terça-feira, 9 de outubro de 2012

DIFERENTES FORMAS DE PÓS-MILENISMO.

a. A forma antiga.Durante os séculos dezesseis e dezessete, diversos teólogos reformados (calvinistas) da Holanda ensinaram uma forma de quiliasma agora denominada pós-milenismo. Entre eles havia homens bem conhecidos como Coccejus, Alting, os dois Vitringa, d’Outrein, Witsius, Hoornbeek, Koelman e Brakel, alguns dos quais consideravam o milênio como pertencente ao passado, outros o julgavam presente, e ainda outros o buscavam no futuro. A maioria o esperava para as proximidades do fim do mundo, imediatamente antes da segunda vinda de Cristo. Estes homens rejeitavam as duas idéias diretoras dos premilenistas, quais sejam, que Cristo voltará fisicamente para reinar na terra por mil anos, e que os santos serão ressuscitados por ocasião da Sua vinda, e então reinarão com Ele no reino milenar. Embora suas exposições diferissem nalguns pormenores, a idéia predominante era que o Evangelho, que se propagará gradativamente pelo mundo todo, no fim se tornará imensuravelmente mais eficiente do que no presente, e introduzirá um período de ricas bênçãos espirituais para a igreja de Jesus Cristo, uma idade de ouro em que os judeus também compartirão as bênçãos do Evangelho de maneira sem precedentes. Em anos mais recentes, um tipo desse pós-milenismo foi defendido por D. Brown, J. Berg, J.H.Snowden, T.P.Stafford e A.H.Strong. Diz o ultimo teólogo mencionado que o milênio será “um período dos últimos dias da igreja militante, quando, sob a influência especial do Espírito Santo, o espírito dos mártires reaparecerá, a verdadeira religião será grandemente revigorada e revivida, e os membros das igrejas de Cristo tomarão tal consciência do seu poder em Cristo que, numa extensão jamais conhecida antes, triunfarão sobre os poderes do mal dentro e fora”.[1] A idade de outro da igreja, segundo se diz, será seguida por um breve período de apostasia, um terrível conflito entre as forças do bem e do mal, e pela ocorrência simultânea do advento de Cristo, da ressurreição geral e do juízo final.
b. A forma recente. Grande parte do pós-milenismo dos dias atuais é de um tipo inteiramente diverso, e tem muito pouco a ver com os ensinos da Escritura, exceto como uma indicação histórica daquilo em que outrora o povo cria. O homem moderno tem pouca paciência com as esperanças milenísticas do passado, com sua completa dependência de Deus. Ele não acredita que a nova era será introduzida pela pregação do Evangelho, acompanhada pela obra do Espírito Santo; nem que será resultado de uma mudança cataclísmica. De um lado, crê-se que a evolução trará aos poucos o milênio, e de outro lado, que o próprio homem introduzirá a nova era, adotando uma política construtiva de melhoramento do mundo. Diz Walter Rauschenbush: “Nosso principal interesse num milênio é o desejo de uma ordem social em que o valor e a liberdade de todos os seres humanos, mesmos do menor deles, sejam honrados e protegidos, em que a fraternidade do homem seja expressa na posse comum dos recursos da sociedade; e em que o bem espiritual da humanidade seja posto muito acima dos interesses de lucro privado de todos os grupos materialistas. . . .Quanto ao modo pelo qual o ideal cristão da sociedade deverá vir – devemos substituir a catástrofe pelo desenvolvimento”.[2]
Shirley Jackson case interroga: “Continuaremos buscando a Deus para introduzir uma nova ordem por meios catastróficos, ou assumiremos a responsabilidade de produzir o nosso próprio milênio, crendo que Deus está operando em nós e em nosso mundo o querer e o fazer para o Seu beneplácito?” E ele mesmo dá a resposta, nos seguintes parágrafos: “O curso da história exibe um longo processo de luta de evolução pelo qual a humanidade como um todo eleva-se cada vez mais na escala da civilização e da consecução, melhorando sua condição de quando em quando mediante sua maior habilidade e engenho. Vista segundo a longa perspectiva das eras, a carreira do homem tem sido de real ascensão. Em vez de piorar, vê-se que o mundo melhora constantemente. ...Desde que a história e a ciência mostram que o melhoramento é sempre resultado de esforços de realização, o homem acaba imaginando que os males ainda não vencidos haverão de ser eliminados por estrênuos esforços e reforma gradual, e não pela intervenção catastrófica da Divindade. ... As moléstias devem ser curadas ou evitadas pela habilidade do médico, os males da sociedade devem ser remediados pela educação e pela legislação, e as desgraças internacionais devem ser impedidas pelo estabelecimento de novos padrões e novos métodos de tratamento medicinal, e não por uma aniquilação repentina”.[3] Estas citações são deverás características de uma grande parte do pós-milenismo dos nossos dias, e não é de admirar que os premilenistas reajam contra ele.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática Pg722)



[1] Syst. Theol.,p. 1013.
[2] A Theology for the Social Gospel, p. 224, 225.
[3] The Millennial Hope, p. 229, 238, 239.