscavam abrigo nos lares

dos crentes. João estava dizendo que quando um conhecido

fornecedor de falsas doutrinas viesse buscando acomodação,

não era para ele ser recebido na comunhão; não era para ele

receber hospitalidade grátis; não era para ele receber

encorajamento de nenhuma espécie — especialmente uma

acolhida que significasse apoio ao seu trabalho de ensinar

falsas doutrinas. A antítese entre verdade e erro era tão

importante que os crentes tinham o dever sagrado de deixar

clara a desaprovação deles a qualquer um que

deliberadamente corrompesse a verdade com mentiras.

De modo semelhante o apóstolo Paulo escreveu, " ...

ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue

evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja

anátema [maldito]. “Assim, como já dissemos, e agora repito,

se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que

recebestes, seja anátema" (Gl1. 8,9). A fala é pesada, mas o

ponto é clara: quando alguém torcer a verdade fundamental

do evangelho, mesmo que ele seja um anjo ou um apóstolo,

que seja amaldiçoado.

Advertências contra falsos mestres enchem o Novo

Testamento. É um tema importante nas epístolas pastorais,

2Pedro, Judas e 2João. Tudo o que for anti-bíblico —

incluindo toda falsidade, qualquer má interpretação das

Escrituras e toda heresia — não é para ser tolerado por

aqueles que amam a verdade. É um perigo para a verdade e

uma desonra à verdade de Deus. Uma cosmovisão bíblica é

incompatível com qualquer tipo de tolerância de mentiras.

(Princípios para uma cosmovisão bíblica – John MacArthur. Pg.40)