quarta-feira, 23 de julho de 2014

Autoridade

Maravilhavam-se da sua doutrina, porque

os ensinava como quem tem autoridade e

não como os escribas. (Mc 1.22)

Um entendimento da autoridade da Bíblia é a quarta

pedra fundamental para uma cosmovisão cristã. Visto que

acreditamos que as Escrituras são verdadeiras, nós devemos

proclamá-las com convicção, sem transigir e sem nos

desculparmos. A Bíblia faz alegações ousadas e os cristãos

que crêem nela devem afirmá-las com ousadia.

Qualquer pessoa que fielmente e corretamente proclama

a Palavra de Deus irá falar com autoridade. Não é a nossa

autoridade. Nem ao menos é a autoridade eclesiástica ligada

ao oficio de um pastor ou professor na igreja. É uma

autoridade ainda maior que essa. Na medida que nosso

ensino reflete com precisão a verdade das Escrituras, ele tem

o peso total da própria autoridade de Deus. Este é um

pensamento surpreendente, mas é precisamente como

1Pedro 4.11 nos instrui em como manusear a verdade

bíblica: "Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de

Deus."

Esta é naturalmente uma profunda ameaça à tolerância

de uma sociedade que ama seu pecado e pensa que

transigência é uma coisa boa. Falar ousadamente e declarar

que Deus falou com finalidade não é moda nem politicamente

correto, mas se nós cremos verdadeiramente que a Bíblia é a

Palavra de Deus, como podemos manuseá-la de outra

maneira?

Muitos evangélicos modernos, amedrontados pelas

exigências do pós-modernismo, alegam crer nas Escrituras,

mas depois se abstém de proclamá-la com qualquer

autoridade. Eles estão dispostos a falar sobre a verdade das

Escrituras, mas na prática eles a desnudam de sua

autoridade, tratando-a apenas como mais uma opinião num

grande mix de idéias pós-modernas.

Nem as Escrituras nem o bom senso irão permitir tal

postura. Se a Bíblia é verdadeira então ela tem também

autoridade. Como verdade divinamente revelada ela carrega o

peso inteiro da própria autoridade de Deus. Se você alega

crer na Bíblia de algum modo, você finalmente tem de se

curvar à sua autoridade. Isto significa fazer dela o final

árbitro da verdade — a regra pela qual toda opinião é

avaliada.

A Bíblia não é apenas uma outra idéia para ser jogada

numa discussão pública e aceita ou rejeitada como o

indivíduo desejar. É a Palavra de Deus e exige ser recebida

como tal, com a exclusão de todas as outras opiniões.

Obviamente, essa maneira de avaliar a verdade é

impopular hoje. Segundo a nova tolerância pós-moderna,

todo mundo tem direito a ter sua própria opinião de acordo

com suas preferências; toda crença tem de receber igual

respeito; e ninguém deve alegar superioridade para qualquer

ponto de vista.

Com efeito, então, a tolerância pós-moderna implica em

total rejeição de todo conceito de autoridade divina. Ela

acarreta uma negação de que Deus verdadeiramente falou,

ou no mínimo, uma negação de que suas palavras têm

qualquer autoridade real.

Como cristãos nós enfrentamos uma escolha clara: ou

acompanhar o espírito da época e reduzir a autoridade das

Escrituras, ou aceitar as Escrituras e colocar sua autoridade

e nós mesmos contra o resto do mundo. Nosso dever é claro

(Tg 4.4).

Não obstante, parece que muitos dos líderes da

comunidade evangélica, pessoas que são vistas e ouvidas,

estão temerosos de afirmar a autoridade bíblica. Raramente o

pregador evangélico fala claramente ao mundo com um

autorizado "Assim diz o Senhor." Como é que nós chegamos

ao ponto em que podemos aceitar como autoridade a opinião

de um advogado, um médico, um arquiteto, mas não

podemos tolerar a autoridade da Palavra de Deus?

Será que os evangélicos ainda acreditam sem reservas

que a verdade bíblica tem autoridade divina? Evidentemente

não. Tem se tomado moda falar sobre o choque entre verdade

e erro como um "diálogo." Toda vez que um conflito se levanta

entre o Cristianismo e outro ponto de vista, alguns líderes

evangélicos convocam um diálogo com os defensores do outro

ponto de vista. Na última década líderes evangélicos bem

conhecidos têm patrocinado diálogos formais com uma

variedade ampla de figuras religiosas não-cristãs, líderes de

seitas, defensores de vários estilos de vida e representantes

de praticamente todo ponto de vista que é hostil ao

Cristianismo bíblico.

Pouco após o evento terrorista de 11 de setembro nos

Estados Unidos da América, uma de suas mais conhecidas

igrejas evangélicas patrocinou um diálogo com um clérigo

islâmico (imam) no culto de adoração do final de semana,

ostensivamente para reunir cristãos e muçulmanos. "Eu

achei muito interessante ver o quanto nós temos em

comum," disse um membro da igreja a um repórter depois do

culto. Outro disse que o diálogo com o imam tinha "aberto

portas para comunicar e mostrou que os muçulmanos são

gente do mesmo jeito que nós." Segundo o repórter que

cobria o evento, aquelas respostas eram "o tipo de impacto

que o pastor desejava."1

Por quê tais diálogos sempre parecem minimizar as

diferenças entre o Cristianismo e a falsa religião — e nunca

traçar linhas de distinção mais claramente?

A verdade bíblica é para ser proclamada com

autoridade, não colocada na mesa para discussão apenas

como uma alternativa possível entre outros pontos de vista.

O conflito entre verdade bíblica e crenças rivais não é

assunto para ser resolvido por meio de diálogo. Essa é uma

guerra espiritual não uma festa descontraída. Ela deve ser

vista como um combate não uma conversação. Nós

recebemos ordens de destruir as fortalezas do pensamento

anti-bíblico " ... e toda altivez que se levante contra o

conhecimento de Deus ... levando cativo todo pensamento à

obediência de Cristo" (2Co 10.5).

Mas as igrejas têm se tornado tão efeminadas e fracas

nestes tempos que os mais evangélicos parecem pensar que

tal postura de militância contra o erro é inconveniente e

demasiado severa. Os cristãos têm virtualmente se rendido

na batalha pela verdade. Como resultado, a comunidade

evangélica se tornou um lugar onde as pessoas podem

advogar virtualmente qualquer coisa ou promover quase

qualquer doutrina, e a única coisa que ninguém pode dizer é

que alguém está errado.

Existe até um nome para a nova perspectiva: É chamada

"hermenêutica da humildade." Um resumo da proposta de

um seminário no assunto diz o seguinte:

O curso visa auxiliar os alunos a aprenderem a formular

uma nova teologia e métodos que são relevantes e

significativos no mundo pluralista, multicultural, pósmoderno,

no qual somos chamados a ministrar. É

basicamente uma tentativa de articular uma hermenêutica...

Baseada no diálogo, um esforço sincero de extrapolar os

limites dos pontos de vista individual, isto é, uma

hermenêutica da humildade.2

Um outro que defende o mesmo objetivo diz, Os cristãos

devem destilar as preciosas percepções do pós-modernismo

com sua cultura multicultural e desconstruída.

Nós precisamos extrair desta crítica radical o que é

apropriado para uma visão cultural cristã renovada —

desenvolvendo uma hermenêutica da humildade. Nós

precisamos dar um exemplo de uma postura cultural nãotriunfalista,

que ouve e confessa.

Mas a Bíblia nada sabe da tal "hermenêutica" baseada

no diálogo com outros pontos de vista. Nossa pregação das

Escrituras deve ter autoridade. Em Tito 2.1, o apóstolo Paulo

disse a um jovem pregador, "Tu, porém, fala o que convém à

sã doutrina" (Tt 2.1). No final deste mesmo capítulo ele

acrescentou, "Dize estas coisas; exorta e repreende também

com toda a autoridade. Ninguém te despreze" (Tt 2.15). A

palavra traduzida como "desprezar" é o termo grego

kataphroneo, que literalmente significa "pensar ao redor."

Paulo está dizendo a Tito, "Não deixa ninguém te iludir; não

deixa ninguém frustrar a verdade. Prega a sã doutrina;

ensina e exorta as pessoas com autoridade que é inerente na

Palavra de Deus, e confronta ou repreende as pessoas que se

opõe à verdade."

Nas palavras de 1 Timóteo 4.11: "Ordena e ensina estas

coisas" (ênfase acrescentada).

Isso não significa que devamos ser abusivos ou

grosseiros, naturalmente. É possível ser ao mesmo tempo

ousado e caridoso e esse é o equilíbrio que nós precisamos

buscar. Paulo diz em Efésios 4.15 que devemos falar "a

verdade em amor", mas proclamá-la com a devida

autoridade.

Não existe nenhum outro meio genuíno de manusear a

verdade bíblica. Ela é afinal a verdade bíblica revelada pelo

próprio Deus e deve ser proclamada como tal.

 (Princípios para uma cosmovisão bíblica – John MacArthur. Pg.35)