quarta-feira, 20 de março de 2013

DISTINÇÃO ENTRE IGREJA VISÍVEL E INVISÍVEL

Quer dizer que, de um lado, a igreja de Deus é visível, e de outro, é invisível. Dizem que Lutero foi o primeiro a fazer esta distinção, mas os outros Reformadores a reconheceram e também a aplicaram à igreja. Nem sempre se entendeu bem esta distinção. Os oponentes dos Reformadores freqüentemente os acusavam de ensinarem que existem duas igrejas separadas. Lutero talvez tenha dado ocasião a esta acusação, por falar de uma ecclesiola invisível dentro da ecclesia visível. Mas tanto ele como Calvino acentuam o fato de que, quando falam de uma igreja visível e invisível, não se referem a duas igrejas, mas a dois aspectos da única igreja de Jesus Cristo. Tem-se interpretado variadamente o termo “invisível” como aplicável (a) à igreja triunfante; (b) à igreja ideal e completa, como será no fim dos séculos; (c) à igreja de todas as terras e de todos os lugares, que o homem não tem nenhuma possibilidade de ver; e (d) à igreja como ela vive nos dias de perseguição, oculta e privada da Palavra e dos sacramentos. Agora, é indubitavelmente certo que a igreja triunfante é invisível para os que se acham na terra, e que Calvino, em suas Institutas, também concebe como incluída na igreja invisível, mas, sem dúvida, a distinção foi feita principalmente com a intenção de aplicar-se à igreja militante. Em geral, é feita essa aplicação na teologia reformada (calvinista). Ela ressalta o fato de que a igreja, como existe na terra, é visível e invisível. Esta igreja é dita invisível porque é essencialmente espiritual e, em sua essência espiritual, não a pode discernir o olho humano; e porque é impossível determinar infalivelmente quem não lhe pertence. A união dos crentes com Cristo é uma união mística; o Espírito que o une constitui um laço invisível; e as bênçãos da salvação, tais como a regeneração, a conversão genuína, a fé verdadeira e a comunhão espiritual com Cristo, são todas invisíveis aos olhos naturais; – e, todavia, estas coisas constituem a forma real (o caráter ideal) da igreja. Que o termo “invisível” deve ser entendido neste sentido, vê-se pela origem histórica da distinção entre a igreja visível e a invisível na época da Reforma. A Bíblia atribui certos atributos gloriosos à igreja e a apresenta como um meio de salvação e de bênçãos eternais. Roma aplicava isto à igreja como instituição externa, mais particularmente à ecclesia representativa ou à hierarquia como distribuidora das bênçãos da salvação e, assim, ignorava e virtualmente negava a comunhão imediata e direta de Deus com os Seus filhos, colocando entre eles um sacerdócio mediatário humano. Este é o erro que os Reformadores procuraram erradicar salientando o fato de que a igreja da qual a Bíblia diz coisas tão gloriosas não é a igreja considerada como instituição externa, mas a igreja como corpo espiritual de Jesus Cristo, que é essencialmente invisível no presente, embora tendo uma encarnação relativa e imperfeita na igreja visível e esteja destinada a ter uma perfeita encarnação visível no fim dos séculos.
Naturalmente , a igreja invisível assume uma forma visível. Justamente como a alma humana se adapta a um corpo e se expressa por meio do corpo, assim a igreja invisível, que consiste, não de almas, mas de seres humanas que têm alma e corpo, assume necessariamente forma visível numa organização externa, por meio da qual se expressa. A igreja é visível na profissão de fé e conduta cristã, no ministério da Palavra e dos sacramentos, e na organização externa e seu governo. Ao fazer esta distinção, diz McPherson: “O protestantismo procurou encontrar o ponto médio adequado entre o externalismo mágico e sobrenatural da idéia romanista e a extravagante depreciação de todos os ritos externos característica do espiritualismo fanático e sectário”.[1] É muito importante ter em mente que, embora tanto a igreja invisível como a visível possam ser consideradas universais, as duas não são comensuráveis em todos os aspectos. É possível que alguns pertencem à igreja invisível nunca se tornem membros da organização visível, como as pessoas alcançadas pela ação missionária e convertidas em seus leitos de morte, e que outros sejam temporariamente excluídos dela, como crentes errantes por algum tempo afastados da comunhão da igreja visível. Por outro lado, pode haver crianças e adultos não regenerados que, apesar de professarem a Cristo, não têm a verdadeira fé nele, se achem na igreja como instituição externa; e estes, enquanto estiverem nestas condições, não pertencerão à igreja invisível. Pode-se achar boas definições da igreja invisível na Confissão de Westminster.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática Pg.565)


[1] Chr. Dogmatic, p.417.