segunda-feira, 25 de março de 2013

A DOUTRINA DA IGREJA E DOS MEIOS DE GRAÇA

A IGREJA


A doutrina da aplicação dos méritos de Cristo leva naturalmente à doutrina da igreja, pois esta consiste dos que são partícipes de Cristo e das bênçãos da salvação que nele há. A concepção reformada (calvinista) é que Cristo, pela operação do Espírito Santo, reúne homens Consigo, dota-os da verdadeira fé e, assim, constitui a igreja como Seu corpo, a communio fidelium ou sanctorum (comunhão dos fiéis ou dos santos). Todavia, na Igreja Católica Romana o estudo da igreja tem precedência sobre tudo mais, antecedendo até ao estudo da doutrina de Deus e da revelação divina. O que se diz é que a igreja foi o instrumento da produção da produção da Bíblia e, portanto, tem precedência sobre ela; além disso, ela é despenseira de todas as graças sobrenaturais. Não é Cristo que nos leva à igreja, mas a igreja que nos leva a Cristo. Toda a ênfase recai, não sobre a igreja invisível como communio fidelium, mas sobre a igreja visível como mater fidelium (mãe dos fiéis). A Reforma rompeu com este conceito católico romano da igreja e centralizou a atenção na igreja como organismo espiritual, como outrora fora feito. Ela deu ênfase ao fato de que não existe igreja fora da obra de Cristo e das operações renovadoras do Espírito Santo; e ao fato de que, portanto, o estudo destas precede logicamente à consideração da doutrina da igreja.
Parece deveras peculiar que praticamente todos os dogmáticos presbiterianos exponenciais do nosso país,* como os dois Hodge, H.B.Smith, Shedd e Dabney não têm um lócus (uma parte) separado para o estudo da igreja em suas dogmáticas e, de fato, dedicam muito pouca atenção a ela. Somente as obras de Thornwell e Breckenridge constituem exceções à regra. Isto poderia dar a impressão de que, na opinião deles, a doutrina da igreja não deve ter lugar na dogmática. Mas isto é sumamente improvável, desde que nenhum deles levanta uma única objeção sequer à sua inclusão. Ademais, Turretino e os seus antecessores escoceses, sobre cujos alicerces aqueles teólogos edificam, deram muita atenção ao estudo da igreja. Diz Walker: “Não há talvez nenhum país no mundo em que todas as espécies de questões sobre a igreja foram examinadas como em nosso país”.[1] E, finalmente, o doutor A. A Hodge nos informa que o seu pai deu lições a suas diversas classes sobre temas eclesiológicos, cobriu praticamente o campo todo, e tencionava completar a sua Teologia Sistemática com a publicação de um quarto volume, sobre a igreja; mas foi impedido pelas enfermidades que lhe sobrevieram em sua avançada idade.[2] Diz Dabney que omitiu a doutrina da igreja porque esta recebia competente tratamento noutro departamento do Seminário* em que ele trabalhava.[3] Shedd, ao dar o seu plano, afirma que a igreja é focalizada em conexão com os meios de graça.[4] Contudo, ele dedica bem pouca atenção aos meios de graça e não ventila a doutrina da igreja. E o editor da obra de Smith, System of Christian Theology (Sistema de Teologia Cristã), incorporou nessa obra os conceitos do autor sobre a igreja, expressos noutros escritos.[5]
(Berkhof, L – Teologia Sistemática Pg.553)



* Os Estados Unidos da América. Nota do tradutor.
[1] Scottish Theology and Theologians, p. 95; cf. também  McPherson, The Doctrine of the Church in Scottish, p. 1 e seguintes.
[2] Preface da obra de Hodge sobre Church Polity
* Union, de Virginia. Registro aqui o seguinte pronunciamento de R. L. Dabney: “A doutrina dos sacramentos depende rigorosamente da doutrina da igreja, e é tratada por muitas autoridades como estritamente conseqüente dela (como o faz Turretino). É bom notar também que a doutrina da igreja ocupa lugar importante na teologia da redenção, podendo ser tratada nesta categoria, e também como fonte de normas práticas para a igreja. Mas como essa doutrina é tratada proficientemente noutro departamento deste Seminário, assumirei seus princípios fundamentais e os empregarei como fundamentos para o estudo dos sacramentos, sem invadir aquela esfera de pesquisa”. R. L. Dabney. Syllabus and Notes of the Course of Systematic and Polemic Theology, dado no Union Theological Seminary, Virginia. Nota do tradutor.
[3] Lect. On Theol., p. 726.
[4] Dogm. Theol. I, p. 10.
[5] P. 590 e seguintes.