Agora,
pois, Ó SENHOR Deus, tu mesmo és Deus, e as
tuas
palavras são verdade, e tens prometido a teu servo este
bem. (2Sm
7.28)
Uma
terceira palavra que estabelece o arcabouço para
uma
cosmovisão cristã é veracidade. O Cristianismo
autêntico,
como nós estamos vendo, está preocupado do
princípio
ao fim com a verdade. A fé cristã não tem a ver primariamente
com
sentimentos, embora sentimentos
profundos
com certeza resultarão do impacto da verdade no
nosso
coração. Não tem a ver com relações humanas, muito
embora as
relações sejam o foco principal de muitos púlpitos
evangélicos
atualmente. Não tem a ver com sucesso e
bênçãos
terrenas, não importa quanto uma pessoa possa ter
essa
impressão ao assistir os programas que dominam a
televisão
religiosa estes dias.
O
Cristianismo bíblico é todo sobre verdade. A revelação
objetiva
de Deus (a Bíblia) interpretada racionalmente produz
verdade
divina em medida perfeitamente suficiente. Tudo o
que nós
precisamos saber para a vida e a piedade está se
encontra
nas Escrituras (2Pe 1.3). Deus escreveu somente
um livro —
a Bíblia. Ela contém toda a verdade pela qual ele
tenciona
que orientemos nossa vida espiritual. Não temos
necessidade
de consultar qualquer outra fonte de princípios
morais ou
espirituais. As Escrituras não são apenas a
verdade
inteira; elas são também o mais elevado padrão de
toda
verdade — a regra pela qual todas as alegações de
verdade
devem ser medidas.
Tal
convicção é a exata antítese da noção pósmodernista
de que
ninguém deve alegar conhecer a verdade
objetiva.
E essa é outra grande razão pela qual o
Cristianismo
tem sido bombardeado pelos proponentes do
inclusivismo
pós-moderno.
O
Cristianismo autêntico é a "fé que uma vez por todas
foi
entregue aos santos" (Jd 1:3). A verdade cristã não está
sujeita a
mudança ou emenda. Não é anulada por alterações
na opinião
do mundo ou nos padrões do que possa ser
politicamente
correto. Não precisa ser adaptada e redefinida
para cada
nova geração.
Certamente
que uma compreensão individual da
verdade
pode ser refinada e apurada pelo estudo das
Escrituras,
mas a verdade em si não necessita ser
reinventada
ou remoldada a fim de se tomar apropriada para
os tempos
em que vivemos. A mesma verdade em que
Abraão,
Moisés, Davi e os apóstolos acreditavam é ainda
verdade
para nós. Tempos mutáveis não mudam a verdade.
As
Escrituras são imutáveis como também o próprio Deus: "
... a
palavra do Senhor, porém, permanece eternamente" (1Pe
1.25). Em
outras palavras, nós precisamos adaptar nossa
compreensão
à verdade da Palavra de Deus, não tentar
manipular
as Escrituras num esforço vão de harmonizá-la
com
opiniões mutáveis deste mundo.
A verdade
das Escrituras é algo precioso que deve ser
cuidadosamente
manejado e zelosamente guardado (1Tm
6.20).
Mais uma vez, uma compreensão apropriada das
Escrituras
envolve estudo consciencioso e diligente. Segundo
Timóteo
2.15 diz, "Procura apresentar-te a Deus aprovado,
como
obreiro que não tem de que se envergonhar, que
maneja bem
a palavra da verdade." Por implicação nós vemos
que todos
os que não manejam as Escrituras corretamente,
são
trabalhadores desleixados que devem ser envergonhados
A
expressão traduzida por "maneja bem" vem da expressão
grega que
significa "cortar reto."
Paulo
estava utilizando sua própria experiência como
um fazedor
de tendas e aplicando um princípio aprendido do
oficio
para interpretação da Bíblia. Tendas eram feitas de
materiais
como peles de cabras. Visto que cabras são
animais
relativamente pequenos, nenhuma pele era grande o
suficiente
para fazer uma tenda. Portanto, o fazedor de
tendas
tinha de cortar muitas peles de cabras conforme um
padrão e
costurá-las para fazer uma tenda grande.
Obviamente
se os pedaços não fossem cortados retos eles não
se
ajustariam apropriadamente. Então quando o apóstolo
Paulo diz
que devemos "cortar reto" as Escrituras ele quer
dizer que
as passagens individuais das Escrituras devem ser
interpretadas
de modo que uma combina perfeitamente com
a outra de
uma forma coerente e harmoniosa.
Em outras
palavras ninguém tem o direito de ser um
teólogo se
não for um exegeta. É impossível que você consiga
entender o
todo se você não puder colocar todos os pedaços
juntos de
forma correta. E se você for lidando de forma
errada com
os pedaços eles não se ajustarão uns aos outros.
Interpretações
errôneas não irão ao final se encaixar num
todo
coerente. Você tem de interpretar as passagens
individuais
corretamente (cortá-las de forma reta). Você faz
isso comparando
as Escrituras com as Escrituras — ou seja,
deixando
as Escrituras serem a regra pela qual se interpreta
as
Escrituras. Quando isso é feito de forma correta — quando
você
entendeu corretamente os textos das Escrituras — então
eles se
encaixam uns aos outros, e o todo aparece da
maneira
como Deus planejou.
Precisamente
porque ela é a "palavra da verdade" tanto
no todo
quanto em partes, as Escrituras se encaixam
perfeitamente.
Este encaixe perfeito é uma das maneiras pela
qual nós
sabemos que temos interpretado as seções das
Escrituras
corretamente. Então as Escrituras corretamente
interpretadas
apresentam a verdade. E esta verdade é a
substância
de nossa mensagem.
Nos tempos
de Paulo, da mesma forma que atualmente,
havia homens
que buscavam posições de destaque no
ministério
e liderança da igreja, mas não estavam realmente
preocupados
com a verdade. Eles fabricavam sua mensagem
à medida
que prosseguiam. Estavam aparentemente
buscando
prestígio ou influência, ou algum outro tipo mais
sinistro
de gratificação carnal. O ensinamento deles,
portanto,
torcia a verdade. Paulo se referia a isso como
"falatórios
inúteis e profanos" (2Tm 2.16). Essa afirmação
segue
imediatamente após sua admoestação a Timóteo sobre
manejar
bem a palavra da verdade.
Ele
escreve, "Evita, igualmente, os falatórios inúteis e
profanos,
pois os que deles usam passarão a impiedade
ainda
maior. Além disso, a linguagem deles corrói como
câncer;
entre os quais se incluem Himeneu e Fileto. Estes se
desviaram
da verdade, asseverando que a ressurreição já se
realizou,
e estão pervertendo a fé a alguns" (2Tm 2.16-18).
Observe-se
que o apóstolo Paulo não se importou em
citar os
nomes. Ele não estava preocupado em ser
politicamente
correto; ele estava preocupado com a verdade.
E os
fornecedores de mentiras deviam ser identificados e
respondidos
com a verdade. A verdade torcida deles estava de
fato
derrubando a fé de alguns.
Verdade e
fé são inseparavelmente entretecidas. As
pessoas
não podem ter fé genuína fora da verdade. A fé real
envolve a
concordância da mente e a submissão da vontade à
verdade.
Então, se subtrair a verdade da equação você
derruba a
fé, como Himeneu e Fileto estavam fazendo.
Você se dá
conta de que a verdade é instrumental na
salvação?
As pessoas não podem ser salvas sem ouvir e
abraçar a
verdade. Romanos 6.17 diz, " ... graças a Deus
porque,
outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a
obedecer
de coração à forma de doutrina a que fostes
entregues."
Em outras palavras, as pessoas são salvas
quando são
libertas do erro para a sã doutrina a verdade.
Existe um
sentido real no qual fomos salvos pela verdade.
Pedro
escreve, "Tendo purificado a vossa alma, pela vossa
obediência
à verdade" (1Pe 1.22). Nós somos regenerados
pela palavra
da verdade (v. 23).
Portanto,
a verdade é tudo para um cristão.
É por essa
razão que somos chamados a refutar o erro,
defender a
verdade e proclamar as Escrituras como a
suprema
verdade contra toda mentira propagada pelo
mundo.
Eu temo
que a igreja nesta época pós-moderna tenha
deixado de
se concentrar nesse fato. Não é mais considerado
necessário
lutar pela verdade. De fato, muitos evangélicos
agora
consideram maus modos e descaridoso discutir sobre
qualquer
ponto da doutrina. Até mesmo os erros grosseiros
são agora
totalmente toleráveis em alguns ambientes em
nome de
preservar a paz. Em lugar de manejar bem a Palavra
da verdade
e proclamá-la como verdadeira, muitas igrejas
agora
apresentam palestras, dramas, comédias e outras
formas de
entretenimento motivacionais — enquanto ignoram
as grandes
doutrinas da fé. Enquanto isso pessoas que
atacam a
verdade de forma pretensamente erudita encontram
no meio
evangélico editoras que publiquem os seus escritos e
são
honradas como se tivessem profundo entendimento.
Precisamos
recuperar nosso amor pela verdade bíblica,
bem como
nossa convicção de que ela é verdade indiscutível.
Nós temos
a verdade num mundo em que a maioria das
pessoas
está simplesmente vagando sem rumo em ignorância
desesperada.
Precisamos proclamar do topo dos telhados e
parar de
brincar com aqueles que sugerem que nós estamos
sendo
arrogantes se alegarmos que sabemos alguma coisa
como
certo.
Nós temos
a verdade, não porque somos mais
inteligentes
ou melhores do que outros, mas porque Deus a
revelou
nas Escrituras e foi gracioso em abrir nossos olhos
para
vê-la. Estaríamos pecando se tentássemos guardar a
verdade só para nós mesmos.
(Princípios para uma cosmovisão bíblica – John MacArthur. Pg.30)