quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Características da União Mística

Da seção anterior transparece que a expressão “união mística” pode ser, e freqüentemente é, empregada num sentido amplo, incluindo os vários aspectos (legal, objetivo, subjetivo) da união entre Cristo e os crentes. Mais geralmente, porém, ela indica unicamente o aspecto máximo dessa união, a saber, a sua realização subjetiva pela operação do Espírito Santo, e, naturalmente, é este aspecto que está no primeiro plano da soteriologia. Tudo que se diz no restante deste capítulo apóia-se nesta união subjetiva. As principais características desta união são as seguintes:

1. É UMA UNIÃO ORGÂNICA. Cristo e os crentes formam um corpo. O caráter orgânico desta união é ensinado claramente em passagens como Jo 15.5; 1 Co 6.15-19; Ef 1.22, 23; 4.15; 5.29, 30. Nesta união orgânica Cristo atende aos crentes, e os crentes atendem a Cristo. Cada parte do corpo serve a cada uma das outras partes e por estas é servido, e juntas são subservientes ao todo numa união que é indissolúvel.

2. É UMA UNIÃO VITAL. Nesta união, Cristo é o princípio vitalizador e dominante de todo o corpo de crentes. Não é outra coisa senão a vida de Cristo que habita e anima os crentes, de sorte que, para falar em consonância com Paulo, Cristo é “formado” neles, Gl 4.19. Por ela Cristo vem a ser o princípio formativo da vida deles, e a conduz numa direção que vai rumo a Deus, Rm 8.10; 2 Co 13.5; Gl 4.19,20.

3. É UMA UNIÃO MEDIADA PELO ESPÍRITO SANTO. O Espírito Santo foi, numa capacidade especial, uma parte da recompensa dada ao Mediador e, como tal, foi derramado no dia de Pentecoste para a formação do corpo espiritual de Jesus Cristo. Mediante o Espírito Santo, Cristo agora habita nos crentes, une-os a Si e os entrelaça numa unidade santa, 1 Co 6.17; 12.13; 2 Co 3.17, 18; Gl 3.2, 3.

4. É UMA UNIÃO QUE IMPLICA AÇÃO RECÍPROCA. O ato inicial é de Cristo, que une os crentes a Si regenerando-os e, deste modo, produzindo fé no interior deles. Por outro lado, o crente se une também a Cristo por um ato consciente de fé e dá continuidade a essa união, sob a influência do Espírito Santo, pelo constante exercício da fé, Jo 14.23; 15.4,5; Gl 2.20; Ef 3.17.

5. É UMA UNIÃO PESSOAL. Todo crente está unido pessoal e diretamente a Cristo. A idéia de que a vida que há na igreja mediante Cristo dimana da igreja para o crente individual é decididamente antibíblica, não somente em sua forma sacramentalista, mas também em sua forma panteísta (Roma, Schleiermacher e muitos teólogos modernos). Quando da regeneração de cada pecador, este é diretamente ligado a Cristo e recebe dele a sua vida. Conseqüentemente, a Bíblia sempre dá ênfase ao vínculo do crente com Cristo, Jo 14.20; 15.1-7; 2 Co 5.17; Gl 2.20; Ef 3.17, 18.

6. É UMA UNIÃO TRANSFORMADORA. Por esta união os crentes são transformados à imagem de Cristo, segundo a Sua natureza humana. O que Cristo efetua em Seu povo é, num sentido, uma réplica ou reprodução daquilo que se deu com Ele. Não somente objetivamente, mas também num sentido subjetivo, eles sofrem, levam a cruz, são crucificados, morrem e ressuscitam em novidade de vida, com Cristo. Em certa medida, eles participam das experiências do seu Senhor, Mt 16.24; Rm 6.5; Gl 2.20; Cl 1.24; 2.12; 3.1; 1 Pe 4.13.

(Teologia Sistemática – Louis Berkhof. Pg. 447)