Da seção anterior transparece que a
expressão “união mística” pode ser, e freqüentemente é, empregada num sentido
amplo, incluindo os vários aspectos (legal, objetivo, subjetivo) da união entre
Cristo e os crentes. Mais geralmente, porém, ela indica unicamente o aspecto
máximo dessa união, a saber, a sua realização subjetiva pela operação do
Espírito Santo, e, naturalmente, é este aspecto que está no primeiro plano da
soteriologia. Tudo que se diz no restante deste capítulo apóia-se nesta união subjetiva.
As principais características desta união são as seguintes:
1. É UMA UNIÃO ORGÂNICA. Cristo e os
crentes formam um corpo. O caráter orgânico desta união é ensinado claramente
em passagens como Jo 15.5; 1 Co 6.15-19; Ef 1.22, 23; 4.15; 5.29, 30. Nesta
união orgânica Cristo atende aos crentes, e os crentes atendem a Cristo. Cada
parte do corpo serve a cada uma das outras partes e por estas é servido, e
juntas são subservientes ao todo numa união que é indissolúvel.
2. É UMA UNIÃO VITAL. Nesta união,
Cristo é o princípio vitalizador e dominante de todo o corpo de crentes. Não é
outra coisa senão a vida de Cristo que habita e anima os crentes, de sorte que,
para falar em consonância com Paulo, Cristo é “formado” neles, Gl 4.19. Por ela
Cristo vem a ser o princípio formativo da vida deles, e a conduz numa direção
que vai rumo a Deus, Rm 8.10; 2 Co 13.5; Gl 4.19,20.
3. É UMA UNIÃO MEDIADA PELO ESPÍRITO
SANTO. O Espírito Santo foi, numa capacidade especial, uma parte da recompensa
dada ao Mediador e, como tal, foi derramado no dia de Pentecoste para a
formação do corpo espiritual de Jesus Cristo. Mediante o Espírito Santo, Cristo
agora habita nos crentes, une-os a Si e os entrelaça numa unidade santa, 1 Co
6.17; 12.13; 2 Co 3.17, 18; Gl 3.2, 3.
4. É UMA UNIÃO QUE IMPLICA AÇÃO
RECÍPROCA. O ato inicial é de Cristo, que une os crentes a Si regenerando-os e,
deste modo, produzindo fé no interior deles. Por outro lado, o crente se une
também a Cristo por um ato consciente de fé e dá continuidade a essa união, sob
a influência do Espírito Santo, pelo constante exercício da fé, Jo 14.23;
15.4,5; Gl 2.20; Ef 3.17.
5. É UMA UNIÃO PESSOAL. Todo crente
está unido pessoal e diretamente a Cristo. A idéia de que a vida que há na
igreja mediante Cristo dimana da igreja para o crente individual é
decididamente antibíblica, não somente em sua forma sacramentalista, mas também
em sua forma panteísta (Roma, Schleiermacher e muitos teólogos modernos).
Quando da regeneração de cada pecador, este é diretamente ligado a Cristo e recebe
dele a sua vida. Conseqüentemente, a Bíblia sempre dá ênfase ao vínculo do
crente com Cristo, Jo 14.20; 15.1-7; 2 Co 5.17; Gl 2.20; Ef 3.17, 18.
6. É UMA UNIÃO TRANSFORMADORA. Por
esta união os crentes são transformados à imagem de Cristo, segundo a Sua
natureza humana. O que Cristo efetua em Seu povo é, num sentido, uma
réplica ou reprodução daquilo que se deu com Ele. Não somente objetivamente,
mas também num sentido subjetivo, eles sofrem, levam a cruz, são crucificados,
morrem e ressuscitam em novidade de vida, com Cristo. Em certa medida, eles
participam das experiências do seu Senhor, Mt 16.24; Rm 6.5; Gl 2.20; Cl 1.24;
2.12; 3.1; 1 Pe 4.13.
(Teologia Sistemática – Louis Berkhof.
Pg. 447)