Maravilhavam-se
da sua doutrina, porque
os
ensinava como quem tem autoridade e
não como
os escribas. (Mc 1.22)
Um
entendimento da autoridade da Bíblia é a quarta
pedra
fundamental para uma cosmovisão cristã. Visto que
acreditamos
que as Escrituras são verdadeiras, nós devemos
proclamá-las
com convicção, sem transigir e sem nos
desculparmos.
A Bíblia faz alegações ousadas e os cristãos
que crêem
nela devem afirmá-las com ousadia.
Qualquer
pessoa que fielmente e corretamente proclama
a Palavra
de Deus irá falar com autoridade. Não é a nossa
autoridade.
Nem ao menos é a autoridade eclesiástica ligada
ao oficio
de um pastor ou professor na igreja. É uma
autoridade
ainda maior que essa. Na medida que nosso
ensino
reflete com precisão a verdade das Escrituras, ele tem
o peso
total da própria autoridade de Deus. Este é um
pensamento
surpreendente, mas é precisamente como
1Pedro
4.11 nos instrui em como manusear a verdade
bíblica:
"Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de
Deus."
Esta é
naturalmente uma profunda ameaça à tolerância
de uma
sociedade que ama seu pecado e pensa que
transigência
é uma coisa boa. Falar ousadamente e declarar
que Deus
falou com finalidade não é moda nem politicamente
correto,
mas se nós cremos verdadeiramente que a Bíblia é a
Palavra de
Deus, como podemos manuseá-la de outra
maneira?
Muitos
evangélicos modernos, amedrontados pelas
exigências
do pós-modernismo, alegam crer nas Escrituras,
mas depois
se abstém de proclamá-la com qualquer
autoridade.
Eles estão dispostos a falar sobre a verdade das
Escrituras,
mas na prática eles a desnudam de sua
autoridade,
tratando-a apenas como mais uma opinião num
grande mix
de idéias pós-modernas.
Nem as
Escrituras nem o bom senso irão permitir tal
postura.
Se a Bíblia é verdadeira então ela tem também
autoridade.
Como verdade divinamente revelada ela carrega o
peso
inteiro da própria autoridade de Deus. Se você alega
crer na
Bíblia de algum modo, você finalmente tem de se
curvar à
sua autoridade. Isto significa fazer dela o final
árbitro da
verdade — a regra pela qual toda opinião é
avaliada.
A Bíblia
não é apenas uma outra idéia para ser jogada
numa
discussão pública e aceita ou rejeitada como o
indivíduo
desejar. É a Palavra de Deus e exige ser recebida
como tal,
com a exclusão de todas as outras opiniões.
Obviamente,
essa maneira de avaliar a verdade é
impopular
hoje. Segundo a nova tolerância pós-moderna,
todo mundo
tem direito a ter sua própria opinião de acordo
com suas
preferências; toda crença tem de receber igual
respeito;
e ninguém deve alegar superioridade para qualquer
ponto de
vista.
Com
efeito, então, a tolerância pós-moderna implica em
total
rejeição de todo conceito de autoridade divina. Ela
acarreta
uma negação de que Deus verdadeiramente falou,
ou no
mínimo, uma negação de que suas palavras têm
qualquer
autoridade real.
Como
cristãos nós enfrentamos uma escolha clara: ou
acompanhar
o espírito da época e reduzir a autoridade das
Escrituras,
ou aceitar as Escrituras e colocar sua autoridade
e nós
mesmos contra o resto do mundo. Nosso dever é claro
(Tg 4.4).
Não
obstante, parece que muitos dos líderes da
comunidade
evangélica, pessoas que são vistas e ouvidas,
estão
temerosos de afirmar a autoridade bíblica. Raramente o
pregador
evangélico fala claramente ao mundo com um
autorizado
"Assim diz o Senhor." Como é que nós chegamos
ao ponto
em que podemos aceitar como autoridade a opinião
de um
advogado, um médico, um arquiteto, mas não
podemos
tolerar a autoridade da Palavra de Deus?
Será que
os evangélicos ainda acreditam sem reservas
que a
verdade bíblica tem autoridade divina? Evidentemente
não. Tem
se tomado moda falar sobre o choque entre verdade
e erro
como um "diálogo." Toda vez que um conflito se levanta
entre o
Cristianismo e outro ponto de vista, alguns líderes
evangélicos
convocam um diálogo com os defensores do outro
ponto de
vista. Na última década líderes evangélicos bem
conhecidos
têm patrocinado diálogos formais com uma
variedade
ampla de figuras religiosas não-cristãs, líderes de
seitas,
defensores de vários estilos de vida e representantes
de
praticamente todo ponto de vista que é hostil ao
Cristianismo
bíblico.
Pouco após
o evento terrorista de 11 de setembro nos
Estados
Unidos da América, uma de suas mais conhecidas
igrejas
evangélicas patrocinou um diálogo com um clérigo
islâmico
(imam) no culto de adoração do final de semana,
ostensivamente
para reunir cristãos e muçulmanos. "Eu
achei
muito interessante ver o quanto nós temos em
comum,"
disse um membro da igreja a um repórter depois do
culto.
Outro disse que o diálogo com o imam tinha "aberto
portas
para comunicar e mostrou que os muçulmanos são
gente do
mesmo jeito que nós." Segundo o repórter que
cobria o
evento, aquelas respostas eram "o tipo de impacto
que o
pastor desejava."1
Por quê
tais diálogos sempre parecem minimizar as
diferenças
entre o Cristianismo e a falsa religião — e nunca
traçar
linhas de distinção mais claramente?
A verdade
bíblica é para ser proclamada com
autoridade,
não colocada na mesa para discussão apenas
como uma
alternativa possível entre outros pontos de vista.
O conflito
entre verdade bíblica e crenças rivais não é
assunto
para ser resolvido por meio de diálogo. Essa é uma
guerra
espiritual não uma festa descontraída. Ela deve ser
vista como
um combate não uma conversação. Nós
recebemos
ordens de destruir as fortalezas do pensamento
anti-bíblico
" ... e toda altivez que se levante contra o
conhecimento
de Deus ... levando cativo todo pensamento à
obediência
de Cristo" (2Co 10.5).
Mas as
igrejas têm se tornado tão efeminadas e fracas
nestes
tempos que os mais evangélicos parecem pensar que
tal
postura de militância contra o erro é inconveniente e
demasiado
severa. Os cristãos têm virtualmente se rendido
na batalha
pela verdade. Como resultado, a comunidade
evangélica
se tornou um lugar onde as pessoas podem
advogar
virtualmente qualquer coisa ou promover quase
qualquer
doutrina, e a única coisa que ninguém pode dizer é
que alguém
está errado.
Existe até
um nome para a nova perspectiva: É chamada
"hermenêutica
da humildade." Um resumo da proposta de
um
seminário no assunto diz o seguinte:
O curso
visa auxiliar os alunos a aprenderem a formular
uma nova
teologia e métodos que são relevantes e
significativos
no mundo pluralista, multicultural, pósmoderno,
no qual
somos chamados a ministrar. É
basicamente
uma tentativa de articular uma hermenêutica...
Baseada no
diálogo, um esforço sincero de extrapolar os
limites
dos pontos de vista individual, isto é, uma
hermenêutica
da humildade.2
Um outro
que defende o mesmo objetivo diz, Os cristãos
devem
destilar as preciosas percepções do pós-modernismo
com sua
cultura multicultural e desconstruída.
Nós
precisamos extrair desta crítica radical o que é
apropriado
para uma visão cultural cristã renovada —
desenvolvendo
uma hermenêutica da humildade. Nós
precisamos
dar um exemplo de uma postura cultural nãotriunfalista,
que ouve e
confessa.
Mas a
Bíblia nada sabe da tal "hermenêutica" baseada
no diálogo
com outros pontos de vista. Nossa pregação das
Escrituras
deve ter autoridade. Em Tito 2.1, o apóstolo Paulo
disse a um
jovem pregador, "Tu, porém, fala o que convém à
sã
doutrina" (Tt 2.1). No final deste mesmo capítulo ele
acrescentou,
"Dize estas coisas; exorta e repreende também
com toda a
autoridade. Ninguém te despreze" (Tt 2.15). A
palavra
traduzida como "desprezar" é o termo grego
kataphroneo, que
literalmente significa "pensar ao redor."
Paulo está
dizendo a Tito, "Não deixa ninguém te iludir; não
deixa
ninguém frustrar a verdade. Prega a sã doutrina;
ensina e
exorta as pessoas com autoridade que é inerente na
Palavra de
Deus, e confronta ou repreende as pessoas que se
opõe à
verdade."
Nas
palavras de 1 Timóteo 4.11: "Ordena e ensina estas
coisas"
(ênfase acrescentada).
Isso não
significa que devamos ser abusivos ou
grosseiros,
naturalmente. É possível ser ao mesmo tempo
ousado e
caridoso e esse é o equilíbrio que nós precisamos
buscar.
Paulo diz em Efésios 4.15 que devemos falar "a
verdade em
amor", mas proclamá-la com a devida
autoridade.
Não existe
nenhum outro meio genuíno de manusear a
verdade
bíblica. Ela é afinal a verdade bíblica revelada pelo
próprio Deus e deve ser proclamada como tal.
(Princípios para uma
cosmovisão bíblica – John MacArthur. Pg.35)