O vocábulo “fé” não é um termo
exclusivamente religioso e teológico. É empregado muitas vezes no sentido geral
e não religioso, e mesmo assim tem mais de uma conotação. Os seguintes usos do
termo merecem particular atenção. Ele pode denotar:
1. FÉ COMO POUCO MAIS QUE MERA OPINIÃO. A
palavra “fé” é utilizada às vezes num sentido solto e popular, para indicar uma
persuasão da verdade que é mais forte que uma simples opinião e , todavia, mais
fraca que o conhecimento. Mesmo Locke definiu a fé como “o assentimento da
mente a proposições que são prováveis , mas não certamente, verdadeiras”. Em
linguagem popular , muitas vezes dizemos algo de que não estamos absolutamente
certos mas que, ao mesmo tempo, nos sentimos constrangidos a reconhecer como
verdadeiro: “Creio , mas não tenho certeza”. Conseqüentemente , alguns
filósofos viram a característica distintiva da fé no grau menor de certeza que
ela dá (Locke , Hume , Kant, e outros).
2. FÉ COMO CERTEZA IMEDIATA. Com relação à
ciência , muitas vezes se descreve a fé como certeza imediata . Há uma
certeza que o homem pode obter por meio de percepção , da experiência e da
dedução lógica, mas há também uma certeza intuitiva. Em toda ciência há axiomas
que não podem sr demonstrados e convicções intuitivas que não são adquiridas
pela percepção ou pela dedução lógica. Diz o dr. Bavinck: “He gebied der
onmiddelijke zekerheid is veel grooter dan dat der demonstratieve, em deze
laatste is altijd weer op de eerste gebouwd, em staat em valt met deze. Ook is
deze intuitieve zekerheid niet minder maar grooter dn die, welke langs den weg
van waarneming en logische demonstratie verkregen wordt”. A esfera da certeza
imediata é maior que a da certeza demonstrativa. Em ambos os casos ora
mencionados, a fé é considerada exclusivamente como uma atividade do intelecto.
3. FÉ COMO CONVICÇÃO BASEADA EM TESTEMUNHO
E INCLUINDO CONFIANÇA. No linguajar comum a palavra “fé” é empregada muitas
vezes para denotar a convicção de que o testemunho de outro é veraz, e de que o
que ele promete será feito; convicção baseada unicamente em sua reconhecida
veracidade e fidelidade. É realmente uma confiante aceitação do que outro diz,
com base na confiança que ele inspira. E esta fé, esta convicção baseada na
confiança, muitas vezes leva a uma confiança suplementar: confiança num amigo
em tempo de necessidade, na capacidade que um médico tem para dar ajuda nas
ocasiões de doenças, na de um piloto para guiar o navio até o porto, e assim
por diante. Neste caso, a fé é mais que simples produto do intelecto. A vontade
é posta em ação, e o elemento de confiança vem para o primeiro plano.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg 500)