segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O PODER DA IGREJA

A Fonte do Poder da Igreja.

Jesus Cristo não somente fundou a igreja, mas também a revestiu do necessário poder ou autoridade. Ele é a Cabeça da igreja, não apenas no sentido orgânico, mas também no sentido administrativo, isto é, Ele é não somente a Cabeça do corpo, mas também o Rei da comunidade espiritual.* É em Sua capacidade de Rei da igreja que Ele a revestiu de poder ou autoridade. Ele mesmo falou da igreja como fundada tão solidamente sobre uma rocha que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela, Mt 16.18; e na mesma ocasião – exatamente a primeira em que Ele fez menção da igreja – também prometeu dota-la de poder, quando disse a Pedro: “Dar-te-ei as chaves do reino dos céus: o que ligares na terra, terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra, terá sido desligado nos céus” (Mt 16.19). É evidente que as expressões “igreja” e “reino dos céus” são empregadas uma pela outra aqui. As chaves são um emblema de poder (cf. Is 22.15-22), e com as chaves do reino dos céus Pedro recebe poder para ligar e desligar, o que neste contexto, parece significar, determinar o que é proibido e o que é permitido na esfera da igreja.[1] E a sentença que ele passar – neste caso, não as pessoas, mas as ações – será sancionada no céu.** Pedro recebe este poder como representante dos apóstolos, e estes constituem o núcleo e o alicerce da igreja, em sua qualidade de mestres da igreja. A igreja de todos os séculos é ligada pela palavra deles, Jo 17.20; 1 Jo 1.3. A passagem de Jo 20.23 torna evidente que Cristo dotou não somente a Pedro, mas a todos os apóstolos de poder e do direito de julgar, e não quanto às ações apenas, mas também a pessoas: “Se de alguns perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; se lhos retiverdes, são retidos”. Cristo deu este poder, antes de tudo e no grau supremo, aos apóstolos, mas também o estende, embora em menor grau, à igreja em geral. A igreja tem direito de excluir da comunhão o pecador impenitente. Mas, pode fazê-lo somente porque Jesus Cristo em pessoa habita na igreja e, pela instrumentalidade dos apóstolos, supriu a igreja de um apropriado padrão de julgamento. Que Cristo deu poder à igreja em geral, é muito bem evidenciado por várias passagens do Novo Testamento, quais sejam: At 15.23-29; 16.4; 1 Co 5.7, 13; 6.2-4; 12.28; Ef 4.11-16. Os oficiais da igreja recebem sua autoridade de Cristo, e não dos homens, mesmo que a congregação sirva de instrumento para instale-los no ofício. Quer dizer que, de um lado, eles não o recebem das mãos de nenhuma autoridade civil, que não tem poder nenhum nas questões eclesiásticas, e, portanto, não pode outorgar nenhum poder; mas, de outro lado, quer dizer que eles não o derivam do povo em geral (da igreja), apesar de serem eles representantes do povo. Porteous observa acertadamente: “O fato de que o presbítero é denominado representante do povo, mostra que ele é o seu governante, por ele escolhido. O que é designado pelo título de representante é o modo pelo qual o ofício é adquirido, não a fonte do seu poder”.[2]
(Berkhof, L – Teologia Sistemática Pg. 594)


* Em português é perfeitamente válido dizer que Cristo é a Cabeça da igreja (como órgão vitalizador do organismo), e o Cabeça da igreja (seu Chefe soberano). Nota do tradutor.
[1] Cf. Vos, The Kingdom of God and the Church, p. 147; Grosheide, Comm. On Matthew, in loco.
** Assim, segundo a versão utilizada pelo Autor, que diz, na passagem acima transcrita: “será ligado ... será desligado no céu”. “Terá sido sancionada”, segundo a Versão de Almeida, Ver. e Atualizada, utilizada em minha tradução. Nota do tradutor.
[2] The Government of the Kingdom of God, p. 322.