A discussão da graça de Deus no contexto da obra de redenção
requer igualmente diversas distinções, que devemos ter em mente.
a. Em primeiro lugar, a
graça é um atributo de Deus, uma das perfeições divinas. É o livre, soberano e
imerecido favor ou amor de Deus ao homem, no estado de pecado e culpa em que
este se encontra, favor que se manifesta no perdão do pecado e no livramento da
sua pena. A graça está relacionada com a misericórdia de Deus, em distinção da
Sua justiça. Esta é a graça redentora no sentido mais fundamental da expressão.
É a causa última do propósito eletivo de Deus, da justificação do pecador e da
sua renovação espiritual; e é a prolífica fonte de todas as bênçãos espirituais
e eternas.
b. Em segundo lugar, o
termo “graça” é empregado como um designativo da provisão objetiva que Deus fez
em Cristo para a salvação do homem. Cristo, como o Mediador, é a encarnação
viva da graça de Deus. “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de
graça e de verdade”, Jô 1.14. Paulo tem em mente a manifestação de Cristo,
quando diz: “Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os
homens”, Tt 2.11. Mas o termo não é aplicado somente ao que Cristo é, mas
também ao que Ele mereceu para os pecadores. Quando Paulo fala
repetidamente, nas saudações finais das suas epístolas, da “graça de nosso
Senhor Jesus Cristo”, ele tem em mente a graça da qual Cristo é a causa
meritória. Diz João: “a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a
verdade vieram por meio de Jesus Cristo”, Jo 1.17. Cf. também Ef 2.7.
c. Em terceiro lugar, a
palavra “graça” é empregada para designar o favor de Deus como é demonstrado na
aplicação da obra de redenção pelo Espírito Santo. É aplicado ao perdão que
recebemos na justificação, um perdão dado gratuitamente por Deus, Rm 3.24; 5.2,
21; Tt 3.15. Mas, em acréscimo a isso, também é um nome compreensivo,
abrangendo todos os dons da graça de Deus, as bênçãos da salvação e as graças
espirituais que são acionadas nos corações e vidas dos crentes pela operação do
Espírito Santo, At 11.23; 18.27; Rm 5.17; 1 Co 15.10; 2 Co 9.14; Ef 4.7; Tg
4.5, 6; 1 Pe 3.7. Além disso, há claras indicações de que não se trata apenas
de uma qualidade passiva, mas também de uma força ativa, uma energia, uma coisa
que trabalha, 1 Co 15.10; 2 Co 12,9; 2 Tm 2.1. Neste sentido da palavra, ela é
como um sinônimo do Espírito Santo, de maneira que há pouca diferença entre as
expressões “cheio do Espírito Santo” e “cheio de graça e poder”, At 6.5 e 8. O
Espírito Santo é chamado “Espírito da graça”, Hb 10.29. É especialmente com
relação aos ensinamentos da Escritura a respeito da aplicação da graça de Deus
ao pecador pelo Espírito Santo, que a doutrina da graça se desenvolveu na
igreja.
(Teologia Sistemática –
Louis Berkhof. Pg. 423)