A doutrina da conversão, naturalmente, como
toda as outras doutrinas cristã, baseia-se na Escritura, sobre esta base deve
ser aceita. Desde que a conversão é uma experiência consciente ocorrida nas
vidas de muitos, o testemunho da experiência pode ser acrescentado ao da
Palavra de Deus, mas esse testemunho, por mais valioso que seja, nada
acrescenta à segura veracidade da doutrina ensinada na Palavra de Deus. Podemos
ser gratos ao fato de que nos últimos anos a psicologia da religião deu
considerável atenção ao fato da conversão, mas sempre se deve ter em mente que,
embota tenha trazido à nossa atenção alguns fato interessantes, pouco ou nada
fez para explicar a conversão como um fenômeno religioso. A doutrina
escriturística da conversão baseia-se, não somente nas passagens que contêm um
ou mais dos termos mencionados na seção anterior, mas também em muitas outras
nas quais o fenômeno da conversão é descrito ou apresentado concretamente com
exemples vivos. Nem sempre a Bíblia fala de conversão no mesmo sentido. Podemos
distinguir os seguintes sentidos:
4.
A CONVERSÃO REPETIDA. A Bíblia fala também
de uma conversão repetida, na qual a pessoa convertida, depois de uma queda nos
caminhos do pecado, retorna a Deus. Strong prefere não usar a palavra
“conversão” para esta mudança, empregando antes palavras e frases como
“rompimento, abandono, volta, negligências e transgressões” e “retorno a
Cristo, confiança novamente depositada nele”. Mas a própria Escritura usa a
palavra “conversão” para esses casos, Lc 22.32; Ap 2.5, 16, 21, 22; 3.3, 19.
Deve-se entender, que a conversão, no sentido estritamente soteriológico, nunca
se repete. Os que experimentaram a verdadeira conversão podem cair
temporariamente sob os falsos encantos do mal e cair em pecado; até podem, às
vezes, perambular longe do lar; mas a nova vida forçosamente se reafirmará e
por gim os levará a voltar para Deus com corações penitentes.
1. CONVERSÕES NACIONAIS. Nos dias de
Moisés, de Josué e dos juízes, repetidamente o povo de Israel dava as costas a
Jeová e, depois de experimentar o desprazer de Deus, arrependia-se dos seus
pecados e retornava ao Senhor; houve uma conversão de Jonas, os ninivitas se
arrependeram dos seus pecados e foram poupados pelo Senhor, Jn 3.10. Estas
conversões eram simplesmente da natureza de reformas morais. Podem ter sido
acompanhadas de algumas conversões religiosas reais de indivíduos, mas ficavam
muito aquém da verdadeira conversão de todos os que pertenciam à nação. Em
regra, eram muito superficiais. Apareciam sob a liderança de governantes
piedosos, e quando eram substituídos por homens ímpios, o povo logo recaía em
seus velhos hábitos.
2. CONVERSÕES TEMPORÁRIAS. A Bíblia se refere
também a conversões de indivíduos que não representam nenhuma mudança do
coração e, portanto, só têm significação passageira. Na parábola do Semeador
Jesus fala dos que ouvem a palavra e logo a recebem com alegria, mas não têm
raízes em si mesmos e, portanto, duram pouco. Quando lhes sobrevêm as
tribulações, provações e perseguições, depressa se ofendem e caem. Mt 13.20,
21. Paulo faz menção de Hiemeneu e Alexandre, que “vieram a naufragar na fé”, 1
Tm 1.19, 20. Cf. também 2 Tm 2.17, 18. E em 2 Tm 4.10 ele se refere a Demas que
o abandonara porque o amor ao presente século o dominara. E o escritor de
Hebreus fala de alguns que caíram, sendo que eles “uma vez foram iluminados e
provaram o dom celestial e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram
a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro”, Hb 6.4-6. Finalmente, a
respeito de alguns que tinham voltado as costas aos fiéis, diz João: “Eles
saíram do nosso meio, entretanto não eram dos nossos; porque, se tivessem sido
nossos, teriam permanecido conosco”, 1 Jo 2.19. Tais conversões temporárias
podem, por algum tempo, ter a aparência de conversões verdadeiras.
3. CONVERSÃO VERDADEIRA (CONVERSIO ACTUALIS
PRIMA). A verdadeira conversão nasce da tristeza segundo Deus, e redunda numa
vida de devoção a Deus, 2 Co 7.10. É uma mudança que tem suas raízes na obra de
regeneração, e que é efetuada na vida consciente do pecador pelo Espírito de
Deus; mudança de pensamentos e opiniões, de desejos e volições, que envolve a
convicção de que a direção anterior da vida era insensata e errônea, e altera
todo o curso da vida. Há dois lados nesta conversão, um ativo e o outro
passivo; o primeiro sendo o ato de Deus pelo qual Ele muda o curso consciente
da vida do homem, e o último, o resultado desta ação como se vê na mudança que
o homem faz no curso da sua vida e em seu voltar-se para Deus.
Conseqüentemente, pode-se dar uma dupla definição de conversão: (a) A conversão
ativa é o ato de Deus pelo qual Ele faz com que o pecador regenerado, em sua
vida consciente, se volte para Ele com arrependimento e fé. (b) A conversão
passiva é o resultante ato consciente do pecador pelo qual ele, pela graça
de Deus, volta-se para Deus com arrependimento e fé. Esta conversão é a
conversão que nos interessa primordialmente na teologia. A Palavra de Deus
contém vários exemplares notáveis dela, como, por exemplo, as conversões de
Naamã, 2 Rs 5.15; de Manasses, 2 Cr 33.12, 13; de Zaqueu, Lc 19.8, 9; do cego
de nascença, Jo 9.38; da mulher samaritana, Jo 4.29; do eunuco, At 8.30 e segtes.;
de Cornélio, At 10.44 e segtes.; de Paulo, At 9.5 e segtes.; de Lídia, At.
16.14; e outras.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg.
482)