O batismo é sinal e selo da
aliança da graça. Não simboliza uma coisa e sela outra, mas põe o selo de Deus
naquilo que simboliza. Segundo os nossos padrões confessionais e a nossa forma
para a ministração do batismo, este simboliza o lavamento dos nossos pecados, e
esta é apenas uma breve expressão usada em lugar da remoção da culpa do pecado
na justificação, e da remoção da corrupção do pecado na santificação, que,
contudo, é imperfeita nesta vida. E se o que é simbolizado é isto, então é
também o que é selado. E se se disser, como às vezes ocorre em nossa literatura
reformada (calvinista), que o batismo sela a(s) promessa(s) de Deus, isto não
significa meramente que ele atesta a veracidade da promessa, mas, sim, que garante
aos batizandos que eles são os designados herdeiros das bênçãos prometidas.
Isto não significa necessariamente que eles já estão, em princípio, de posse do
bem prometido, embora isto seja possível e até provável, mas certamente
significa que eles são designados herdeiros e receberão a herança, a não ser
que se mostrem indignos dela e a recusem. Dabney chama a atenção para o fato de
que muitas vezes selos são apensos a alianças promissórias, nas quais a
concessão do benefício prometido é condicional.
Mas o batismo é mais que sinal e selo; também é, como
tal, um meio de graça. De acordo com a teologia reformada (calvinista), ele não
é, como os católicos romanos pretendem, o meio pelo qual se inicia a obra da
graça no coração, mas, sim, é um meio para o seu fortalecimento, ou, como
muitas vezes é expresso, para o crescimento da graça. Isto dá surgimento a uma
questão muito difícil, em conexão com o batismo de crianças. Pode-se ver
prontamente como batismo pode fortalecer a obra da fé no batizando adulto, mas
não é assim tão perceptível como pode operar como meio de graça no caso de
crianças, as quais não têm absolutamente nenhuma consciência da significação do
batismo e ainda não podem exercer fé. A dificuldade que defrontamos aqui
naturalmente não existe para o pequeno número de eruditos reformados que negam
que o batismo apenas fortaleça uma condição de graça antecedente, e alegam que
ele “é um meio para a comunicação da graça de maneira específica, e para o
específico fim da nossa regeneração e da nossa implantação em Cristo”.[1]
Decerto que todos os demais têm que enfrentar o problema. Lutero também lutou
com esse problema. Para ele a eficácia do batismo depende da fé do batizando;
mas quando refletiu no fato de que as crianças não podem exercer fé, sentiu-se
inclinado a acreditar que Deus, por Sua graça preveniente, produz nelas uma fé
incipiente por meio do batismo; e, finalmente, ele remeteu o problema aos
doutores da igreja. Os teólogos reformados resolvem o problema chamando a
atenção para três coisas, que podem ser consideradas como alternativas, mas
também podem ser combinadas entre si. (1) È possível partir da pressuposição
(não do conhecimento certo) de que as crianças apresentadas para o batismo são
regeneradas e, portanto, estão de posse da semen fidei (semente da fé);
e afirmar que Deus, pelo batismo, de algum modo místico que não compreendemos,
fortalece na criança esta semente da fé. (2) Também se pode chamar a atenção
para o fato de que a operação do batismo como meio de graça não se limita necessariamente
ao momento da sua ministração, nem um pouco mais que a operação da Ceia do
Senhor se limita à hora da sua celebração. Pode, naquele exato momento, servir
de algum modo misterioso para aumentar a graça de Deus no coração, se presente,
mas também pode ser instrumento para aumentar a fé posteriormente, quando a
significação do batismo for claramente compreendida. Isso é ensinado com
clareza tanto na Confissão Belga como na Confissão de Westminster. (3) Pode-se
assinalar, ainda, como foi feito por alguns teólogos (por exemplo, Dabney e
Vos), que o batismo de crianças também é um meio de graça para os pais que
apresentam seu filho para o batismo. Serve para fortalecer-lhes a fé nas
promessas de Deus, para produzir neles a certeza de que a criança pela qual se
responsabilizaram tem direito de propriedade quanto à aliança da graça, e para
fortalecer neles o senso de sua responsabilidade pela educação cristã do seu
filho ou filha.
(Berkhof,
L. – Teologia Sistemática Pg645)