A teologia “liberal”, com suas tendências
racionalizantes, faz várias objeções à doutrina da justificação como tal, as
quais merecem breve consideração.
1. Alguns, que ainda crêem na salvação pela
graça, opõem-se ostensivamente à justificação no interesse do reconhecimento da
graça de Deus. A justificação, dizem, é uma transação legal e, nesta qualidade,
exclui a graça, enquanto que a Bíblia ensina claramente que o pecador é salvo
pela graça. Facilmente se pode demonstrar, porém, que a justificação, com todos
os seus antecedentes e conseqüentes, é obra da graça de Deus. O substituto
concedido em lugar dos pecadores culpados, os sofrimentos e a obediência
vicários de Cristo, a imputação da Sua justiça a transgressores indignos, e o
fato de Deus tratar os crentes como justos – do começo ao fim, tudo é graça de
Deus.
2. Às vezes a justificação é tida como um
procedimento ímpio, porque declara, contrariamente aos fatos, que os pecadores
são justos. Mas esta objeção não pega, porque a declaração divina não é no
sentido de que estes pecadores são justos em si mesmos, mas que são revestidos
da justiça perfeita de Jesus Cristo. Esta justiça acionada por Cristo é-lhes
imputada gratuitamente. Mas não é a justiça subjetiva e pessoal de Cristo, e,
sim, a Sua justiça vicária e pactual, que é imputada a pessoas que em si mesmas
são injustas, e tudo para a glória de Deus.
3. Muitas vezes se diz que esta doutrina é
eticamente subversiva, porque leva à licenciosidade. Mas não há verdade nisso,
de modo nenhum, como as vidas dos próprios justificados mostram claramente. Na
justificação, lançam-se os firmes alicerces de daquela união vital e espiritual
com Cristo que assegura a nossa santificação. Ela realmente conduz às únicas
condições nas quais podemos ser verdadeiramente santos, em princípio. O homem
que é justificado recebe também o espírito da santificação, e é o único tipo de
homem que pode transbordar de boas obras que glorificam a Deus.
(Teologia Sistemática – Louis
Berkhof Pg. 526)