(1) A Bíblia ensina uniformemente que a
justificação se dá pela fé ou é provinda da fé. Naturalmente, isto se aplica à
justificação passiva ou subjetiva, que, entretanto, não pode separar-se
cronologicamente da justificação ativa ou objetiva, exceto no caso das
crianças. Mas, se a justificação se realiza pela fé, certamente não precede à
fé, no sentido cronológico. Ora, é certo que os defensores da justificação
desde a eternidade também falam da justificação pela fé. Mas, na sua descrição
da matéria, isto só pode significar que, pela fé, o homem ganha consciência
daquilo que Deus fez na eternidade.
(2) Em Rm 8.29, 30, onde vemos alguns dos
degraus (scalae) da ordo salutis (ordem da salvação), a
justificação está entre dois atos de Deus realizados no tempo, quais sejam, a
vocação e a glorificação, sendo que esta começa no tempo e se completa na
eternidade futura. E estes três , juntos, resultam de outros dois que são
explicitamente indicados como eternos. O dr. Kuyper não tem base para dizer que
Rom 8.30 se refere àquilo que aconteceu com os regenerados antes de nascerem,
como até o dr. De Moor, que também acredita numa justificação desde a
eternidade, mostra-se disposto a admitir.[1]
(3) Ao ensinar-se a justificação desde a
eternidade, o decreto de Deus a respeito da justificação do pecador, que é um actus
immanens, é identificado com a própria justificação, que é um actus
transiens. Isto só leva a confusão. O que teve lugar no pactum salutis
(aliança da salvação) não pode ser identificado com o que disso resulta. Toda
imputação ainda não é justificação. A justificação é um dos frutos da obra
redentora de Cristo aplicada aos crentes pelo Espírito Santo. Mas o Espírito
não aplicou, nem poderia aplicar, este ou qualquer outro fruto da obra de
Cristo desde a eternidade.
(Teologia Sistemática –
Louis Berkhof Pg. 519)