Assim como a aliança na
qual Deus fez provisão para a salvação dos pecadores é chamada aliança da
graça, e como se descreve o Mediador da Aliança como “cheio de graça” de modos
que da Sua plenitude podemos receber “graça sobre graça”, Jo 1.16, 17, assim
também o Espírito Santo é chamado “Espírito da graça”, visto que Ele toma a
“graça de Cristo” e nô-la confere,
1. O USO BÍBLICO DO TERMO
“GRAÇA”. Nem sempre a palavra “graça” é empregada no mesmo sentido na
Escritura, mas apresenta certa variedade de significados. Temos no Velho
Testamento a palavra chen (adj. Chanun) da raiz chanan. O
substantivo pode significar graciosidade (graça, neste sentido)
ou beleza, Pv 22.11; 31.30, porém mais geralmente significa favor ou boa
vontade. Achar favor aos olhos de Deus ou do homem é expressão que se
encontra repetidamente no Velho Testamento. O favor assim obtido leva consigo a
concessão de favores ou bênçãos. Quer dizer que a graça não é uma qualidade
abstrata, mas é um princípio ativo e dinâmico, que se manifesta em atos
benevolentes, Gn 6.8; 19.19; 33.15; Ex 33.12; 34.9; 1 Sm 1.18; 27.5; Et 2.7. A
idéia fundamental é a de que as bênçãos graciosamente concedidas são dadas livremente
(gratuitamente), e não em consideração a qualquer reivindicação ou mérito. A
palavra neotestamentária charis, de chairein, “regozijar-se”,
denota primeiramente uma aparência externa agradável – “encanto”,
“agrado”, “aceitabilidade”, e é este o seu sentido em Lc 4.22; Cl 4.6. Contudo,
um sentido mais proeminente é favor ou boa vontade, simpatia, Lc
1.30; 2.40, 52; At 2.47; 7.46; 24.27; 25.9. Pode significar a bondade ou
benevolência de nosso Senhor, 2 Co 8.9, ou o favor demonstrado ou concedido por
Deus, 2 Co 9.8 (que se refere a bênçãos materiais); 1 Pe 5.10. Acresce que a
palavra expressa a emoção despertada no coração do favorecido e, assim, adquire
o sentido de gratidão, Lc 4.22; 1 Co 10.30; 15.57; 2 Co 2.14; 8.16; 1 Tim 1.12.
Contudo na maioria das passagens em que a palavra charis é utilizada no
Novo Testamento, ela significa a imerecida operação de Deus no coração do
homem, operação efetuada mediante o Espírito Santo. Embora às vezes falemos da
graça como uma qualidade inerente, é, na realidade a comunicação ativa das
bênçãos divinas pela ação interior do Espírito Santo, provenientes daquele que
é “cheio de graça e de verdade”, Rm 3.24; 5.2, 15, 17, 20; 6.1; 1 Co 1.4; 2 Co
6.1; 8.9; Ef 1.7; 2.5, 8; 3.7; 1 Pe 3.7; 5.12.
(Teologia Sistemática –
Louis Berkhof. Pg. 422)