Os crentes são,
antes de tudo, filhos de Deus por adoção. Isto implica, naturalmente, que eles
não são filhos de Deus por natureza, como os “liberais” modernos gostariam de
fazer-nos acreditar, pois ninguém iria adotar os seus próprios filhos. Esta
adoção é um ato legal, pelo qual Deus coloca o pecador no estado de filho, mas
não o transforma interiormente, como tampouco os pais mudam, pelo mero ato de
adoção, a vida interior de um filho adotado. A mudança efetuada tem que ver com
a relação em que o homem se acha com Deus. Em virtude da sua adoção, os crentes
são, por assim dizer, iniciados na própria família de Deus, ficam sob a lei da
obediência filial e, ao mesmo tempo, passam a ter direito a todos os
privilégios da filiação. Devemos distinguir cuidadosamente a doação da filiação
moral dos crentes, filiação resultante da regeneração e da santificação. Eles
não são somente adotados por Deus para serem Seus filhos, mas também são
nascidos de Deus. Naturalmente, as duas coisas não podem separar-se. São
mencionadas juntas em Jo 1.12; Rm 8.15, 16; Gl 3.26, 27; 4.5, 6. Em Rm 8.15 é
empregado o termo hyothesia (de hyios e tithenai), que
significa “colocar ou posicionar como filho”, e no grego clássico é sempre
empregado para denotar uma colocação objetiva na posição de filho. O versículo
subseqüente contém a palavra tekna (de tikto, “gerar”), que
qualifica os crentes como gerados por Deus. Em Jo 1.12 a idéia de adoção é
expressa pelas palavras: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder (exousian
edoken) de serem feitos filhos de Deus”. A expressão aí empregada significa
“dar direito legal”. Imediatamente após, no versículo 13, o escritor fala da
filiação ética, devida à regeneração. A conexão entre ambas é exposta
claramente em Gl 4.5, 6...”a fim de que recebêssemos a adoção de filhos. E,
porque vós sois filhos (por adoção), enviou Deus aos nossos corações o Espírito
de seu Filho, que clama: Aba, Pai”. O Espírito de Cristo nos regenera e nos
santifica e nos move a dirigir-nos a Deus cheios de confiança, vendo-o como o Pai
que é.
(Teologia Sistemática –
Louis Berkhof Pg. 516)