Os apóstolos receberam instruções específicas para batizarem eis
to onoma tou patros kai tou hyiou kai tou hagiou pneumatos (para uma
relação com o nome do Pai e do Filho e Espírito Santo). A Vulgata traduziu as
primeiras palavras, “eis to onoma” pela expressão latina “in nomine”
(em nome), tradução seguida pela de Lutero, “im namen”.* Dá-se-lhes assim o sentido de “sobre a
autoridade do trino Deus”. Em
sua Gramática do Novo Testamento Grego (Grammar of the
Greek New Testament), p. 649, Robertson lhes atribui este sentido, mas não
apresenta nenhuma prova em seu favor. O fato é que esta interpretação é
exegeticamente insustentável. A idéia de “sobre a autoridade de” é expressa
pela frase en toi onomati, ou pela frase mais curta en onomati,
Mt 21.9; Mc 16.17; Lc 10.17; Jo 14.26; At 3.6; 9.27, etc. A preposição eis (para
dentro de) é mais indicativa de um fim e, portanto, pode ser interpretada no
sentido de “em relação a”, ou “para a profissão de fé em alguém e sincera
obediência a alguém”. Está em completa harmonia com isso o que Allen diz em seu
comentário de Mateus: “A pessoa batizada era simbolicamente introduzida no nome
de Cristo”, isto é, tornava-se Seu discípulo, isto é, entrava num estado de
lealdade a Ele e de comunhão com Ele “. Este é o sentido dado por Thayer,
Robinson e, substancialmente, também por Cremer-Koegel e Baljon, em seus
léxicos. É também o sentido adotado por comentadores como Meyer, Alford, Allen,
Bruce, Grosheide e Van Leeuwen. Este significado do termo é plenamente
confirmado por expressões paralelas como eis ton Mousen, 1 Co 10.2; eis
to onoma Paulou, I Co 1.13 eis hen soma, 1 Co 12.13; e eis
Christon, Ro 6.3; Gl 3.27. O argumento do doutor Kuyper tocante a este
ponto acha-se em Uit het Woord, Eerste Serie, Eerste Bundel.[1]
Ao que parece, devemos traduzir a preposição eis por "para dentro de” ou
“para” (isto é, “em relação a”) o nome. O vocábulo onoma (nome) é
empregado no sentido do hebraico shem como indicativo de todas as
qualidades pelas quais Deus se faz conhecido e que constituem a soma total de
tudo quanto Ele é para os Seus adoradores. Em sua obra intitulada Bible
Studies (Estudos Bíblicos),[2]Deissman
se refere a exemplos interessantes deste uso particular da palavra onoma
nos papiros. Interpretado sob esta luz, a fórmula batismal indica que, pelo batismo
(isto é, por aquilo que é significado ou simbolizado no batismo), o
participante é colocado num relacionamento especial com a auto-revelação
divina, ou com Deus como Ele se revelou e revelou o que deseja ser para o Seu
povo, e, ao mesmo tempo, torna-se dever imperativo viver à luz dessa revelação.
Não é necessário presumir que, quando Jesus empregou
estas palavras, Ele tencionava tê-las como uma fórmula a ser utilizada para
sempre. Ele as empregou apenas como descritivas do caráter do batismo que Ele instituiu,
exatamente como expressões similares se prestam para caracterizar outros
batismos, At 19.3; 1 Co 1.13; 10.2; 12.13. Às vezes se diz, com recurso a
passagens como At 2.48; 8.16; 10.48; 19.5, e também Rm 6.3 e Gl 3.27, que os
apóstolos evidentemente não usaram a fórmula trinitária; mas esta não é uma
dedução necessária, embora seja inteiramente possível, desde que eles não
compreenderam as palavras de Jesus na grande comissão como prescrevendo uma
fórmula definida. Também é possível, porém, que as expressões utilizadas nas
passagens indicadas servissem para acentuar certas particularidades
concernentes ao batismo ministrado pelos apóstolos. Devemos notar que as
preposições variam. At 2.38 fala de um batismo epi toi onomati lesou
Christou, que provavelmente se refere a um batismo baseado na confissão de
Jesus como o Messias. Segundo At 10.48, os que se achavam presentes na casa de
Cornélio foram batizados en onomati lesou Christou, para indicar que
foram batizados sobre a autoridade de Jesus. Todas as passagens restantes
mencionam um batismo eis to onoma lesou Christou (ou tou kyriou lesou),
ou simplesmente um batismo eis Christon. Talvez as expressões sirvam
apenas para salientar o fato de que os participantes foram colocados numa
relação especial com Jesus, a quem os apóstolos estavam pregado, e, por isso,
Lhe estavam sujeitos como seu Senhor. Mas qualquer que tenha sido a prática na
era apostólica, é evidente que quando, mais tarde, a igreja sentiu a
necessidade de uma fórmula, não pôde achar outra melhor do que a contida nas
palavras de instituição do batismo. Esta fórmula já estava em uso quando a Didaquê
(O Ensino dos Doze Apóstolos) foi escrita (c. 100 A .D.).[3]
(Berkhof,
L. – Teologia Sistemática Pg628)