quarta-feira, 23 de julho de 2014

Integridade

A integridade dos retos os guia; mas, aos

pérfidos, a sua mesma falsidade os destrói.

(Pv 11.3)

Completando nossa lista de princípios simples para uma

cosmovisão bíblica temos a palavra integridade. Esta flui

naturalmente de todos os princípios precedentes. Visto que o

Cristianismo coloca tal alta ênfase na verdade, nós devemos

reconhecer que integridade é uma virtude essencial e a

hipocrisia um vício terrível.

Integridade é a qualificação bíblica essencial para todo o

ministério. Em toda lista de qualificação para líderes da

igreja no Novo Testamento, um pré-requisito encabeça a lista:

O homem que deve ocupar um cargo na igreja deve ser

"irrepreensível" (1Tm 3.2,10; Tt 1.6,7).

Sucesso nos negócios seculares, habilidade em relações

públicas ou outros talentos mundanos não são o que

qualifica um homem para liderança na igreja. A suprema e

primária qualificação em todos os níveis da liderança da

Igreja é integridade — amor pela verdade e consistência em

vivê-la na prática. Ignorar este princípio é sacrificar o valor

que nós atribuímos à verdade como cristãos.

Em outras palavras, se nós realmente acreditamos que a

verdade das Escrituras objetiva e entendida racionalmente é

tanto autoridade quanto incompatível com o erro, visto que a

Bíblia é a Palavra singular do Deus vivo — devemos não

apenas pregá-la, mas devemos vivê-la também. Não basta

falar da boca para fora. Se verdadeiramente cremos que a

Bíblia é a verdade divina, devemos deixar que ela permeie

nossa vida e ministério. Viver de outra maneira é equivalente

a negar a verdade. As pessoas que pensam de modo

diferente, "No tocante a Deus, professam conhecê-lo;

entretanto, o negam por suas obras; é por isso que são

abomináveis desobedientes e reprovados para toda boa obra"

(Tt 1.16).

Esdras, o sumo sacerdote nos tempos de Neemias, é o

protótipo do que todo ministro piedoso deve ser. "Esdras

tinha disposto o coração para buscar a lei do SENHOR, e

para a cumprir, e para ensinar em Israel os seus estatutos e

os seus juízo s" (Ed 7.10, ênfase acrescentada).

Eu aprendi essa lição com meu pai, que foi pastor toda

sua vida e um modelo de integridade, como também o foi

meu avô antes dele. Eu comecei a entender quão difícil pode

ser a luta logo quando comecei meu ministério aos vinte e

poucos anos. Eu estava pastoreando havia apenas um mês

quando fui solicitado a realizar o casamento de uma moça de

nossa igreja que estava planejando se casar com um nãocrente.

Numa reunião do conselho da igreja alguns dos

líderes insistiram comigo para realizar o casamento, visto que

o pai da noiva era um homem influente. Havia muito em jogo.

Poderíamos perder essa família na igreja se eu me recusasse.

Eu disse, "mas eu não posso fazer isso. Eu não posso

fazer o que as Escrituras claramente proíbem. Os crentes não

devem se colocar em jugo desigual com os incrédulos,

segundo Coríntios 6.14."

Eles estavam esperando isso. Então responderam, "Bem,

está certo. Nós entendemos seus sentimentos. Nós

conhecemos um pastor de outra igreja que aceita realizar a

cerimônia na nossa igreja."

Então eu lhes perguntei, "mas de quem é esta igreja? É

de vocês para fazerem como bem entenderem ou é de Cristo?"

Eles responderam, felizmente como deviam, "Você está

certo; nós não podemos fazer isso. Esta igreja é de Cristo."

Essa experiência foi o Rubicão1 para a Grace

Community Church. Esse foi o momento em que o futuro da

nossa congregação foi decidido. De fato uma família inteira

saiu da igreja e muitos outros membros saíram também por

causa desse incidente, mas naquele dia nós decidimos como

presbíteros, que não iríamos apenas pregar a Palavra de

Deus; nós esperávamos que ela fosse vivida na vida

comunitária da igreja.

Tal tipo de obediência à Palavra de Deus tem modelado e

moldado nosso ministério com o passar dos anos. Ela é

aparente mesmo na maneira como nós cultuamos. Nós não

entretemos as pessoas. Nós não apresentamos um espetáculo

de circo. Nós nos reunimos para adorar a Deus, para exaltar

a Cristo e para ouvir a pregação da Palavra de Deus. Nós

praticamos a disciplina de igreja conforme Mateus 18.15-20.

Nós buscamos obedecer o que as Escrituras pregam, sem

importar com o quão politicamente incorreto ou fora de moda

possa parecer. E num tempo em que muitas igrejas estão se

tornando mais e mais como o mundo, nosso objetivo é nos

conformarmos mais e mais com os padrões estabelecidos nas

Escrituras. Deus tem abençoado isso e eu estou convencido

que é porque os presbíteros têm buscado elevar o padrão de

integridade bíblica em todos os níveis da liderança.

Infelizmente, o movimento evangélico hoje está se

desviando desses princípios fundamentais e tem começado a

abraçar as idéias pós-modernas indiscriminadamente. Os

evangélicos estão perdendo a sua base; a confiança das pessoas

nas Escrituras está erodindo; e a igreja está perdendo

seu testemunho. Cada vez menos cristãos estão dispostos a

se posicionar contra a tendência desta geração e os efeitos

tem sido desastrosos. Subjetivismo, irracionalidade,

mundanismo, incerteza, transigência e hipocrisia já têm se

tomado o lugar comum entre as igrejas e organizações que no

passado constituíam a corrente evangélica.

A única cura, eu estou convencido, é a rejeição

consciente total dos valores pós-modernos e um retorno para

estes seis princípios distintivos do Cristianismo bíblico. Nós

devemos ser fiéis em guardar o tesouro da verdade que nos

foi confiado (2Tm 1.14). Se não o fizermos, quem o fará?

(Princípios para uma cosmovisão bíblica – John MacArthur. Pg.44)