terça-feira, 9 de outubro de 2012

O PREMILENISMO DA ATUALIDADE

No segundo quartel do século dezenove, foi introduzida uma nova forma de premilenismo, sob a influência de Darby, Kelly, Trotter e seus seguidores na Inglaterra e na América, um premilenismo entrelaçado com o dispensacionalismo. Os novos conceitos foram popularizados em nosso país* principalmente pela Bíblia de Scofield, e se disseminaram amplamente por meio de obras de homens como Bullinger, F.W.Grant, Blackstone, Gray, Haldeman, os dois Gaebelein, Brookes, Riley, Rogers e uma hoste doutros mais. Eles apresentam realmente uma nova filosofia da história da redenção, na qual Israel desempenha o papel principal, e a igreja não passa de um interlúdio. Seu princípio orientador os move a dividir a Bíblia em dois livros, o Livro do Reino e o Livro da Igreja. Ao ler as suas descrições dos procedimentos de Deus para com os homens, a gente se perde num desnorteante labirinto de alianças e dispensações, sem o fio de Ariadne que ofereça direção segura. Sua tendência divisiva também se revela em seu programa escatológico. Haverá duas segundas vindas, duas ou três (se não quatro) ressurreições, e também três juízos. Além disso, haverá também dois povos de Deus que, segundo alguns, estarão separados eternamente, Israel habitando na terra, e a igreja no céu.
Os seguintes pontos darão uma idéia do esquema premilenista que goza a maior popularidade hoje em dia:
a. Sua visão da história. Deus trata o mundo da humanidade no transcurso da história com base em diversas alianças e conforme os princípios de sete dispensações diferentes. Cada dispensação é distinta, e cada uma delas representa uma diferente prova para o homem natural; e desde que o homem não consegue vencer nas sucessivas provas, cada dispensação acaba num juízo. A teocracia de Israel, fundada no Monte Sinai, ocupa um lugar especial na economia divina. Ela foi a forma inicial do reino de Deus ou do reino do Messias, e teve a sua idade de outro nos dias de Davi e Salomão. Se seguisse o caminho da obediência, poderia ter crescido em poder e glória, mas, em resultado da infidelidade do povo, foi finalmente derrotado, e o povo foi levado para o exílio. Os profetas predisseram essa derrota, mas também trouxeram mensagens de esperança e inspiraram a expectativa de que nos dias do Messias Israel tornaria ao Senhor com vero arrependimento, o trono de Davi seria restabelecido com inexcedível glória, e até os gentios participariam das bem-aventuranças do reino futuro. Mas quando o Messias veio e se ofereceu para estabelecer o Reino, os judeus deixaram de mostrar o requerido arrependimento. O resultado dói que o Rei não estabeleceu o Reino, mas se retirou de Israel e foi para um país distante, pospondo o estabelecimento do Reino, até o Seu regresso. Contudo, antes de deixar a terra, fundou a igreja, que nada tem em comum com o Reino, e da qual os profetas nunca falaram. A dispensação da lei abriu alas para a dispensação da graça de Deus. Durante esta dispensação, a igreja se compõe de judeus e gentios, e forma o corpo de Cristo, que agora participa dos Seus sofrimentos, mas chegará o tempo em que a noiva do Cordeiro participará da Sua glória. Desta igreja Cristo não é Rei, mas a Cabeça divina. Tem ela a gloriosa tarefa de pregar, não o Evangelho do reino,mas o Evangelho da livre graça de Deus, em todas as nações do mundo, para juntar delas os eleitos e, por cima, ser um testemunho ante elas. Este método se evidenciará um fracasso; não efetuará conversões em grande escala. No fim desta dispensação, Cristo voltará subitamente e efetuará uma conversão muito mais universal.
b. Sua escatologia. A volta de Cristo agora é iminente, isto é, Ele pode vir a qualquer momento, pois não há eventos preditos que devam precede-la. Contudo, Sua vinda consiste de dois eventos distintos, separado um do outro por um período de sete anos. O primeiro deles será a parousia, quando Cristo aparecerá nos ares para encontrar-se com os Seus santos. Todos os justos falecidos ressurgirão então, e os que estiverem vivos serão transformados. Juntos serão arrebanhados nos ares, celebrarão as bodas do Cordeiro e estarão para sempre com o Senhor. A trasladação dos santos vivos é chamada “rapto” ou “arrebatamento”, às vezes, “arrebatamento secreto”. Enquanto Cristo e Sua igreja estiverem ausentes da terra, e mesmo o Espírito presente nos crentes tiver partido com a igreja, haverá um período de sete anos ou mais, com freqüência dividido em duas partes, em que sucederão várias coisas. O Evangelho do reino tornará a ser pregado, principalmente, ao que parece, pelos remanescentes crentes dentre os judeus, e resultarão conversões em larga escala, apesar de muitos continuarem a blasfemar contra Deus. O Senhor retomará as Suas relações com Israel e, provavelmente, nesse tempo (embora alguns digam que será mais tarde), este se converterá.
Na segunda metade desse período de sete anos, haverá um período de tribulação sem igual e cuja duração ainda é assunto em discussão. O Anticristo será revelado e o frasco da ira de Deus será derramado sobre a raça humana. No fim do período de sete anos, dar-se-á a “revelação”, isto é, a vinda do Senhor, agora não para os Seus santos, mas com eles. As nações existentes serão então julgadas (Mt 25.31), e as ovelhas serão apartadas dos cabritos; os santos que morreram durante a grande tribulação serão ressuscitados; o Anticristo será destruído; e Satanás será preso por mil anos. Será estabelecido então o reino milenar, um reino concretamente visível, terrestre e material, reino dos judeus, a restauração do reino teocrático, incluindo o restabelecimento da realeza davídica. Nesse reino os santos reinarão com Cristo, os judeus serão os cidadãos naturais, e muitos gentios serão cidadãos adotivos. O trono de Cristo será estabelecido em Jerusalém, que também voltará a ser o local central de culto. O templo será reconstruído no Monte Sião, e o altar exalará de novo o cheiro do sangue dos sacrifícios, sim, das ofertas pelos delitos e pecados. E conquanto o pecado e a morte ainda reclamem suas vítimas, serão dias de grande frutificação e prosperidade, quando a vida dos homens será prolongada e o deserto florescerá como um roseiral. Nesse tempo o mundo se converterá rapidamente, segundo alguns, pelo Evangelho, mas, segundo a maioria, por meios totalmente diferentes, tais como a aparecimento pessoal de Cristo, a inveja provocada pela bem-aventurança dos santos, e, acima de tudo, grandes e terríveis prejuízos. Após o milênio, Satanás será solto por breve lapso de tempo, e as hordas de Gogue e Magogue juntarão forças contra a cidade santa. Todavia, os inimigos serão devorados pelo fogo do céu, e Satanás será lançado numa cova sem fundo, precedido pela besta e pelo falso profeta. Depois desse curto período de tempo, os ímpios ressuscitarão e comparecerão a juízo, perante o grande trono branco, Ap 20.11-15. e então haverá novos céus e nova terra.
c. Algumas variantes desta teoria. De modo algum os premilenistas estão todos de acordo quanto às particularidades do seu esquema escatológico. Um estudo da sua literatura revela grande variedade de opiniões. Há indefinição e incerteza sobre muitos pontos, o que prova que a sua elaboração minuciosa é de valor muito duvidoso. Embora a maioria dos premilenistas dos dias atuais creia num vindouro governo visível de Jesus Cristo, mesmo na atualidade alguns antecipam apenas um governo espiritual, e não têm em vista uma presença física na terra. Conquanto os mil anos de Ap 20 sejam em geral interpretados literalmente, há uma tendência, da parte de alguns para considera-los como um período indefinido de maior ou menor duração. Alguns acham que os judeus se converterão primeiro, de depois serão levados para a Palestina,* ao passo que outros são de opinião que esta ordem será invertida. Há aqueles que crêem que os meios usados para a conversão do mundo serão idênticos aos empregados agora, mas prevalece a opinião de que esses meios serão substituídos por outros. Também há diferença de opiniões quanto ao lugar em que os santos ressurretos vão habitar durante o seu reinado milenar com Cristo, na terra ou no céu, ou em ambos. As opiniões diferem muito também com respeito à continuidade da propagação da raça humana durante o milênio, ao grau de pecado que prevalecerá nesse tempo, à vigência da morte e a muitos outros pontos.
(Berkhof, L – Teologia Sistemática Pg716)



* No país do Autor (EUA), e também no do Tradutor (Brasil). Nota do tradutor.
* É bom lembrar que esta obra foi produzida antes de 1948, ano em que foi restabelecida a nação de Israel na Palestina. Nota do trdutor.