terça-feira, 9 de outubro de 2012

SINAIS QUE PRECEDERÃO A SEGUNDA VINDA DE CRISTO

4. A FUTURA REVELAÇÃO DO ANTICRISTO. O termo antichristos só se encontra nas epístolas de João, a saber, em 1 Jo 2.18, 22; 4.3; 2 Jo 7. No que se refere à forma da palavra, ela pode descrever (a) alguém que toma o lugar de Cristo, neste caso, “anti” é entendido no sentido de “em lugar de”; ou (b) alguém que, embora assumindo a aparência de Cristo, opõe-se a Ele; neste caso, “anti” é empregado no sentido de “contra”. Este último está em maior harmonia com o contexto em que ocorre a palavra. Pelo fato de João empregar o singular em 2.18 sem artigo, fica evidente que o termo “anticristo” já era considerado um nome técnico. É incerto se, ao usar o singular, João tinha em mente um Anticristo superior ou supremo, do qual os outros a que se refere eram apenas precursores, ou se simplesmente quis personificar o princípio incorporado em diversos anticristos, o princípio do mal militando contra o reino de Deus. É evidente que o anticristo representa um certo princípio, 1 Jo 4.3. Se tivermos isto em mente, perceberemos que, embora João tenha sido o primeiro a empregar o termo “anticristo”, o princípio ou espírito indicado por esse termo é claramente mencionado em escritos anteriores. Assim como há na Escritura um desenvolvimento claramente assinalado no delineamento de Cristo e do reino de Deus, também há uma revelação progressiva do anticristo. As representações diferem, mas vão se tornando cada vez mais definidas, conforme avança a revelação de Deus.
Na maioria dos profetas do Velho Testamento vemos o princípio da injustiça operando nas nações ímpias que se mostram hostis para com Israel e são julgadas por Deus. Na profecia de Daniel vemos algo mais específico. A linguagem ali empregada forneceu muitas características da descrição que Paulo faz do homem do pecado em 2 Tessalonicenses. Daniel vê o ímpio, iníquo, encarnado no “pequeno chifre”, Dn 7.8, 23-26, e o descreve com muita clareza em 11.35 e segtes. Ali, nem mesmo o elemento pessoal está faltando, conquanto não seja inteiramente certo que o profeta está pensando nalgum rei particular, a saber, em Antíoco Epifânio, como um tipo de Anticristo. Naturalmente, a vinda de Cristo revela esse princípio em sua forma especificamente anticristã, e Jesus o descreve como encarnado em várias pessoas. Ele fala dos pseudoprophetai e dos pseudichristoi, que tomam posição contra Ele e contra o Seu reino, Mt 7.15; 24.5, 24; Mc 13.21, 22; Lc 17.23. Com o fim de corrigir o conceito errôneo dos tessalonicenses, Paulo chama a atenção para o fato de que o dia de Cristo não pode vir “sem que primeiro venha a apostasia, e seja revelado o homem da iniqüidade, o filho da perdição”. Ele descreve esse homem do pecado como aquele que “se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus, ou objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus”, 2 Ts 2.3, 4. Esta descrição nos lembra Dn 11.36 e segtes., e claramente aponta para o Anticristo. Não há boa razão para duvidar da identidade do homem da iniqüidade (ou do pecado) de que fala Paulo, com o Anticristo mencionado por João. O apóstolo Paulo vê “o ministério da iniqüidade” já em ação, mas garante aos seus leitores que o homem da iniqüidade não poderá vir enquanto não for afastado do caminho aquilo ou “aquele que” o detém. Quando esse obstáculo, seja este qual for (há várias interpretações), for retirado, aparecerá o homem do pecado “segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais e prodígios da mentira”, versículos 7-9. Nesse capítulo o elemento pessoal é pressuposto do começo ao fim. O Livro de Apocalipse encontra o princípio ou poder anticristão nas duas bestas que saíram do mar e da terra, Ap. 13. Geralmente se pensa que a primeira se refere a governos, poderes políticos, ou a algum império mundial; a segunda, embora não com a mesma unanimidade, à religião falsa, à falsa profecia e à falsa ciência, particularmente às duas primeiras. A este princípio oponente, ou de oposição, João chama finalmente Anticristo, em suas epístolas.
Historicamente, há diferentes opiniões a respeito do Anticristo. Na igreja antiga, muitos afirmavam que o Anticristo seria um judeu com a pretensão de ser o Messias e governando em Jerusalém. Muitos comentadores são de opinião que Paulo e outros pensavam, equivocadamente, que um imperador romano seria o Anticristo, e, de que, evidentemente, João tinha Nero em mente, ao escrever Ap 13.18, visto que as letras das palavras hebraicas para “imperador Nero” equivalem exatamente a 666, em Ap 13.18. Desde os tempos da Reforma, muitos, entre os quais também eruditos reformados (calvinistas), consideravam a Roma papal e, nalguns casos, até mesmo algum papa em particular, como Anti-Cristo. E, na verdade, o papado revela várias características do Anticristo, como este vem descrito na Escritura. Todavia, dificilmente poderíamos identifica-lo com o Anticristo. É melhor dizer que há elementos do Anticristo no papado. Positivamente, só podemos dizer: (a) que o espírito anticristão já estava em ação nos dias de Paulo e de João, segundo o próprio testemunho deles; (b) que ele alcançará o seu poder supremo nas proximidades do fim do mundo; (c) que Daniel retrata a sua faceta política, Paulo a eclesiástica, e João, em Apocalipse, retrata ambas as facetas: ambas podem ser revelações sucessivas do poder anticristão; (d) que, provavelmente, esse poder afinal se concentrará num só indivíduo, vindo a ser a encarnação da iniqüidade.
A questão do caráter pessoal do Anticristo ainda está sujeita a debate. Alguns afirmam que as expressões “anticristo”, “homem da iniqüidade” (ou “do pecado”), “o filho da perdição”, e as figuras de Daniel e de Apocalipse são apenas descrições do princípio ímpio e anticristão, que se manifesta na oposição do mundo a Deus e a Seu reino, através de toda a história desse reino, oposição ora mais fraca, ora mais forte, mas ainda mais forte nas proximidades do fim dos tempos. Eles não estão em busca de nenhum Anticristo pessoal. Outros acham que é contrário à Escritura falar do Anticristo meramente como um poder abstrato. Estes sustentam que tal interpretação não faz justiça aos dados da Escritura, que não somente fala de um espírito abstrato, mas também de pessoas reais. Segundo eles, “Anticristo” é um conceito coletivo, o designativo de uma sucessão de pessoas a manifestar um espírito ímpio ou anticristão, tais como os imperadores romanos que perseguiram a igreja e os papas que se engajaram numa similar obra de perseguição. Mesmo estes não pensam num Anticristo pessoal que será em si mesmo a concentração de toda a iniqüidade. Contudo, a opinião mais geral no seio da igreja é que, em última análise, o termo “Anticristo” denota uma pessoa escatológica, que será a encarnação de toda a iniqüidade e, portanto, representa um espírito que sempre está presente no mundo, ora mais, ora menos, e que tem diversos precursores ou tipos na história. Este conceito prevaleceu na Igreja Primitiva e, ao que parece, é o conceito escriturístico. Pode-se dizer o seguinte, em seu favor: (a) O esboço do Anticristo em Dn 11 é mais ou menos pessoal, e pode referir-se a uma pessoa definida como um tipo de Anticristo. (b) Paulo fala do Anticristo como “o homem da iniqüidade” e como “o filho da perdição”. Devido ao peculiar emprego hebraico dos termos “homem” e “filho”, estas expressões , em si mesmas, podem não ser conclusivas, mas o contexto favorece a idéia de pessoa. Ele se levanta contra, ostenta-se como se fora Deus, tem uma revelação definida, é o iníquo, e assim por diante. (c) Embora João fale de muitos anticristos como já presentes, fala também do Anticristo no singular, como alguém que ainda virá no futuro, 1 Jo 2.18. (d) Mesmo no Livro de Apocalipse, onde a apresentação é grandemente simbólica, não falta o elemento pessoal, como por exemplo, em Ap 19.20, que fala do Anticristo e seu subordinado como sendo lançados no lago de fogo. E (e), desde que Cristo é uma pessoa, é simplesmente natural entender que o Anticristo também será uma pessoa.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática Pg707)