terça-feira, 9 de outubro de 2012

O PREMILENISMO DO PASSADO

A idéia de Irineu pode ser dada como a que reflete a melhor dos primeiros séculos cristãos. O mundo atual durará seis mil anos, correspondentes aos seis dias da criação. Para o fim deste período, os sofrimentos e perseguições dos fiéis aumentarão grandemente, até que, por fim, a encarnação de toda a iniqüidade aparecerá na pessoa do Anticristo. Depois que ele tiver completado a sua obra destruidora e se estabelecer atrevidamente no templo de Deus, Cristo aparecerá em glória celestial e triunfará sobre todos os Seus inimigos. Isto será acompanhado pela ressurreição física dos santos e pelo estabelecimento do reino de Deus na terra. O período de ventura milenar, que portanto durará mil anos, corresponderá ao sétimo dia da criação – ao dia de repouso. Jerusalém será reedificada, a terra dará seu fruto com rica abundância; e prevalecerão a paz e a justiça. No fim dos mil anos, sobrevirá o juízo final, e aparecerá uma nova criação, na qual os remidos viverão para sempre na presença de Deus.
Em seus contornos gerais, esta descrição é típica dos conceitos escatológicos dos primeiros séculos cristãos, por mais que possam diferir nalgumas minúcias. Durante todos os séculos subseqüentes e no século dezenove, o pensamento milenista permaneceu o mesmo, embora ocorrendo estranhas aberrações nalgumas seitas. Estudos continuados, porém, levaram a maior desenvolvimento e a maior clareza na apresentação de algumas das suas particularidades. As principais características do conceito comum podem ser expostas mais ou menos como segue: O vindouro advento de Cristo ao mundo está próximo, e será visível, pessoal e glorioso. Contudo, será precedido por certos acontecimentos, tais como a evangelização de todas as nações, a conversão de Israel, a grande apostasia e a grande tribulação, e a revelação do homem do pecado. Tempos trevosos e penosos estão portanto reservados para a igreja, visto que ela terá que passar pela grande tribulação. A segunda vinda será um evento grandioso, único, extraordinário e glorioso, mas será acompanhado por vários outros, impostos à igreja, a Israel e ao mundo. Os santos que já faleceram serão ressuscitados, e os que vivem serão transformados, e juntos serão trasladados para encontrar-se com o Senhor em Sua vinda. O Anticristo e os seus aliados perversos serão mortos; e Israel, o antigo povo de Deus, se arrependerá, será salvo e será restabelecido na Terra Santa. Então o reino de Deus, predito pelos profetas, será estabelecido num mundo transformado. Os gentios se converterão a Deus, em grande número, e serão incorporados no Reino. Prevalecerá em toda a terra uma condição de paz e justiça. Depois de haver-se expirado o governo terreno de Cristo, os mortos restantes ressurgirão; e esta ressurreição será seguida pelo juízo final e pela criação de novos céus e nova terra. Falando em termos gerais, pode-se dizer que este é o tipo de premilenismo defendido por homens como Mede, Bengel, Auberlen, Christlieb, Ebrard, Godet, Hofmann, Lange, Stier, Van Osterzee, Van Andel, Alford, Andrews, Ellicott, Guinnes, Kellog, Zahn, Moorehead, Newton, Trench e outros. Não esquecendo que estes homens divergem nalguns pormenores.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática 713)