A idéia de que,
nalgum sentido da expressão, os pecadores são justificados na ressurreição de
Cristo, foi apregoada por alguns arminianos, é ensinada por aqueles teólogos
reformados (calvinistas) que acreditam numa justificação desde a eternidade, e
também é definida por alguns outros eruditos reformados. Este conceito se funda
nas seguintes base:
a. Com Sua obra expiatória, Cristo satisfez todas as
exigências da lei pelo Seu povo. Na ressurreição de Cristo dentre os mortos, o
Pai declarou publicamente que todas as condições da lei foram preenchidas para
todos os eleitos e, com isso, eles foram justificados. Mas aqui também se
requer uma distinção muito cuidadosa. Mesmo que seja verdade que houve uma
justificação objetiva de Cristo e de todo o corpo de Cristo em Sua
ressurreição, não se deve confundir isto com a justificação do pecador a que a
Bíblia se refere. Não é verdade que, quando Cristo prestou plena satisfação ao
Pai por todos os Seus, a culpa destes acabou naturalmente. O débito penal não é
como uma dívida pecuniária, neste sentido. Mesmo depois de pago o resgate, a
remoção da culpa pode depender de certas condições, e não ocorre como um
resultado liquido e certo. No sentido escriturístico, os eleitos não são
justificados enquanto não aceitam a Cristo pela fé, apropriando-se assim dos
Seus méritos.
b. Em Rm 4.25 lemos que Cristo “ressuscitou por causa da (dia,
causal) nossa justificação”, isto é, para efetuar a nossa justificação. Pois
bem, é indubitavelmente certo que dia com o acusativo é causal nesta passagem.
Ao mesmo tempo, não é necessariamente retrospectiva, mas também pode ser
retrospectiva e, daí, pode significar “com vistas à nossa justificação”, o que
equivale dizer: “ a fim de que pudéssemos ser justificados”. A interpretação
retrospectiva entraria em conflito com o contexto imediatamente subseqüente,
que mostra claramente: (1) que Paulo não está pensando na justificação objetiva
de todo o corpo de Cristo, mas na justificação pessoal dos pecadores; e (2) que
ele entende que isto se dá por meio da fé.
c. Em 2 Co 5.19 lemos: “Deus estava em Cristo, reconciliando
consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões”. Desta
passagem se deduz a inferência de que a reconciliação do mundo com Cristo
envolve a não imputação do pecado ao pecador. Mas esta interpretação não é
correta. O que o apostolo que dizer é, evidentemente: Deus estava em Cristo
reconciliando Consigo o mundo, como transparece no fato de que Ele não imputa
aos homens os seus pecados, e de que Ele confiou aos Seus servos a palavra da
reconciliação. Observe-se que me logizomenos (tempo presente) refere-se
a algo que está indo avante constantemente. Não se pode conceber que isto faz
parte da reconciliação objetiva, pois, neste caso, a clausula seguinte, “e nos
confiou a palavra da reconciliação”, também teria que ser interpretada assim, o
que é inteiramente impossível.
Com relação a esta matéria, pode-se dizer
que podemos falar de uma justificação do corpo global de Cristo em Sua
ressurreição, mas esta justificação é puramente objetiva, e não deve ser
confundida com a justificação pessoal do pecador.
(Teologia Sistemática –
Louis Berkhof Pg. 520)