quarta-feira, 23 de julho de 2014

Veracidade

Agora, pois, Ó SENHOR Deus, tu mesmo és Deus, e as

tuas palavras são verdade, e tens prometido a teu servo este

bem. (2Sm 7.28)

Uma terceira palavra que estabelece o arcabouço para

uma cosmovisão cristã é veracidade. O Cristianismo

autêntico, como nós estamos vendo, está preocupado do

princípio ao fim com a verdade. A fé cristã não tem a ver primariamente

com sentimentos, embora sentimentos

profundos com certeza resultarão do impacto da verdade no

nosso coração. Não tem a ver com relações humanas, muito

embora as relações sejam o foco principal de muitos púlpitos

evangélicos atualmente. Não tem a ver com sucesso e

bênçãos terrenas, não importa quanto uma pessoa possa ter

essa impressão ao assistir os programas que dominam a

televisão religiosa estes dias.

O Cristianismo bíblico é todo sobre verdade. A revelação

objetiva de Deus (a Bíblia) interpretada racionalmente produz

verdade divina em medida perfeitamente suficiente. Tudo o

que nós precisamos saber para a vida e a piedade está se

encontra nas Escrituras (2Pe 1.3). Deus escreveu somente

um livro — a Bíblia. Ela contém toda a verdade pela qual ele

tenciona que orientemos nossa vida espiritual. Não temos

necessidade de consultar qualquer outra fonte de princípios

morais ou espirituais. As Escrituras não são apenas a

verdade inteira; elas são também o mais elevado padrão de

toda verdade — a regra pela qual todas as alegações de

verdade devem ser medidas.

Tal convicção é a exata antítese da noção pósmodernista

de que ninguém deve alegar conhecer a verdade

objetiva. E essa é outra grande razão pela qual o

Cristianismo tem sido bombardeado pelos proponentes do

inclusivismo pós-moderno.

O Cristianismo autêntico é a "fé que uma vez por todas

foi entregue aos santos" (Jd 1:3). A verdade cristã não está

sujeita a mudança ou emenda. Não é anulada por alterações

na opinião do mundo ou nos padrões do que possa ser

politicamente correto. Não precisa ser adaptada e redefinida

para cada nova geração.

Certamente que uma compreensão individual da

verdade pode ser refinada e apurada pelo estudo das

Escrituras, mas a verdade em si não necessita ser

reinventada ou remoldada a fim de se tomar apropriada para

os tempos em que vivemos. A mesma verdade em que

Abraão, Moisés, Davi e os apóstolos acreditavam é ainda

verdade para nós. Tempos mutáveis não mudam a verdade.

As Escrituras são imutáveis como também o próprio Deus: "

... a palavra do Senhor, porém, permanece eternamente" (1Pe

1.25). Em outras palavras, nós precisamos adaptar nossa

compreensão à verdade da Palavra de Deus, não tentar

manipular as Escrituras num esforço vão de harmonizá-la

com opiniões mutáveis deste mundo.

A verdade das Escrituras é algo precioso que deve ser

cuidadosamente manejado e zelosamente guardado (1Tm

6.20). Mais uma vez, uma compreensão apropriada das

Escrituras envolve estudo consciencioso e diligente. Segundo

Timóteo 2.15 diz, "Procura apresentar-te a Deus aprovado,

como obreiro que não tem de que se envergonhar, que

maneja bem a palavra da verdade." Por implicação nós vemos

que todos os que não manejam as Escrituras corretamente,

são trabalhadores desleixados que devem ser envergonhados

A expressão traduzida por "maneja bem" vem da expressão

grega que significa "cortar reto."

Paulo estava utilizando sua própria experiência como

um fazedor de tendas e aplicando um princípio aprendido do

oficio para interpretação da Bíblia. Tendas eram feitas de

materiais como peles de cabras. Visto que cabras são

animais relativamente pequenos, nenhuma pele era grande o

suficiente para fazer uma tenda. Portanto, o fazedor de

tendas tinha de cortar muitas peles de cabras conforme um

padrão e costurá-las para fazer uma tenda grande.

Obviamente se os pedaços não fossem cortados retos eles não

se ajustariam apropriadamente. Então quando o apóstolo

Paulo diz que devemos "cortar reto" as Escrituras ele quer

dizer que as passagens individuais das Escrituras devem ser

interpretadas de modo que uma combina perfeitamente com

a outra de uma forma coerente e harmoniosa.

Em outras palavras ninguém tem o direito de ser um

teólogo se não for um exegeta. É impossível que você consiga

entender o todo se você não puder colocar todos os pedaços

juntos de forma correta. E se você for lidando de forma

errada com os pedaços eles não se ajustarão uns aos outros.

Interpretações errôneas não irão ao final se encaixar num

todo coerente. Você tem de interpretar as passagens

individuais corretamente (cortá-las de forma reta). Você faz

isso comparando as Escrituras com as Escrituras — ou seja,

deixando as Escrituras serem a regra pela qual se interpreta

as Escrituras. Quando isso é feito de forma correta — quando

você entendeu corretamente os textos das Escrituras — então

eles se encaixam uns aos outros, e o todo aparece da

maneira como Deus planejou.

Precisamente porque ela é a "palavra da verdade" tanto

no todo quanto em partes, as Escrituras se encaixam

perfeitamente. Este encaixe perfeito é uma das maneiras pela

qual nós sabemos que temos interpretado as seções das

Escrituras corretamente. Então as Escrituras corretamente

interpretadas apresentam a verdade. E esta verdade é a

substância de nossa mensagem.

Nos tempos de Paulo, da mesma forma que atualmente,

havia homens que buscavam posições de destaque no

ministério e liderança da igreja, mas não estavam realmente

preocupados com a verdade. Eles fabricavam sua mensagem

à medida que prosseguiam. Estavam aparentemente

buscando prestígio ou influência, ou algum outro tipo mais

sinistro de gratificação carnal. O ensinamento deles,

portanto, torcia a verdade. Paulo se referia a isso como

"falatórios inúteis e profanos" (2Tm 2.16). Essa afirmação

segue imediatamente após sua admoestação a Timóteo sobre

manejar bem a palavra da verdade.

Ele escreve, "Evita, igualmente, os falatórios inúteis e

profanos, pois os que deles usam passarão a impiedade

ainda maior. Além disso, a linguagem deles corrói como

câncer; entre os quais se incluem Himeneu e Fileto. Estes se

desviaram da verdade, asseverando que a ressurreição já se

realizou, e estão pervertendo a fé a alguns" (2Tm 2.16-18).

Observe-se que o apóstolo Paulo não se importou em

citar os nomes. Ele não estava preocupado em ser

politicamente correto; ele estava preocupado com a verdade.

E os fornecedores de mentiras deviam ser identificados e

respondidos com a verdade. A verdade torcida deles estava de

fato derrubando a fé de alguns.

Verdade e fé são inseparavelmente entretecidas. As

pessoas não podem ter fé genuína fora da verdade. A fé real

envolve a concordância da mente e a submissão da vontade à

verdade. Então, se subtrair a verdade da equação você

derruba a fé, como Himeneu e Fileto estavam fazendo.

Você se dá conta de que a verdade é instrumental na

salvação? As pessoas não podem ser salvas sem ouvir e

abraçar a verdade. Romanos 6.17 diz, " ... graças a Deus

porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a

obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes

entregues." Em outras palavras, as pessoas são salvas

quando são libertas do erro para a sã doutrina a verdade.

Existe um sentido real no qual fomos salvos pela verdade.

Pedro escreve, "Tendo purificado a vossa alma, pela vossa

obediência à verdade" (1Pe 1.22). Nós somos regenerados

pela palavra da verdade (v. 23).

Portanto, a verdade é tudo para um cristão.

É por essa razão que somos chamados a refutar o erro,

defender a verdade e proclamar as Escrituras como a

suprema verdade contra toda mentira propagada pelo

mundo.

Eu temo que a igreja nesta época pós-moderna tenha

deixado de se concentrar nesse fato. Não é mais considerado

necessário lutar pela verdade. De fato, muitos evangélicos

agora consideram maus modos e descaridoso discutir sobre

qualquer ponto da doutrina. Até mesmo os erros grosseiros

são agora totalmente toleráveis em alguns ambientes em

nome de preservar a paz. Em lugar de manejar bem a Palavra

da verdade e proclamá-la como verdadeira, muitas igrejas

agora apresentam palestras, dramas, comédias e outras

formas de entretenimento motivacionais — enquanto ignoram

as grandes doutrinas da fé. Enquanto isso pessoas que

atacam a verdade de forma pretensamente erudita encontram

no meio evangélico editoras que publiquem os seus escritos e

são honradas como se tivessem profundo entendimento.

Precisamos recuperar nosso amor pela verdade bíblica,

bem como nossa convicção de que ela é verdade indiscutível.

Nós temos a verdade num mundo em que a maioria das

pessoas está simplesmente vagando sem rumo em ignorância

desesperada. Precisamos proclamar do topo dos telhados e

parar de brincar com aqueles que sugerem que nós estamos

sendo arrogantes se alegarmos que sabemos alguma coisa

como certo.

Nós temos a verdade, não porque somos mais

inteligentes ou melhores do que outros, mas porque Deus a

revelou nas Escrituras e foi gracioso em abrir nossos olhos

para vê-la. Estaríamos pecando se tentássemos guardar a

verdade só para nós mesmos.

(Princípios para uma cosmovisão bíblica – John MacArthur. Pg.30)