Ao darmos uma resposta à
questão quanto a qual é o objeto da verdadeira fé salvadora, teremos que falar
com discriminação, desde que é possível falar desta fé em geral e num sentido
especial. Existem:
4.
A BASE DA FÉ. A base última em que se firma
a fé, está na veracidade e fidelidade de Deus, em conexão com as promessas do
Evangelho. Mas, porque não temos conhecimento disto fora da Palavra de Deus,
esta também pode ser considerada a base última da fé, e freqüentemente o é. Em
distinção da anterior, porém, poderia ser denominada base próxima. O meio pelo
qual reconhecemos a revelação incorporada na Escritura como a própria Palavra
de Deus é, em última análise, o testemunho do Espírito Santo, 1 Jo 5.6:* “E o Espírito é o que dá testemunho,
porque o Espírito é a verdade”. Cf. também Rm 4.20, 21; 8.16; Ef 1.13; 1 Jo
4.13; 5.10. Os católicos romanos vêem na igreja a base última da fé; os
racionalistas só a reconhecem na razão; Schleiermacher a busca na experiência cristã;
e Kant, Ritschl e muitos teólogos “liberais” modernos a colocam nas
necessidades morais da natureza humana.
a. Uma fides generalis (fé geral).
Com isto se faz referência à fé salvadora no sentido mais geral da expressão.
Seu objeto é o conjunto global da revelação divina contida na Palavra de Deus.
Tudo que é ensinado explicitamente na Escritura ou que pode ser deduzido dela
mediante boa e necessária inferência, pertence ao objeto da fé, neste sentido
geral. De acordo com a igreja de Roma, cabe aos seus membros crer em tudo
quanto a ecclesia docens (a igreja docente, o magistério eclesiástico)
declara que faz parte da revelação de Deus, e isto inclui a tradição
apostólica, assim chamada. É verdade que a “igreja que ensina” não reivindica o
direito de produzir novos artigos de fé, mas reivindica, sim, o direito de
determinar com autoridade o que a Bíblia ensina e o que, de acordo com a
tradição, pertence aos ensinos de Cristo e Seus apóstolos. E isto propicia
amplíssima latitude.
b. Uma Fidelis specialis (fé especial). É a
fé salvadora no sentido mais limitado da expressão. Embora a verdadeira fé na
Bíblia como a Palavra de Deus seja absolutamente necessária, esse ainda não é o
fato específico de fé que justifica e, portanto, salva diretamente o pecador
crente. Essa fé deve levar, e de fato leva, a uma fé mais especial. Há certas
doutrinas concernentes a Cristo e à Sua obra, e certas promessas nele feitas
aos pecadores, que o pecador deve receber e que devem levá-lo a pôr sua
confiança em Cristo. Então o objeto da fé especial é Jesus Cristo e a promessa
de salvação por intermédio dele. O ato especial de fé consiste em receber a
Cristo e descansar nele como Ele é apresentado no Evangelho, Jo 3.15, 16, 18;
6.40. Estritamente falando, não é o ato de fé como tal, mas, antes, aquilo que
é recebido pela fé, que justifica e, portanto, salva o pecador.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg 506)
* Citada no original a American Revised Version (1 Jo 5.7), em
que se vê a tradução igual à de Almeida, transcrita no texto acima (1 Jo 5.6).
Nota do tradutor.